60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística

INVESTIGAÇÃO INSTRUMENTAL DA DURAÇÃO DO VOT X ÊNFASE SENTENCIAL NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Francisco de Oliveira Meneses1
Vera Pacheco1, 2

1. Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários / UESB
2. Prof. Dr. / Orientador


INTRODUÇÃO:
Vogais e consoantes co-articuladas estabelecem o fluxo da fala e suas características fonético-acústicas alteram-se a depender do contexto em que os segmentos estão inseridos. A duração segmental é, entre outras características, influenciada por fatores ligados a continuidade da fala. No PB, a duração é um fator que não distingue fonemas (exceto quando associada ao acento), no entanto não é irrelevante (MASSINI-CAGLIARI, 1992). Alguns estudos mostram que parece haver relação entre a duração segmental e a natureza das consoantes precedentes, por isso a duração intrínseca dos segmentos não é aleatória (PACHECO 2004; MORAES & WETELZS, 1992). Souza e Pacheco (2005) mostram que oclusivas surdas têm duração menor que as sonoras. Mas contextos de pausa, Meneses & Pacheco (em preparação) mostram que em contextos de pausa a diferença de duração, entre surda e sonora, encontrada por Souza e Pacheco (2005), para as oclusivas, desaparece. Já Oliveira & Pacheco (2005) mostram que a duração das fricativas não se altera em posição de ênfase, pré-ênfase e pós-ênfase. Diante disso, investigou-se a duração da oclusiva a fim de determinar qual a relação entre o comportamento duracional das oclusivas com o contexto sentencial em que estão inseridas? Este trabalho tem o objetivo de investigar o comportamento da consoante oclusiva em contextos sentenciais diferentes, em particular, em posição de pré-ênfase, ênfase e pós-ênfase.

METODOLOGIA:
Para realizarmos essa pesquisa, foi composto um corpus com palavras monossílabas com a estrutura CV, com as vogais /a/, /i/ e /u/ ocupando a posição de núcleo silábico; a posição das consoantes é ocupada pelas oclusivas /p/, /b/, /t/, /d/ e /k/, /g/. Têm-se, assim, os seguintes monossílabos: pa, ba, ga, ca, ta, da, pi, bi, gui, qui, pu, bu, gu, cu, tu, du. Não foram consideradas as realizações ti e di, uma vez que na comunidade lingüística estuda essas consoantes são realizadas como africadas. As palavras veículos do corpus foram impressas individualmente em cartões brancos e apresentadas a um informante (sexo feminino, 20 anos, com perfeita dicção, natural de Vitória da Conquista – BA) de forma aleatória. As gravações foram efetuadas num estúdio da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB através do aparelho Olympus Digital Wave Player em alta qualidade. A análise dos dados foi feita no programa Praat (BOERSMA & WEENINK, 2002), que possibilita a medida dos segmentos, transformados pelo programa em ondas e espectrogramas. Para medir a duração das oclusivas, considerou-se o VOT, identificado no espectrograma de banda larga pela ausência de energia seguida pela explosão decorrente da oclusão. Após as medidas dos segmentos, os dados foram submetidos ao teste estatístico Anova-um critério, para certificar se as médias das medidas de cada um dos segmentos apresentavam diferenças significativas. As médias foram consideradas diferentes para p<0,05.

RESULTADOS:
Os valores de p obtidos (>0.05) indicam que as oclusivas surdas e sonoras tem a mesma duração quando estão nas posições de pré-ênfase. A diferença de duração entre consoantes surdas e sonoras também desaparece quando os monossílabos investigados encontram-se na posição de ênfase, o que pode ser verificado pelos valores p encontrados (>0.05). Os resultados encontrados se repetem na posição de pós-ênfase, ou seja, as consoantes oclusivas não alteram sua duração (p>0.05). De acordo com os resultados obtidos, pode-se afirmar que as oclusivas surdas e sonoras não são diferentes entre si quanto à duração quando estão em posição de pré-ênfase, ênfase e pós-ênfase. Nesse sentido, a diferença duracional encontrada por Souza e Pacheco (2004) desaparece quando essas consoantes encontram-se em contextos sentenciais diferentes. Nesses contextos, as oclusivas assemelham-se as fricativas, ou seja, não apresentam diferença duracional quanto a sua sonoridade, como encontrado por Oliveira e Pacheco (2005).

CONCLUSÕES:
Os resultados mostram que as oclusivas têm comportamento semelhante ao das fricativas no contexto de ênfase, ou seja, a diferença duracional entre surda e sonora para as oclusivas encontrada por Souza e Pacheco (2005), bem como as particularidades micro-prosódicas encontradas por Pacheco (2004) para as oclusivas do PB, desaparecem nas condições pesquisadas. Além disso, os resultados mostram que a duração segmental no PB é de ordem fonética e constitui-se como um elemento variável.

Instituição de fomento: FAPESB

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Duração Segmental, Ênfase Sentencial, Oclusivas

E-mail para contato: chico.meneses@gmail.com