60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia

EMISSÕES DE ÓXIDO NITROSO (N2O) EM FLORESTA DE MATA ATLÂNTICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Luís Otávio Granço Corrêa1
Livia Oliveira Novello1
Janaína Braga do Carmo1, 2
Eráclito Rodrigues de Sousa1
Simoni Grilo1
Luiz Antonio Martinelli1

1. Laboratório de Ecologia Isotópica - CENA/USP, Piracicaba.
2. Dra. Orientadora.


INTRODUÇÃO:
A extração seletiva de madeira e a fragmentação florestal representam impactos relativamente moderados, se comparados à conversão da floresta tropical densa, altamente diversificada, para cultivos agrícolas muito simplificados ou para pastagens com uma só espécie de gramínea. Nutrientes como o N pode ser perdido em altas proporções, na queimada inicial e/ou nas queimadas posteriores, com um forte potencial de se tornar limitantes no sistema. No caso de pastagens, o manejo tem sido quase sempre inadequado e os fatores de degradação do solo e/ou da produção da pastagem evoluem rapidamente e podem levar ao abandono da área em poucos anos. Sendo assim, um estudo comparativo entre pastagem e floresta na região da Serra do Mar é de extrema importância para se compreender como a mudança no uso da terra (transformação da floresta para pastagem) altera a dinâmica do nitrogênio, que é um indicador de alterações antropogênicas, também verificar quais são os efeitos que essas alterações provocam na dinâmica desses nutrientes dentro das microbacias. As pastagens são sistemas de grande importância na dinâmica da ocupação humana e da produção de alimentos, desta forma constituem ambientes críticos a serem considerados quando se vislumbra medidas mitigadoras dos efeitos provocados pela ação do homem no meio ambiente, dentre estas a dinâmica de nutrientes e gases de efeito estufa.

METODOLOGIA:
Para a determinação do fluxo de nitrogênio, uma câmara de PVC é fixada na superfície do solo através de movimentos rotacionais, de forma a minimizar alterações na liteira ou no material orgânico da superfície do solo, e ao mesmo tempo, assegurar uma boa vedação. A profundidade de penetração da câmara no solo é de aproximadamente 1 a 2 cm. Para o cálculo de volume exato da câmara, todas as bases têm a sua altura medida até o solo em três pontos diferentes. Um orifício sobre a tampa da câmara foi confeccionado para manter a pressão interna igualada à atmosférica. Com o auxílio de uma seringa de nylon de 60 ml, as amostras dos gases acumulados no interior da câmara são coletadas e depositadas em pequenos frascos de vidro, vedados com tampas de borracha. Para cada câmara são coletados quatro frascos durante o período médio de 30 minutos, sendo a primeira amostra coletada há 1 minuto após o fechamento da câmara e o restante aos 10, 20 e 30 minutos após o fechamento. O fluxo final é determinado por regressão linear da curva originada a partir dos valores dos pontos correspondentes aos quatro frascos coletados para cada câmara. As amostras são analisadas por cromatografia gasosa, utilizando um detector de captura de elétrons (ECD) operando à temperatura de 330ºC e um detector de ionização de chama (FID) para as determinações de N2O e CH4, respectivamente.

RESULTADOS:
Durante os meses amostrados não houve diferença significativa entre as médias de fluxos na floresta, a emissão de N2O apresentou-se constante, variando de: -0,17 + 0,06 ng N cm-2 h-1 a 0,73 + 0,04 ng N cm-2 h-1. A pastagem obteve as maiores médias, onde o mês de junho mostrou-se como o maior emissor com 1,75 + 0,12 ng N cm-2 h-1. Esse resultado difere do que vem sendo encontrado na região amazônica onde os fluxos das pastagens são sempre menores, quando comparados aos fluxos na floresta (Carmo et al., 2005). Isso pode estar ocorrendo devido às diferenças na textura do solo e as variações de temperatura e chuva que são bem diferentes do que se tem na Amazônia. Embora a pastagem estudada não seja tão jovem (~40 anos) é possível prever que com o passar dos anos de exploração dessas pastagens, há redução acentuada na disponibilidade de N no solo, conforme as perdas excessivas por lixiviação, que ocorrem graças à quantidade de N disponível no solo superar a demanda das plantas forrageiras. Como conseqüência, os fluxos de N2O também decrescem com o tempo de exploração da pastagem. Os dados de umidade das parcelas da pastagem não apresentaram diferenças significativas. Na pastagem o pico de maior valor foi em julho (25,32%), e o mês com menor valor foi em agosto (14,0%). Em relação à temperatura, houve uma variação muito pequena em relação às áreas analisadas, as menores médias foram registradas na floresta, onde a variação foi de 10-17ºC. Já na pastagem as médias foram mais altas em relação à floresta, variando próximas de 15 - 21ºC.

CONCLUSÕES:
Até o momento verificou-se que existe uma diferença significativa nas emissões em relação à floresta e pastagem, onde a pastagem apresentou maiores perdas de N2O, provavelmente, por apresentar maior disponibilidade de N no solo que a floresta, ou devido a diferenças no acúmulo de matéria orgânica na superfície do solo e também por apresentar maiores temperaturas o que pode acelerar a atividade microbiana do solo. Pôde-se visualizar também, que no período chuvoso houve um aumento nas emissões, tanto na floresta quanto na pastagem, enquanto no período de seca houve uma queda brusca dos dados da pastagem em relação à floresta, isso se deve ao fato da floresta apresentar menores temperaturas e consequentemente apresenta menores taxas de evapotranspiração, retendo mais umidade que a pastagem. Pode-se afirmar que os fluxos de N2O, tanto na floresta quanto na pastagem, são menores que os valores encontrados na Amazônia. Com isso, afirma-se que o ciclo do nitrogênio é mais conservativo na Mata Atlântica, além de apresentar menor contribuição nas emissões de N2O, o que acarreta em uma menor participação da Mata Atlântica no aquecimento global do planeta.

Instituição de fomento: Financiada pelo Programa BIOTA/FAPESP, Projeto Temático Gradiente Funcional (03/12595-7). Autorização COTEC/IF 41.065/2005 e IBAMA/CGEN 093/2005.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Fluxo de gases, Mata Atlântica, nitrogênio e pastagem.

E-mail para contato: jbcarmo2008@gmail.com