60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 8. Educação Matemática

ENCONTRO DE CULTURAS MILENARES: ORIGAMI NA EDUCAÇÃO INDÍGENA

ROBERTO ANDERSON DE OLIVEIRA1
PATRÍCIA DE CAMPOS CORREA TRINDADE2, 3

1. Universidade Estácio de Sá
2. Secretaria de Educação do Estado do Pará
3. GPEM/DF


INTRODUÇÃO:
As culturas dos indígenas brasileiros, bem como a cultura japonesa se mostram ancestrais e contemporâneas numa relação dialógica do novo e do antigo coexistindo num mesmo ser. Embora indígenas da Amazônia e japoneses da Ásia sejam diferentes, ainda assim podemos encontrar pontos em comum. Neste sentido, ousamos ao apresentar aos nossos alunos indígenas a arte japonesa denominada de origami. A confecção de origami exige coordenação motora fina, assim como a produção de cestaria, de cerâmica, de cocares e colares o fazem. Ao observarmos a habilidade que os indígenas possuem com as mãos ao tecer cestos, nos instigaram a investigar as possibilidades do uso do origami como recurso pedagógico para o ensino de matemática no curso de formação de professores indígenas. Assim perguntamos: quais as possibilidades pedagógicas interdisciplinares no uso do origami na educação matemática de professores indígenas em formação? Qual a reação/aceitação dos indígenas em relação a um elemento de uma outra cultura milenar?

METODOLOGIA:
Nesta pesquisa, tivemos como sujeitos 42 alunos do sexo masculino da etnia Caiapó que cursam no pólo Redenção/PA o curso preparatório para ingressar na escola Itinerante de Formação de Professores Indígenas do Pará. A maior parte desses alunos atua como professores ou como monitores no Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries) nas escolas de suas aldeias, sendo, portanto, da maior importância essa formação continuada em serviço. Os sujeitos da presente pesquisa são falantes da língua macro Gê e dividem seu tempo entre as atividades da escola, atividades peculiares a sua cultura na casa do guerreiro e as atividades cotidianas da aldeia tais como a roça comunitária, a roça individual, a pesca, a caça e a coleta de frutos, principalmente a castanha-do-pará. Todos esses alunos dedicam-se a atividades manuais tais como a confecção de artefatos – cocares, arcos, flechas, bordunas, além de instrumentos musicais. Utilizamos a observação e a entrevista para verificarmos a adequação do origami como um recurso pedagógico para o ensino de matemática para indígenas da etnia Caiapó.

RESULTADOS:
A proposta de ensino de matemática com o uso de origami para alunos indígenas Caiapó se revelou um grande potencial para o desenvolvimento da linguagem matemática e para o desenvolvimento do bilingüismo – Língua Caiapó e Língua portuguesa, posto que, a medida em que as dobraduras eram feitas a linguagem da matemática escolar era apresentada e, após a dobradura (origami) ter sido concluída os alunos contavam histórias na língua Caiapó e na língua Portuguesa. Foram utilizadas dobraduras que formavam animais da fauna amazônica como: pirarucu, tatu, borboleta, beija-flor, onça, arara, gato maracajá, jacaré, entre outros. Os indígenas realizaram as dobraduras com bastante desenvoltura, destreza, perfeição, preocupação com a estética, com as cores, com os detalhes dos desenhos feitos em cada origami. Quando perguntados se já conheciam o origami, isto é, a dobradura 100% respondeu não. Ao apresentarmos a dobradura do pingüim, 60% revelou já conhecer esse animal por te-lo visto em imagens na televisão. Quando perguntados quanto a adequação do origami na aprendizagem de matemática, 100% afirmou que preferia atividade lúdica proporcionada pelo origami a aulas teóricas de matemática.

CONCLUSÕES:
A pesquisa realizada desvela que a matemática oriental, estando nesse trabalho materializada na arte japonesa origami, pode dialogar com a cultura indígena e, estranhamente nos mostra que a milenar arte japonesa se torna contemporânea nas mãos dos também milenares indígenas da Amazônia. A dobradura de animais da fauna amazônica realizada pelos Caiapó nos mostra a dimensão do global e do local coexistindo sem que um anule ou fique em posição antagônica ao outro, em outras palavras, isto seria então um exemplo do que há de ancestralidade contemporânea nos povos indígenas da Amazônia paraense. A curiosidade dos indígenas em saber de onde o origami surgiu, quem são os japoneses, a discussão que aconteceu em torno de pontos comuns em culturas milenares diferenciadas como, por exemplo, sobre o fato de Gê ser o deus Sol, bem como na cultura japonesa o imperador ser uma entidade divina por ser filho do deus Sol (Hi) e, somando-se a isso a semelhança física apontada pelos indígenas (cabelos lisos) nos desafiam a escrever outros artigos. Para nós, ficou claro que o origami é um recurso adequado para o ensino interdisciplinar da matemática escolar para os alunos indígenas Caiapó por ter sido bem aceito e por ter despertado a curiosidade dos indígenas por uma outra cultura também milenar.

Trabalho de Professor do Ensino Básico ou Técnico

Palavras-chave:  Educação Matemática, Educação Indígena, Origami

E-mail para contato: robanderson@oi.com.br