60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 49. Arquitetura e Urbanismo

ARQUITETURA MODERNA EM UBERABA (MG)

Ana Teresa Cirigliano Villela1
Adriana Capretz Borges da Silva Manhas1

1. Universidade de Uberaba


INTRODUÇÃO:
“Arquitetura Moderna em Uberaba (MG)” integra o projeto de pesquisa “Quadro da Arquitetura de Uberaba”, iniciada em 2004 com o estudo das edificações produzidas na cidade desde o final do século XIX até os dias atuais. O Movimento Moderno que se firmara na Europa durante a Primeira Guerra chegou ao Brasil com a Semana de 1922 e se disseminou na arquitetura pelo eixo Rio-São Paulo. O país reinterpretou os princípios modernistas e assimilou os elementos vernaculares e nacionais, colocando em prática a antropofagia preconizada por Oswald de Andrade. A inauguração de Brasília em 1960 marcou o início de inflexão dos paradigmas modernos justamente quando o movimento alcançou regiões localizadas na rota do Planalto Central, como o Triângulo Mineiro, onde está localizada Uberaba. A cidade apresenta singulares exemplos modernos projetados por ícones como Oswaldo Bratke, mas também por arquitetos estrangeiros como Wagner Schröden e Germano Gultzgoff. O estudo justifica-se por contribuir para a difusão de uma arquitetura mineira diferente do barroco correspondente ao ciclo do ouro e principalmente por se localizar em uma região distante da capital, onde o mais respeitado nome do moderno nacional, Oscar Niemeyer, começou a se projetar internacionalmente a partir da criação do Complexo Pampulha.

METODOLOGIA:
A pesquisa teve início com o estudo teórico iniciado a partir do levantamento bibliográfico sobre a arquitetura moderna brasileira, seguindo para o levantamento das características das construções produzidas em Uberaba entre 1950 a 1970, além de jornais e documentos relativos a tombamentos e inventários de imóveis. O material empírico integra o acervo do Arquivo Público e da Fundação Cultural. Dessa forma, foi possível entender e registrar sob quais condições o Movimento Moderno se manifestou no país, principalmente no período entre-guerras, bem como suas características e condições de chegada ao Estado de Minas Gerais e à cidade de Uberaba. Após este estudo, foi feito um levantamento fotográfico preliminar das edificações modernas da cidade para a constituição da amostragem a ser estudada, cujos projetos foram requisitados no Cadastro Imobiliário da Prefeitura para a reprodução e estudo dos desenhos técnicos. Aqueles que não apresentaram planta cadastral tiveram o levantamento das dimensões in loco e foram desenhados em software específico, fase onde a pesquisa se encontra atualmente. As edificações escolhidas serão analisadas individualmente, a fim de se encontrar as singularidades da arquitetura moderna uberabense e as semelhanças com a produção nacional.

RESULTADOS:
A arquitetura moderna se firmou no interior do país somente após a transferência da Capital Federal para o Planalto Central. Até então, as transformações artísticas iniciadas nas grandes cidades estiveram defasadas cronologicamente, atingindo o auge dos estilos quando estes já estavam em desuso. Um aspecto que chamou a atenção na primeira parte do estudo foi a presença de uma enorme quantidade de edificações em estilo “neocolonial”, que constituiu a estética que antecedeu o Movimento Moderno no país (sobretudo com a corrente nacionalista luso-brasileira), mas, em Uberaba, aconteceu concomitantemente a ele uma vertente denominada “missões”. Embora não tenha contribuído para o avanço da arquitetura, mantendo a tripartição burguesa iniciada no século XIX, o neocolonial encontrado em Uberaba valorizava a arte vernacular e resgatava importantes símbolos de uma sociedade de forte ascendência árabe, responsável pela importação do gado Zebu da Índia. Graças a esta “transição neocolonial”, a arquitetura moderna alcançou seus adeptos na cidade e verificou finalmente a alteração do significado, da técnica e da estética da casa brasileira, que em Uberaba, assim como no restante do país, assimilou o vocabulário moderno europeu e se adaptou às condições locais.

CONCLUSÕES:
Após a inauguração de Brasília em 1960, o Movimento Moderno alcançou diversas regiões do país, assim como a cidade de Uberaba, no momento em que no restante do mundo já era substituído pela arquitetura pós-moderna. A cidade desenvolveu um repertório arquitetônico moderno concomitante ao estilo neocolonial que representou o paradoxo em que a sociedade dita “moderna” se encontrava, numa tentativa de assimilação das doutrinas progressistas sem, no entanto, alterar costumes inertes até então. A noção de “preservação do patrimônio edificado” foi introduzida no país em 1937, com a criação do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, mas a escolha dos exemplares a serem preservados vem sendo vista sob preceitos subjetivos de refinamento e qualidade, pertencentes a um período cronológico distante no qual atuaram personagens de uma elite dominante. O entendimento e a valorização das produções recentes, principalmente da arquitetura popular, nunca receberam o merecido estudo. Portanto, uma vez que há um número considerável e rico de exemplares modernos na arquitetura de Uberaba, espera-se que o estudo venha a contribuir para o estudo do patrimônio edificado nacional recente.

Instituição de fomento: FAPEMIG-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  arquitetura, modernismo, Uberaba

E-mail para contato: ttvillela@bol.com.br