60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia

COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E ESTRUTURA FITOSSOCIOLÓGICA EM TRECHOS DE FLORESTA OMBRÓFILA DENSA NA MATA ATLÂNTICA DE ENCOSTA DO SUDESTE BRASILEIRO (PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR, FAZENDA CAPRICÓRNIO, UBATUBA – SP).

José Ataliba Mantelli Aboin Gomes1, 3
Eliana Ramos1, 4
André Luis Casarin Rochelle2, 5
Roseli Buzanelli Torres1, 6
Fernando Roberto Martins2, 6
Luís Carlos Bernacci1, 6

1. 1. Núcleo de Pesquisas de Desenvolvimento Jardim Botânico / IAC
2. 2. Departamento de Botânica / UNICAMP
3. 3. Biólogo, Bolsista Treinamento Técnico
4. 4. Mestre, Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical
5. 5. Biólogo, Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal/ UNICAMP
6. 6. Dr. / Orientador


INTRODUÇÃO:
A Região Fito-Ecológica da Floresta Ombrófila Densa (FOD) Atlântica, pode ser dividida em quatro formações, de acordo com as variações altimétricas entre as latitudes de 16º e 24º S: FOD das Terras Baixas, em altitudes variando de 5 a 50 m, sobre solo de restinga; FOD Submontana, com altitudes variando entre 50 e 500 m, no sopé e meia encosta da Serra do Mar; FOD Montana, entre 500 a 1.200 m, recobrindo a encosta propriamente dita e FOD Altimontana, no topo da serra, entre 1.200 e 1.400 m de altitude (onde a vegetação praticamente deixa de ser arbórea, predominando os campos de altitude e afloramentos rochosos). Fazendo parte do projeto “Composição florística, estrutura e funcionamento da Floresta Ombrófila Densa dos Núcleos Picinguaba e Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar” (FAPESP 03/12595-7), o presente estudo tem por objetivo conhecer a composição florística e a estrutura fitossociológica de cinco áreas da FOD Submontana em diferentes cotas altitudinais, contribuindo para investigar se composição florística e a estrutura do componente arbóreo variam com a altitude e se a FOD Atlântica da porção nordeste do estado de São Paulo é significativamente distinta daquela encontrada no Vale do Ribeira, bem como os possíveis fatores que influenciam as diferenças.

METODOLOGIA:
As áreas amostradas estão situadas no Núcleo Picinguaba - Parque Estadual da Serra do Mar, município de Ubatuba (SP). O clima regional é tropical chuvoso (Af de Köppen), com precipitação média anual de 2.200 mm, sem estação seca. Fevereiro é o mês mais quente (média mensal de 30,4º C) e julho, o mais frio (média mensal de 12,6º C). Cada área amostrada tem 1 ha (100 x 100 m, dividido em parcelas de 10 x 10 m), dista cerca de 200 m uma da outra, nas altitudes entre 85 e 122 m (área F); 175 e 197 m (área G); 200 e 216 m (área H); 325 e 374 m (área I) e 348 a 395 m (área J). Amostramos todos os indivíduos, inclusive fetos arborescentes, palmeiras e indivíduos mortos, com DAP (diâmetro ao nível do peito) > 4,8 cm. A coleta e o processamento dos materiais seguiram os padrões usuais. Os materiais estão sendo incorporados ao acervo dos herbários IAC, UEC, HRCB, SP e SPSF. A identificação das espécies foi padronizada para o conjunto dos dados e estão distribuídas nas famílias de acordo com APG II. Calculamos os parâmetros descritores fitossociológicos com o programa FITOPAC: densidade, freqüência, dominância, valor de cobertura (VC) e de importância (VI) e índice de diversidade de Shannon (H), para as espécies e famílias.

RESULTADOS:
Os resultados obtidos até o momento indicam uma riqueza total de 358 espécies, das quais 282 estão claramente delimitadas. Essas espécies estão distribuídas em 147 gêneros e 52 famílias. As áreas, em ordem decrescente de riqueza, são: J (206 espécies), I (201 espécies, preliminarmente), G (147), H (143, preliminarmente) e F (105 espécies). O índice de diversidade de Shannon (H) atingiu 4,48 nats/indivíduos na área J; 4,32 na I; 3,94 na H; 3,92 na G e 3,58 nats/indivíduo na área F. Myrtaceae apresentou a maior riqueza em todas as áreas, representando entre 16,1% (área F) e 25% (área H) das espécies. Rubiaceae foi a mais abundante, representando entre 18,44% (área J) e 28,79% (área G) dos indivíduos. A densidade variou entre 1.379 (área F) e 1.997 indivíduos/ha (área I) e a área basal entre 26,63m2/ha e 44,13m2/ha (nas mesmas áreas). Os maiores valores de importância foram devidos às espécies de Rubiaceae Bathysa australis (área F), Rudgea jasmineoides (G e H) e B. mendoncaei (I), e à palmeira Euterpe edulis (área J), que ocorreu com alta densidade em todas as áreas, exceto na F, onde a exploração seletiva foi intensa. Inversamente, o samambaiuçu, Alsophila sternbergii, foi notavelmente mais abundante na área F, ocorrendo com pouca representatividade nas demais.

CONCLUSÕES:
Apoiando as conclusões de outros autores, nossos dados indicam maiores riqueza, diversidade e área basal na área da floresta de encosta a cerca de 300 m de altitude. As diferenças florísticas são evidentes entre as áreas da floresta nas diferentes cotas altitudinais, apesar de as famílias mais representativas serem as mesmas. As diferenças entre as áreas corroboram as informações sobre a grande diversidade florística e estrutural da Mata Atlântica na encosta da Serra do Mar, fortalecendo a necessidade da proteção de grandes áreas contínuas para garantir a preservação da biodiversidade nativa. O conhecimento da composição florística e da estrutura fitossociológica da FOD Submontana Atlântica servirá como referência para outros estudos realizados no âmbito do projeto temático e sua finalização permitirá que a classificação da fisionomia FOD seja analisada e contrastada com a classificação adotada atualmente.

Instituição de fomento: Financiada pelo Programa BIOTA/FAPESP, Projeto Temático Gradiente Funcional (03/12595-7). Autorização COTEC/IF 41.065/2005 e IBAMA/CGEN 093/2005.



Palavras-chave:  vegetação nativa,, biodiversidade,, gradiente altitudinal.

E-mail para contato: joseataliba@yahoo.com.br