60ª Reunião Anual da SBPC




B. Engenharias - 1. Engenharia - 3. Engenharia Civil

A UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS APROPRIADAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL A PARTIR DA RECICLAGEM DO ENTULHO

Shandy Alexandra Morassi Francisco1
Generoso De Angelis Neto1, 2
Bruno Luiz Domingos De Angelis3, 4

1. Departamento de Engenharia Civil / UEM
2. Prof. Dr. / Orientador
3. Departamento de Agronomia / UEM
4. Prof. Dr. / Co-orientador


INTRODUÇÃO:
A indústria da construção civil desempenha importante papel no meio econômico e social, porém, na análise do SINDUSCON-SP – Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de São Paulo – (2005), é grande geradora de impactos ambientais, como o consumo de recursos naturais, a modificação da paisagem e a geração de resíduos. Apesar dos crescentes esforços do setor de construção civil em busca da qualidade, segundo Pinto (1989, apud PINTO, 1999), é aceitável a afirmação de que as perdas se situem entre 20 e 30% da massa total de materiais, dependendo do patamar tecnológico do executor. Segundo Coêlho (2003), é comum se apontar um desperdício da ordem de 30% em custos de não qualidade, ou seja, perdas que não agregam valor ao serviço, encarecem o produto, geram desgastes e, por conseguinte, são capazes de levar à inviabilidade de um empreendimento. Para Pinto (1999), é considerada como perda “a quantidade de material sobreutilizada em relação às especificações técnicas ou às especificações de projeto, podendo ficar incorporada ao serviço ou transformar-se em resíduo”. Segundo o CREA-PR – Conselho Regional dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos do Paraná – (2006), atualmente, a construção civil é considerada a maior geradora de resíduos de todos os setores produtivos. Estima-se que o volume total de entulho produzido por uma cidade seja até duas vezes maior do que o volume de resíduo sólido urbano. Dados do SINDUSCON-SP (2005) acusam que os RCD’s – Resíduos de Construção e Demolição – são responsáveis por mais da metade da massa total de resíduos sólidos urbanos produzidos, variando de 50% a 70 % nas cidades pesquisadas pelo Sindicato. A falta de política pública e conscientização dos geradores de resíduos leva à deposição irregular dos RCD’s, provocando impactos ambientais, como degradação das áreas de mananciais e de proteção permanente; proliferação dos agentes transmissores de doenças; assoreamento de rios e córregos; obstrução dos sistemas de drenagem; ocupação de vias, prejudicando a circulação de pessoas e veículos; degradação da paisagem urbana; e acúmulo de resíduos perigosos (SINDUSCON-SP, 2005). Portanto, faz-se necessário a implantação de uma gestão do processo produtivo, do qual faz parte a gestão de resíduos da construção civil, prevista na resolução CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente – nº 307, de 2002. Conforme o CREA-PR (2006), a resolução estabelece diversas normas para a destinação de resíduos de construção civil. Um dos principais pontos da Resolução previa que as prefeituras de todo país criassem planos de gerenciamento de resíduos que incluíssem espaços próprios para receber entulho. Apesar de a Resolução estabelecer prazo máximo de dois anos da data que entrou em vigor para a implantação do Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (prazo encerrado em janeiro de 2005), a grande maioria dos municípios ainda não o possui. A mesma Resolução define gerenciamento de resíduos como “o sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas em programas e planos”. Segundo o SINDUSCON-MG – Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais – (2005), a gestão de resíduos deve-se iniciar na concepção do empreendimento, com maior interface entre projetos e processos construtivos, diminuindo a geração dos RCD’s, e correto gerenciamento dos mesmos no canteiro-de-obras, conforme o Art. 4º da Resolução CONAMA nº 307, que diz que “os geradores deverão ter como objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final”. Dentre as vantagens da redução da geração de resíduos têm-se diminuição do custo de produção, diminuição da quantidade de recursos naturais e energia, diminuição da contaminação do meio ambiente e diminuição dos gastos com a gestão dos resíduos, com a finalidade de trazer benefícios ambientais e econômicos para as empresas, graças à redução dos impactos ambientais e do aumento da eficiência do processo (SINDUSCON-MG, 2005). Reutilização é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do mesmo. Já reciclagem é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à transformação (CONAMA, 2002). A reutilização e a reciclagem também trazem benefícios ambientais, pois diminuem o uso de recursos naturais, assim como a energia necessária para a produção dos materiais e redução do entulho de obra descartado clandestinamente; sociais, com a geração de empregos e conseqüente melhoria de vida da população; e econômicos, já que os materiais reutilizados e reciclados geralmente apresentam custos menores. Portanto, a reciclagem mostra-se como alternativa técnica e economicamente viável para a destinação dos resíduos sólidos de construção e demolição, além de trazer benefícios sociais e ambientais. Sendo assim, o objetivo da presente pesquisa é identificar a destinação das frações que compõe os RCD’s, além das alternativas de emprego do material inerte reciclado na construção civil.

