60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada

AVALIAÇÃO DA BIODEGRADABILIDADE DO BIODIESEL EM SOLO

Denise Vazquez MANFIO1
Gilberto De–ALMEIDA1
Cassiana Maria REGANHAN–CONEGLIAN1

1. Divisão de TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL/ CESET - UNICAMP


INTRODUÇÃO:
O uso de fontes de energia renováveis é a saída para se alcançar uma sustentabilidade ambiental. Dentre elas, está o uso e desenvolvimento de biodiesel. A produção brasileira é incipiente comparada à internacional, porém órgãos governamentais recomendam a mistura de biodiesel no óleo diesel de petróleo. É de vital importância avaliar os impactos ambientais gerados pelas atividades antrópicas, como a biodegradabilidade (tempo de biodegradação e formação de produtos intermediários). Os resíduos de tais atividades, uma vez introduzidos no ambiente podem se tornar poluentes caso determinem-se efeitos indesejáveis pela sua toxicidade e concentração, dependentes da distribuição e transformação nos diferentes compartimentos dos ecossistemas. O comportamento da respiração do solo é considerado como um indicador da sua atividade microbiana, bem como do efeito da toxicidade da biodegradação de compostos orgânicos adicionados ao solo. Este comportamento pode ser avaliado através da medida de CO2 produzido durante a biodegradação dos compostos orgânicos. O objetivo do trabalho foi avaliar a biodegradabilidade do biodiesel produzido a partir de gordura animal no solo e a biodegradabilidade da mistura de biodiesel + diesel de petróleo, por meio da respirometria, avaliando-se a produção de CO2.

METODOLOGIA:
Na avaliação da biodegradação do biodiesel e da mistura de biodiesel + diesel, utilizou-se o método respirométrico de Bartha, segundo (CETESB,1990). Para o ensaio foi utilizado 50 g de solo para cada respirômetro, sendo adicionado ao mesmo biodiesel nas taxas 2, 5 e 10%, em duplicata para cada taxa, o mesmo foi realizado para a mistura. O solo utilizado nos experimentos foi coletado no campus Ceset/ Unicamp, local de pouco impacto e sem histórico de aplicação de resíduos. Na mistura de biodiesel + diesel, utilizou-se a porcentagem de 20 e 80%, respectivamente, aplicado no solo. Definiu-se solo controle aquele sem aplicação de resíduo. A caracterização granulométrica do solo foi de acordo com ABNT NBR NM 248(2003). Avaliou-se o crescimento microbiano na presença do biodiesel e da mistura utilizando o meio PCA para crescimento de bactérias heterotróficas e o meio Sabouraud para o crescimento de fungos, avaliados em Unidades Formadoras de Colônias por grama de solo (UFC/g). Efetuou-se a avaliação da toxicidade aguda, utilizando o organismo teste Daphnia similis de acordo com CETESB (1994) nas taxas 2, 5 e 10% nas concentrações 100; 50; 10; 1 e 0,1% para biodiesel e para a mistura, ambos aplicados no solo, utilizando 5 organismos por recipiente, em triplicata para cada concentração.

RESULTADOS:
A caracterização granulométrica do solo indicou que o mesmo tem uma composição de 55% de areia, 11% de silte e 34% de argila, sendo classificado como areia argilo-siltosa. Na quantificação da microbiota do solo, evidenciou-se maior crescimento de microrganismos no solo controle, tanto para bactérias quanto para fungos. Na aplicação de biodiesel obteve-se 3,7 x 106 UFC/g de solo para bactérias e 9,0 x 103 UFC/g de solo para população de fungos. Quando avaliou-se a mistura do biodiesel + diesel obteve-se 2,8 x 103 para bactérias e 2,1 x 102 para fungos. Os resultados obtidos no teste de toxicidade nas taxas de 2, 5 e 10% de biodiesel mostram EC 50 de 24,1; 9,7; e 8,6%, respectivamente. Na avaliação da mistura biodiesel + diesel obteve-se EC50 de 1,8% na taxa de 2%, para as taxas de 5 e 10% houve morte de todos os organismos. Apesar da elevada toxicidade do biodiesel, a mistura de biodiesel + diesel apresentou maior toxicidade e menor crescimento microbiano quando comparada ao biodiesel. Esses resultados podem justificar a baixa biodegradação do biodiesel, apesar da ampla capacidade de microrganismos de degradar os xenobióticos, muitos desses compostos são recalcitrantes, ou seja, resistem a decomposição no solo ou apresentam taxa de decomposição muito lenta.

CONCLUSÕES:
Apesar do solo ser considerado um meio com ampla capacidade de biodegradação, na amostra avaliada, tanto o biodiesel quanto a mistura de biodiesel + diesel se mostraram muito tóxicas, inibindo o crescimento microbiano e conseqüentemente, sua degradação no solo. No entanto, o biodiesel apresentou níveis de toxicidade mais baixos do que a mistura contendo óleo diesel de petróleo.



Palavras-chave:  biodiesel, biodegradabilidade, toxicidade

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