60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística

O PAPEL DO INPUT SONORO NO PROCESSO DE PERCEPÇÃO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS

Cirlene de Jesus Alves1
Vera Pacheco2

1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
2. Prof. Dr. -Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários-UESB-Orientadora


INTRODUÇÃO:
Tem-se por objeto de investigação, nesta pesquisa, as vogais médias abertas em posição pretônica, cuja ocorrência é típica, dentre outros dialetos, do dialeto de Vitória da Conquista, cidade do interior da Bahia. Parte-se da observação de duas questões. A primeira diz respeito ao fato de que a fala humana, ainda que constitua um sinal acústico complexo e contínuo, pode ser percebida em unidades discretas, como é o caso dos segmentos fonéticos, e de que é por meio da associação do sinal acústico a unidades lingüísticas compatíveis com o sistema fonológico da língua a ser percebida que ela pode ser compreendida (GLEASON; RATNER 1998). A segunda questão observada é que, no dialeto de Vitória da Conquista, nota-se a realização não distintiva de vogais médias em posição pretônica (OLIVEIRA, RIBEIRO; PACHECO, 2007), realização não encontrada em dialetos como o do Rio de Janeiro (CÂMARA JR. 1997). Considerando-se, portanto, a associação do sinal acústico a unidades lingüísticas compatíveis com o sistema fonológico da língua a ser percebida e as ocorrências de vogais médias abertas não opositivas em posição pretônica em Vitória da Conquista, levanta-se a seguinte questão: como ocorre a percepção de vogais médias em posição pretônica em indivíduos naturais de Vitória da Conquista/BA. Neste trabalho, objetiva-se, mais especificamente, investigar a percepção das vogais médias pretônicas por falantes de Vitória da Conquista, levando em conta o papel do input sonoro.

METODOLOGIA:
Esta pesquisa contou com a gravação prévia em frases-veículo de palavras, que apresentam vogais médias em posição pretônica. Selecionaram-se pares destas palavras, em cujo contexto as vogais médias abertas e fechadas eram correspondentes, e, com o auxílio do software Praat, realizou-se a permuta de vogais médias abertas e fechadas. Desta maneira, foi possível obter realizações diferenciadas de uma mesma palavra, ou seja, de cada palavra “original”, sem modificação, obteve-se uma nova realização “modificada” Em seguida, estas palavras, originais e modificadas, foram, então, mescladas com palavras distratoras e apresentadas para teste de percepção aplicado a três informantes naturais de Vitória da Conquista/BA. Este estudo consistiu em tocar estas palavras, “originais” e “modificadas”, por três vezes, em ordem aleatória aos informantes, de forma individual. A cada um deles solicitou-se que, à escuta dessas palavras, indicassem graficamente a que vogal correspondia o sinal ouvido na posição em questão. Para cada um deles verificou-se a porcentagem média de resgate da vogal do sinal acústico sem modificação, e de não resgate da vogal do sinal acústico sem modificação em duas situações, diante do sinal acústico sem modificação e do sinal acústico modificado. Em seguida, realizou-se, então, para cada informante, a comparação, por meio do teste t, das porcentagens médias de resgate e de não resgate da vogal apresentada no sinal acústico sem modificação e do sinal acústico que havia sido modificado.

RESULTADOS:
Os resultados mostram que quando o sinal acústico apresentado é o modificado, o Informante 1 resgata a vogal do sinal acústico em 91.67% dos casos, o Informante 2 em 66, 66% e o Informante 3 em 77,7%; quando o sinal acústico é sem modificação, o informante 1 resgata a vogal do sinal em 75% dos casos, o informante 2 em 50% e o Informante 3 em 58.33% . Ao se comparar, por meio do teste t, as médias de resgate da vogal contida no sinal acústico, os valores de p obtidos (>0.05) indicam que não há diferença entre as médias de resgate da vogal contida no sinal acústico modificado e das médias de resgate da vogal contida no sinal acústico sem modificação. Isso significa que o ouvinte é capaz de identificar a vogal que está no sinal acústico independentemente de esse sinal ser modificado ou não. Os resultados mostram também que quando o sinal acústico apresentado é o modificado, o Informante 1 não resgata a vogal do sinal acústico em 8.33 % dos casos, o Informante 2 em 33.33% e o Informante 3 em 25%; quando o sinal acústico é o não modificado, o Informante 1 não registra nenhum caso em que não tenha resgatado a vogal do sinal acústico, o Informante 2 não resgata 33.33% dos e o Informante 3 em 41.665%. Ao se contrastar as duas situações descritas é possível verificar que o informante tem grande tendência a identificar a vogal do sinal acústico independentemente de o sinal está com ou sem modificação. Além disso, de acordo com os valores de p, a porcentagem de não resgate da vogal contida no sinal independe de esse sinal está com ou sem modificação.

CONCLUSÕES:
Diante dos dados, é possível afirmar que o informante percebe a vogal que está no sinal acústico mesmo que esse tenha sido modificado. Assim, pode-se supor que o ouvinte de fato extrai a configuração formântica do sinal acústico e identifica a vogal ali presente. Testes de percepção para um número maior de informantes devem ser executados com vistas a testar o resultado encontrado nesta pesquisa.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  percepção, pretônica, vogais

E-mail para contato: alves.cirlene@gmail.com