METODOLOGIA:
Inicialmente, procedeu-se à pesquisa bibliográfica em bases on-line de teses, dissertações e artigos científicos e em biblioteca, acerca de Resíduos Sólidos de Construção e Demolição – RCD –, sua geração, gestão, reutilização e reciclagem, além de sua utilização em tecnologias apropriadas de baixo custo. Através da revisão bibliográfica, foi elaborado o estado-da-arte do material pesquisado, sendo possível determinar a potencialidade de utilização de entulhos produzidos na construção civil, assim como seu emprego na confecção de produtos reciclados. Finalmente, foram elaborados artigos para publicação e o relatório com os resultados finais da pesquisa.

RESULTADOS:
Definição Os RCD’s ou entulho apresentam, na literatura, divergências em relação à sua definição quanto à abrangência das frações presentes e as atividades geradoras dessas frações. Para Biocycle (1990, apud ZORDAN, 1997), resíduos de construção e demolição são resíduos sólidos não contaminados, provenientes da construção, reforma, reparos e demolição de estruturas e estradas, e resíduos sólidos não contaminados de vegetação, resultantes da limpeza e escavação de solos. Como resíduos, incluem-se, mas não limitam-se, blocos, concreto e outros materiais de alvenaria, solo, rocha, madeira, forros, argamassa, gesso, encanamentos, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos que não camuflem outros resíduos, fiação elétrica e equipamentos que não contenham líquidos perigosos e metais que estiverem num dos itens acima. Já a resolução CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) nº 307, de 2002, define que: resíduos de construção civil: são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha. Para efeito deste estudo, serão considerados RCD’s todo e qualquer material residual proveniente de atividades de construção civil. Classificação Para a ABNT – Associação Brasileira de Norma Técnica – NBR 10004/2004 – Classificação de Resíduos Sólidos – a classificação dos resíduos sólidos envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem e de seus constituintes e características, assim como os impactos que causam à saúde e ao meio ambiente, por meio de análises laboratoriais adequadas. Esta norma classifica os resíduos em: Classe I – Perigosos; Classe II – Não perigosos; Classe II A – Não inertes. Classe II B – Inertes. Conforme a resolução CONAMA nº 307, de 2002, os RCD’s especificamente deverão ser classificados da seguinte forma: I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento, etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios, etc.) produzidas nos canteiros-de-obras; II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros; III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso; IV - Classe D - são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros. A resolução CONAMA nº 348, de 2004, inclui o amianto na classe de resíduos perigosos, passando a Classe D a ter a seguinte redação: IV - Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde. Nesta pesquisa, foi considerada a classificação da resolução CONAMA n° 307, de 2002, pois classifica especificamente os RCD’s, objeto do presente trabalho, e não os resíduos sólidos em geral, como explicitado na NBR 10004/04. Composição Segundo Pinto (1999), a composição dos RCD’s é diferente em cada país, em função da diversidade de tecnologias construtivas utilizadas. A madeira é muito presente na construção americana e japonesa, tendo presença menos significativa na construção européia e na brasileira; o gesso é fartamente encontrado na construção americana e européia e só recentemente vem sendo utilizado de forma mais significativa nos maiores centros urbanos brasileiros. Da mesma forma acontece com as obras de infra-estrutura viária, havendo preponderância do uso de pavimentos rígidos em concreto nas regiões de clima frio. Dados disponíveis para a Comunidade Européia estimam para os diversos países uma presença média de 45% de componentes de alvenaria e vedação, 40% de concreto, 8% de madeira, 4% de metal e 3% de papel, plásticos e outros materiais (ITEC, 1995a apud PINTO, 1999), com o predomínio dos resíduos de procedência mineral na maioria dos países (PERA, 1996 apud PINTO, 1999), o que permite ainda assegurar que a imensa maioria dos resíduos gerados é formada por parcelas recicláveis. Nos canteiros-de-obras brasileiros, acontece um processo de aproveitamento das aparas de materiais como papel, metálicos, plásticos e parte da madeira, que têm valor comercial imediato e serão encontrados nos resíduos de construção em quantidades menores que as realmente geradas (PINTO, 1999). Dependendo da natureza da atividade, os RCD’s podem conter também matéria orgânica, como restos de vegetação presentes em escavações. É relativamente baixa, na composição dos RCD’s, a presença de resíduos perigosos (produtos ácidos, inflamáveis e outros), mas a esse aspecto não deve ser dado menos importância, dotando-se esta parcela dos procedimentos e tratamento adequados (PINTO, 1999). Ainda segundo dados de Pinto (1999), observa-se que nos resíduos analisados em obras brasileiras típicas, ocorre uma grande predominância dos provenientes das construções em relação aos resíduos gerados em demolições, em função mesmo do desenvolvimento recente das áreas urbanas. Nos países já desenvolvidos, onde as atividades de renovação de edificações, infra-estrutura e espaços urbanos são mais intensas, os resíduos provenientes de demolições são muito mais freqüentes. A composição dos RCD’s, provenientes das atividades construtivas de edifícios, varia em função das suas características, sendo a madeira dominante nos resíduos gerados nas novas construções e o concreto dominante nos processos de demolição (C&D, 1998a apud PINTO, 1999). Destinação, emprego e resultados das aplicações dos RCD’s reciclados O SINDUSCON-MG (2005) apresenta alternativas pontuais para os resíduos gerados em construções e demolições, segundo a realidade da região de atuação do Sindicato, sendo possível, porém, sua aplicação em outras localidades. Primeiramente, propõe aplicar o sistema de gerenciamento dos resíduos, como sugere a resolução CONAMA n° 307, de 2002, com diminuição da geração, reutilização, coleta seletiva e separação dos resíduos inevitavelmente gerados. Os resíduos de Classe B, como metais, vidros e embalagens de papel, papelão e plásticos, devem ser destinados a empresas de reciclagem desses materiais. Em relação às embalagens de cimento e argamassa, cabe ao gerador buscar soluções junto ao fornecedor do produto. A madeira, também resíduo Classe B, pode ser destinada a empresas e entidades que a utilizem como energético ou matéria-prima. Os resíduos orgânicos, como os produzidos durante as refeições, devem ser acondicionados em sacos plásticos e estes colocados nos locais e horários previstos pela empresa concessionária de limpeza pública, sendo ela responsável pela coleta, transporte e destinação final destes resíduos. Para gesso e derivados – Classe C –, até o momento, não há uma solução economicamente viável para reutilização, cabendo ao gerador buscar soluções junto ao fabricante. Resíduos perigosos e contaminados, como óleos, tintas, vernizes, produtos químicos e amianto – Classe D – podem ser destinados às empresas de co-processamento. No caso de tintas e vernizes, podem ser enviados a empresas de reciclagem desses materiais. Para a maioria dos resíduos perigosos ou contaminados não há uma destinação adequada, cabendo ao gerador buscar soluções junto ao fabricante (SINDUSCON-MG, 2005). A fração de materiais de origem mineral (solos, cerâmicas, argamassas, rochas, concretos, etc.) – Classe A – representa em torno de 90% da massa dos RCD’s no Brasil (BRITO, 1998 apud ÂNGULO et al., 2005), na Europa (EC, 2000 apud ÂNGULO et al., 2005) e em alguns países asiáticos (HUANG et al., 2002 apud ÂNGULO et al., 2005). Portanto, a reciclagem massiva e os benefícios econômicos e ambientais associados a esta reciclagem dependem da reciclagem intensiva da fração mineral dos RCD’s (ANGULO et al., 2002 apud ÂNGULO et al., 2005). A terra de remoção pode ser reutilizada na própria obra, em outras obras que necessitem de material para aterro, ou na restauração de solos contaminados, aterros e terraplanagem de jazidas abandonadas (SINDUSCON-MG, 2005). Os outros resíduos de origem mineral podem passar por processo de britagem , sendo utilizados em substituição parcial ou até mesmo total dos agregados naturais em diversas aplicações. Processos menos sofisticados de gestão e reciclagem dos RCD’s podem gerar agregados adequados ao uso como material de enchimento para a preparação de terrenos, para projetos de drenagem, em sub-bases de vias, como estradas e calçadas, sub-bases de pisos e outros produtos simples (PINTO, 1999; SINDUSCON-MG, 2005). Em muitos canteiros existem argamassadeiras capazes de gerar uma argamassa reciclada deste tipo de resíduo (MIRANDA, 2000 apud ÂNGULO; JOHN, 2002), que pode ser utilizada na própria obra. Processos mais controlados podem levar a novos agregados com qualidade requerida para aplicações mais nobres, como a produção de concreto e componentes com elevada requisição de desempenho (PINTO, 1999). Não há aspectos técnicos que