60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 1. Anatomia Vegetal

ANATOMIA FOLIAR DE CROTON GOYAZENSIS MULL. ARG. (EUPHORBIACEAE)

MISLÉIA RODRIGUES DE AGUIAR GOMES1
LORRAINE LEITE ZANELA1
PEDRO ÍTALO TANNO DA SILVA1
SÔNIA NAIR BÁO1
SUZANE MARGARET FANK-DE-CARVALHO3

1. Laboratório de Microscopia Eletrônica – Universidade de Brasília/UnB
3. PG. de Biologia Celular e Estrutural – Universidade Estadual de Campinas


INTRODUÇÃO:
A família Euphorbiaceae é formada por árvores, arbustos, ervas e trepadeiras. Conta com cerca de 6.900 espécies e 307 gêneros e seus maiores centros de dispersão são as Américas e a África. Representantes conhecidos da família são a seringueira, a mamona, o quebra-pedras e a coroa-de-cristo. O gênero Croton, com cerca de 800 espécies, é pouco estudado em relação à anatomia foliar de suas espécies. Há espécies desse gênero, naturais do Cerrado, que são usadas pela medicina popular (por exemplo, Croton antisyphiliticus - canela-de-perdiz). Em Croton spp. os tipos de tricomas têm sido utilizados para caracterizar espécies e taxa supra-específicos. A espécie Croton goyazensis Müll. Arg., da secção Ocalia, é um subarbusto bastante freqüente nas áreas de Cerrado sensu stricto, constando de diversas listas de distribuição de espécies no Distrito Federal (Jardim Botânico, IBGE, Centro Olímpico). Possui folhas alternas de margens crenadas, com indumento acinzentado abaxial e exsudado incolor, que se torna amarelado ao ser exposto ao ambiente. É conhecida como alcanforeira, erva-curraleira ou pé-de-perdiz. As folhas da espécie já foram analisadas sob microscopia eletrônica de varredura e este estudo objetiva ampliar o conhecimento da espécie, descrevendo a anatomia básica das folhas.

METODOLOGIA:
Folhas de C. goyazensis foram coletadas no Centro Olímpico da Universidade de Brasília, em Brasília/DF, fixadas em FAA70 por 24h e conservadas em etanol 70% até o processamento. Folhas do 2º ao 3º nó a partir do ápice, foram fracionadas e seu terço-médio foi seccionado, transversalmente, à mão livre. Algumas frações do terço-médio foliar foram emblocadas em resina Spurr, para estudo posterior sob microscópio eletrônico de transmissão. Parcelas do terço médio tiveram seu mesofilo digerido em solução de Franklin, com as epidermes sendo coradas com safranina e montadas entre lâmina e lamínula com gelatina glicerinada de Kaiser, permitindo a observação das epidermes foliares em vista paradérmica. As secções obtidas à mão livre foram submetidas a testes histoquímicos para amido, celulose e lignina (lugol e cloreto de zinco iodado), composição de cristais (ácido clorídrico a 10% e ácido nítrico a 10%), lipídios, ceras, suberina e cutina (Sudan III e Sudan IV) e proteínas (azul de Comassie). As peças emblocadas em resina foram seccionadas em ultramicrótomo, com faca de vidro, e submetidas à coloração com azul de toluidina. A análise das lâminas histológicas foi efetuada sob microscópio óptico Zeiss Axiophot, com obtenção de fotografias com câmera digital acoplada.

RESULTADOS:
Em vista paradérmica, C. goyazensis apresenta estômatos paracíticos, células epidérmicas comuns tetra-poligonais e três tipos de tricomas, sendo dois tectores e um glandular. Em vista transversal, o mesofilo é isobilateral, com epiderme uni-estratificada e cutícula mais espessa na face adaxial. As células epidérmicas da face adaxial são maiores e mais irregulares em relação às da epiderme abaxial. Os estômatos se apresentam nivelados às demais células epidérmicas. Sob a epiderme adaxial há 1-2 camadas de parênquima paliçádico de células alongadas e reativas nos testes para lipídios e amido. A nervura principal apresenta feixe vascular anfivasal, colênquima angular suberificado e várias células com conteúdo positivo para lipídios. Os demais feixes vasculares são colaterais e apresentam poucas fibras, sendo envolvido por uma discreta bainha de células com poucas organelas. Drusas de oxalato de cálcio foram encontradas no parênquima paliçádico e na nervura principal. O parênquima abaxial é formado por 1 camada basal de células curtas, dispostas em paliçada, seguido de 1-2 camadas de células lobadas separadas por meatos. A espécie, com base nos cortes transversais, apresenta laticíferos não articulados, cujo conteúdo demonstrou reação positiva para lipídios, amido e proteínas.

CONCLUSÕES:
Os tricomas mais comuns nas folhas de C. goyazensis são ramificados, pluricelulares e possuem base plurisseriada com reação positiva para compostos graxos de cadeia longa e lignina. A partir de certa distância da epiderme, e a diferentes alturas, partem células alongadas e de ápice afilado, o que permite determinar que o tricoma possui forma de candelabro. Esses tricomas, quando presentes na epiderme adaxial, possuem células alongadas e lignificadas que se estendem para o interior do mesofilo, atingindo a altura do floema; isto não ocorre quando esses tricomas estão na face abaxial. Os tricomas glandulares, não freqüentes no gênero, são unicelulares e possuem paredes muito finas, com fraca reação de conteúdo e parede para lipídios e suberina; estão restritos às nervuras primária e secundárias. Os raros tricomas aciculares são pluricelulares e unisseriados e parecem restritos à face adaxial. Os laticíferos, considerados não articulados, merecem maiores estudos em relação à sua caracterização, bem como à composição do conteúdo dos mesmos. Os resultados obtidos na espécie são similares aos aspectos anatômicos das folhas de Croton floriundus Spreng., espécie arbórea do sul e sudeste do Brasil, e de C. lanjouwensis Jablonski, espécie arbórea do Estado do Amazonas.

Instituição de fomento: CNPq, CAPES, FINEP



Palavras-chave:  anatomia foliar, Euphorbiaceae, croton

E-mail para contato: suzifankcarvalho@gmail.com