60ª Reunião Anual da SBPC




A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 2. Química Ambiental

ANÁLISE DE BISFENOL A POR CG-EM EM ÁGUAS NATURAIS

Marcia Helena de Rizzo da Matta1, 2
Luiz Antonio Costa2
Émerson Montagner1, 3
Alecsandra Leite Pereira1
Mayara Lutz de Matos1

1. Departamento de Química – DQI / UFMS
2. Departamento de Hidráulica e Transportes – DHT / UFMS
3. Instituto de Química – IQ-CAr / UNESP


INTRODUÇÃO:
O Bisfenol A (BFA) é um monômero, formado por dois anéis fenólicos, empregado na produção de plástico policarbonato e resinas epóxi, os quais são empregados na fabricação de vários produtos dos meios digitais (CDs e DVDs), recipientes de alimentos e bebidas, circuitos elétricos, pinturas, adesivos, revestimentos protetores de latas de alimentos e bebidas, complexos dentários para obturações e muitos outros produtos. Estudos revelaram que o BFA age nos organismos vivos como um interferente endócrino, provocando aumento da incidência de câncer de mama, queda da quantidade de esperma, diminuição da fertilidade, defeitos congênitos secundários à exposição fetal e outras alterações. O BFA chega ao ambiente aquático por inúmeras vias distintas como, por exemplo, vindo do lodo proveniente de esgoto, da descarga de esgotos domésticos e industriais, dos lixões e aterros sanitários. Apesar de o BFA ser degradado nos rios por bactérias, a sua meia-vida média calculada, de 3-5 dias, pode ser longa o suficiente para provocar efeitos nos organismos aquáticos. Levando-se em consideração os efeitos do BFA à saúde humana e ao meio ambiente, o trabalho teve como objetivo desenvolver e validar um método analítico para detecção e quantificação do BFA em águas naturais por CG-EM.

METODOLOGIA:
Amostras de água, previamente tratadas com carvão ativado, foram utilizadas no desenvolvimento e validação da metodologia analítica. O tratamento com carvão ativado foi necessário, pois todas as amostras de água, coletadas e que seriam fortificadas para realização dos ensaios de recuperação, apresentaram traços de BFA. O BFA foi extraído pela passagem de 500 mL de água, previamente filtrada, em cartucho de extração em fase sólida (EFS) Strata X (200 mg/3mL) da Phenomenex. Os cartuchos foram condicionados com adição seqüencial de 5,0 mL de acetato de etila; 5,0 mL de metanol; 15,0 mL de água tratada com carvão ativado. A amostra foi lavada com 10,0 mL de solução água:metanol 9:1 (v/v) e eluída com 4,0 mL de metanol, seca sob fluxo de nitrogênio e derivada com anidrido trifluoroacético (TFAA). Após a derivação as amostras foram secas novamente sob fluxo de nitrogênio, retomadas a 1,0 mL com hexano e levadas para análise cromatográfica. As análises foram efetuadas em Cromatógrafo a Gás de Alta Resolução GC 37A acoplado a Espectrômetro de Massas QP-5000 (Shimadzu), equipado com uma coluna capilar WCOT de sílica fundida, CP-Sil 13CB (50 m x 0,32 mm x 0,4 m) da Varian. O volume de injeção foi de 1,0 L no modo sem divisão (splitless).

RESULTADOS:
Os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) foram obtidos pela relação sinal:ruído de 3:1 para LD e 10:1 para LQ. Os LD e LQ do método para o BFA foram 3,0 e 10,0 pg ml-1, respectivamente. A faixa linear de trabalho variou de 10,0 pg ml-1 a 100,0 pg ml-1, tendo uma excelente linearidade nessa faixa (R = 0,99954) e grande sensibilidade. Os ensaios de recuperação foram efetuados para verificar a precisão e a exatidão do método. Para isso foram realizadas fortificações em triplicata em três níveis de concentração. As recuperações foram: 83, 93 e 105% para amostras fortificadas com 10,0, 30,0 e 50,0 pg ml-1, respectivamente. Os coeficientes de variação (CV) foram inferiores a 7,1%. Sendo assim o método é considerado exato, pois todas as recuperações estão dentro da faixa recomendada pela literatura (70 – 120%), e preciso, pois os CV encontrados são inferiores a 20%. O método desenvolvido e validado foi empregado na análise de amostras coletadas no Lago do Amor e Córrego Cabaças, situados na zona urbana da cidade de Campo Grande – MS. Foram encontrados 22,0 pg ml-1 de BFA no Lago do Amor e 26,0 pg ml-1 de BFA no Córrego Cabaças, níveis suficientes para provocar efeitos nocivos aos seres vivos presentes nestes locais.

CONCLUSÕES:
O método desenvolvido e validado mostrou-se adequado e relativamente rápido, nas análises de BFA em águas naturais. O processo de derivação com TFAA, embora acrescentasse novas etapas ao método, mostrou-se muito vantajoso apresentando melhores resultados nas análises em comparação com análises efetuadas sem a derivação do BFA. Foram obtidos bons LQ e LD e a linearidade obtida foi excelente, apresentando valor do coeficiente de correlação maior que 0,99. O método proposto foi considerado seletivo, preciso e exato, haja vista as recuperações terem encontrado-se dentro da faixa de 70 – 120% e os valores de CV, foram bem inferiores aos 20% recomendados pela literatura. Por esses resultados obtidos conclui-se que a metodologia proposta pode ser utilizada em análises de monitoramento de BFA em águas naturais, com alto grau de confiabilidade.Pela importância que representa o potencial de efeitos deletérios para a saúde humana a presença desse composto (BFA) no meio ambiente e nas águas em particular, recomenda-se que estudos de monitoramento sejam realizados nas águas naturais de Campo Grande - MS, principalmente nas proximidades das captações de água, nos mananciais para o abastecimento da população.

Instituição de fomento: CAPES, CNPq, PROPP/UFMS e IQ-CAr/UNESP



Palavras-chave:  Bisfenol A, Águas naturais, CG-EM

E-mail para contato: marciaufms@gmail.com