60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 4. Odontologia - 5. Odontologia Social e Preventiva

ANÁLISE DA CONDIÇÃO DE SAÚDE BUCAL EM CRIANÇAS DE 6 MESES A 5 ANOS COM ANEMIA FALCIFORME NO ESTADO DA BAHIA.

Dayane Araújo de Almeida1, 2
Thaís Regis Aranha Rossi1, 2
Henrique Sant´Anna Dias1, 2
Maria Goretti da silva Brito1, 4
Maria Isabel Pereira Vianna1, 3
Maria Cristina Teixeira Cangussu1, 3

1. Universidade Federal da Bahia/ UFBA
2. Graduando (a)
3. Profa. Dra. - Departamento de Odontologia Social e Pediátrica
4. Profa. Ms. - Departamento de Odontologia Social e Pediátrica


INTRODUÇÃO:
A anemia falciforme é a mais conhecida de hemoglobinopatia e a mais prevalente no Brasil (PINHEIRO et al 2006, MOREIRA 2007). A etiologia decorre da mutação no gene da globina beta, responsável por modificações da estabilidade e solubilidade moleculares e falcização dos eritrócitos quando expostos à baixa tensão de oxigênio, acidose ou desidratação (NAUOM 2000). No nível circulatório, a alteração de plasticidade das hemácias dificulta a transposição do diâmetro dos capilares na microcirculação, além de promover uma maior adesão do eritrócito às células endoteliais. Os tecidos mal perfundidos sofrem infartos com necrose e formação de fibrose (GALIZA NETO e PITOMBEIRA 2003) e tem repercussões orais - palidez da mucosa, erupção dental tardia, hipoplasia dental e má oclusão. Podem ocorrer também a necrose pulpar assintomática e calcificações em dentes hígidos (LELLEHER et al 1996), além da osteomielite e parestesia do nervo mandibular (KAVADIA-TSATALA et al 2004). Algumas crianças apresentam glossite, caracterizada pela língua lisa, descorada e despapilada (BRASIL 2005). O objetivo do trabalho foi descrever as condições orais de crianças de 6 meses a 5 anos com anemia falciforme no estado da Bahia no ano de 2007 e associar às condições encontradas em relação à condição falciforme.

METODOLOGIA:
Desenvolveu-se um estudo transversal entre agosto e dezembro de 2007 e a população de estudo foram todas as crianças que demandaram o centro de referência estadual da Bahia (APAE- Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais em Salvador-BA) para diagnóstico e acompanhamento. Os pais foram informados do estudo e após assinar o termo de consentimento livre e esclarecido responderam entrevista sobre o contexto familiar, qualidade de vida, dados sócio-demográficos e comportamentais. Procedeu-se a avaliação das condições de saúde bucal das crianças segundo critérios da OMS (1997) para cárie dentária e sangramento gengival. A má-oclusão foi registrada a partir das alterações morfológicas dos arcos dentários e a lesão de mucosa oral a partir da sua descrição. Realizou-se a análise descritiva das variáveis obtendo-se as freqüências simples para as variáveis categoriais e as medidas de tendência central e de dispersão para as contínuas. Exploratoriamente foram obtidas as prevalências dos efeitos de acordo com covariáveis selecionadas, analisando-se as diferenças entre HBSS/HBSC e outras através do teste do Chi quadrado. Este protocolo da pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Maternidade Climério de Oliveira-UFBA e pelo Comitê da própria Instituição.

RESULTADOS:
Foram avaliadas 394 crianças, sendo 50,6% do sexo masculino, com média de idade de 25,9 meses. A média de idade das mães foi de 28 anos e a renda familiar de 2 salários mínimos. Do total de crianças, 40,1% eram HBSS e 44,2% HBSC, ocorrendo casos de ocorrência conjunta de talassemia em 5,8% dos casos. 50% das crianças apresentam crises de dor, 39,18% já tiveram episódio de internação e 19,01% já se submeteram a transfusão sanguínea. Destas 94,85% mamam no peito e somente 5,93% fazem a limpeza da cavidade oral. 73,2% das mães assumem o cuidado integral da criança.O ceo-d do grupo foi 2,33, sendo que 2,05 para HBSC, com 75,86% das crianças livres de cárie e 3,16, com 69,62% livres da doença para HBSS, diferença não estatisticamente significante (p=0,25). Observa-se com o incremento da idade (≤18 meses/18 meses e mais) o dobro da experiência de cárie- 17,34% e 34,84% (p=0,000). Não houve diferenças entre os grupos de condição falciforme e de idade para presença de sangramento gengival, que foi alta em ambos- aproximadamente 40%, assim como a presença de placa bacteriana- 58,77%. A prevalência de lesão de mucosa foi de 6,4%, predominando a glossite, positivamente associada com a maior severidade dos casos (p<0,05). Do total de crianças 18,65% apresentam mordida aberta anterior.

CONCLUSÕES:
As condições orais das crianças com anemia falciforme atendidas na APAE-Salvador são insatisfatórias . Ressalta-se a importância da participação do cirurgião- dentista na equipe multiprofissional de atenção ao doente falciforme porque, além das bacteremias, o próprio estresse físico que ocorre durante o tratamento odontológico pode desencadear crises falcêmicas. Assim, o profissional deve prezar pela qualidade de vida desses pacientes durante o atendimento, na tentativa de prevenir doenças e não intensificar as condições clínicas.

Instituição de fomento: Edital universal PPSUS /BA 2007, CNPq, FAPESB

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Anemia Falciforme, Condições de Saúde Bucal, Epidemiologia

E-mail para contato: dayalmeid@gmail.com