60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 4. Odontologia - 2. Clínica Odontológica

O PAPEL DO ESTRESSE NAS VARIAÇÕES DO FLUXO SALIVAR DE PACIENTES INFECTADOS E NÃO INFECTADOS PELO HIV

Ana Catarina Rodrigues da Silva1
Deborah Katarine Santana de Medeiros1
Sonia Maria Soares Ferreira1
Eduardo Bauml Campagnoli1

1. Fundação Educacional Jayme de Altavila / Centro de Estudos Superiores de Maceió


INTRODUÇÃO:
A compreensão do mecanismo pelo quais as doenças oportunistas ocorrem em pacientes infectados pelo HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) tem sido objeto de várias pesquisas. A baixa de imunidade (decorrente da infecção) e/ou a diminuição do fluxo salivar podem contribuir de maneira significativa para o aparecimento de lesões bucais. Uma vez que estudos que avaliaram o fluxo salivar de pacientes infectados não têm sido conclusivos, é necessário realizar estudos que possam contribuir para o entendimento das enfermidades bucais que acometem estes pacientes. Vários estudos têm correlacionado os níveis de estresse/ansiedade e a presença de cortisol. Desta forma, este estudo se propõe a avaliar o papel do estresse nas variações do fluxo salivar de pacientes infectados e não infectados pelo HIV. Para determinar esta influência, analisamos taxa de fluxo salivar, e duas medidas de avaliação do estresse (nível plasmático de cortisol (fisiológica) e questionário de estresse percebido (psicológica)). Bem como, se pacientes infectados apresentavam alteração de função de glândula salivar em comparação com pacientes testados negativos. Estas alterações foram avaliadas quantitativamente (taxa de fluxo salivar) e qualitativamente (avaliação de questionário sobre queixas associadas à xerostomia).

METODOLOGIA:
A Pesquisa foi realizada no posto de atendimento médico do Município de Maceió (PAM Salgadinho). Os sujeitos da pesquisa, 20 infectados pelo HIV e 36 não infectados, responderam a um questionário que constou das seguintes variáveis: sexo, idade, uso e tipo de medicamento, uso de prótese dentária, queixa de xerostomia e presença ou não de doença sistêmica; Questionário de Estresse Percebido (QEP); fluxo salivar, e Cortisol sangüíneo foram também avaliados. Os dados das variáveis foram analisados através do software SPSS 11. O teste de correlação de Spearman foi utilizado para verificar se existia diferença significativa entre as variáveis contínuas. O teste de Mann-Whitney foi utilizado para verificar associações entre todas as variáveis numéricas e dicotômicas; o teste do qui-quadrado para testar associações entre as variáveis dicotômicas. Freqüência simples foi calculada para cada variável isoladamente, bem como as estatísticas de média e mediana das variáveis contínuas. Para melhor exploração dos dados, transformamos a variável fluxo salivar numa variável dicotômica (pacientes com ou sem hipossalivação), e testamos as associações entre esta e as outras variáveis com o teste de Mann-Whitney. O nível de significância para todos os testes foi de 0,05%.

RESULTADOS:
Dos pacientes, 37 foram do gênero feminino e 19 do gênero masculino. A idade variou de 19 a 60 anos, mediana de 33 anos ± 10,7. E 64,3% relataram pelo menos um sintoma associado à xerostomia. Pacientes infectados tinham mais queixa de xerostomia (p=0,060). O fluxo salivar (FS) variou de 0,1 a 2,2: mediana de 0,1 ± 0,5. Maior freqüência de hipossalivação nos indivíduos não-infectados como encontrada por Barros et al, (2006) não foi observada neste estudo. Quando se comparou, indivíduos infectados e não-infectados, foi verificado que pacientes infectados foram significativamente mais velhos (p=0,004), usavam medicamentos mais freqüentemente (p=0,002), e relataram mais dificuldade de sentir o sabor dos alimentos (p=0,004). Semelhante a Torres et al,(2006) e Barros et al (2006), não foi observada diferença significativa entre idade e FS. No presente estudo, os indivíduos que relataram sensação de boca seca tinham significativamente uma taxa de FS menor. Achados são semelhantes aos estudos de Torres et al,(2006); Barros et al, (2006) e Thomson, (1999). Pacientes não infectados apresentavam níveis de cortisol (p=0,02). Hipossalivação e Xerostomia não estavam associadas com cortisol e QEP, quando avaliados para o total de pacientes e separadamente por grupo (p>0,05).

CONCLUSÕES:
Pacientes não infectados apresentaram níveis de cortisol significativamente maiores demonstrando um maior nível de estresse nestes pacientes. O fato de trabalhar com o Centro de Testagem e Aconselhamento nos dá a oportunidade única de estudar um grupo de pacientes comprovadamente negativos. Por outro lado, a ansiedade gerada pela possibilidade de revelação do estado de portador de uma doença sexualmente transmissível e, principalmente, a possibilidade de ter infecção pelo HIV, pode aumentar o nível de estresse, como evidenciado neste estudo. Este estudo também tem implicações práticas como a de que o profissional de saúde deve ter a consciência que pacientes podem ter hipossalivação sem ter queixa de xerostomia tornando-se necessário realizar a sialometria rotineiramente na avaliação destes pacientes. Hipossalivação e Xerostomia não estavam associadas com cortisol e QEP, quando avaliados para o total de pacientes e separadamente por grupo. Pacientes infectados pelo HIV tinham mais hipossalivação e xerostomia mas esta diferença não foi estatisticamente significativa. Segundo Bergdahl & Bergdahl, (2000) embora não possamos rotular um paciente com hipossalivação/xerostomia como tendo uma desordem afetiva, é importante compreender que estas desordens podem estar associadas.

Instituição de fomento: Fundação Educacional Jayme de Altavila / Centro de Estudos Superiores de Maceió/Faculdade de Ciências biológicas e da Saúde

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Cortisol, Hipossalivação, Estresse

E-mail para contato: anacatarinars@hotmail.com