ofereçam obstáculo significativo à aplicação dos RCD’s reciclados (CUR, sd apud PINTO, 1999). Subsistirão sempre os condicionantes econômicos locais, típicos da região geradora, oriundos de fatores diversos como custo de agregados naturais, valor das taxas de deposição em aterros, custos de transporte, suporte pelas políticas governamentais locais, e outros (PINTO, 1999). As centrais de reciclagem brasileiras são plantas simples se comparadas com as centrais do exterior, possuindo apenas alimentador, britagem, transportador de correia e eletroímã para coleta de metais ferrosos. A remoção de contaminantes, como madeiras, plásticos e metais não ferrosos, é feita manualmente, tanto antes como após a britagem. Em um mercado incipiente como o brasileiro, dificilmente sistemas sofisticados de separação, seja de contaminantes ou de outras fases, seriam viáveis economicamente num primeiro momento (PENG et al., 1997; JUNGMANN; QUINDT, 1999; TOMAS et al., 1999; ANCIA et al., 1999 apud ÂNGULO; JOHN, 2002). No Brasil, a quase totalidade do agregado produzido pela reciclagem dos RCD’s é utilizada como base de pavimentação, mas as atividades de pavimentação e obras públicas são capazes de absorver apenas 30% do total dos RCD’s gerado, além de possuir o menor valor agregado como produto. Já os setores de concretos e argamassas podem consumir integralmente a quantidade de RCD’s gerada como agregado, com utilizações incipientes em blocos de concreto para pavimentação e vedação (ÂNGULO; JOHN, 2002; ÂNGULO et al., 2005). Um importante exemplo de reutilização dos RCD’s é o “Brechó da Construção”, uma iniciativa de caráter social destinada a ajudar famílias de baixa renda a reformar e melhorar sua moradia na cidade de Belo Horizonte e região. Idealizada por empresários do setor da construção e suas entidades representativas, foi bem recebida por outros órgãos e entidades religiosas locais. Tal iniciativa vem ao encontro da necessidade de amenizar o sério problema das habitações em condições precárias vivido por milhares de famílias, principalmente na periferia das cidades. O objetivo do Brechó da Construção é incentivar a reinserção dos resíduos reutilizáveis e recolher materiais aproveitáveis que sobram e não serão mais utilizados nas obras, em reformas de particulares, em lojas e indústrias. Estes materiais serão recolhidos no local da doação e enviados para a Central de Distribuição, onde serão classificados, armazenados e encaminhados às famílias de baixa renda cadastradas segundos os critérios da Política Municipal de Habitação da PBH. As famílias vão obtê-los por um preço simbólico, podendo assim melhorar as condições de sua moradia. (SINDUSCON-MG, 2005). Quando não for possível a reutilização ou reciclagem dos RCD’s, estes devem ser destinados a aterros de inertes licenciados, minimizando os impactos da deposição ilegal destes resíduos. Sub-Base Para Pavimentação Segundo Pinto (1999), são comuns situações onde ocorre o lançamento de RCD’s in natura para manutenção de condições mínimas de tráfego, devido às suas características de bom desempenho para este fim. A investigação sobre o uso dos RCD’s em obras de pavimentação tem sido ancorada em metodologias que consideram as características específicas dos solos tropicais típicos (BODI et al., 1995 apud PINTO, 1999). Os resultados das verificações realizadas indicaram a possibilidade de obter-se idêntica capacidade de suporte com o uso de quantidade muito menor de agregados, caso utilizado os RCD’s reciclados. Argamassas Para Miranda (2000), pode ser muito amplo o potencial de emprego de entulhos reciclados como agregados em argamassas de assentamento e revestimento. Mas, para se viabilizar estas aplicações, a fissuração de revestimentos é uma das propriedades críticas de desempenho que deve ser controlada e minimizada. Argamassas feitas com agregado reciclado em geral possuem maior tendência à fissuração do que se feitas com agregado natural, o que se deve, principalmente, ao elevado teor e natureza dos finos desse agregado. Os resultados obtidos em sua pesquisa indicam que o entulho de construção reciclado pode ser utilizado para a produção de revestimentos em argamassas simples de cimento Portland, obtendo-se bom acabamento superficial, resistência de aderência а tração e baixos níveis de fissuração. Mas recomenda-se controlar o teor total de finos menor que 75 m nas argamassas, para evitar excesso de refinamento dos poros, principalmente em se tratando de entulhos com elevado teor de argamassas mistas, e reduzir a exposição de revestimentos externos a ciclos de umedecimento e secagem, por medidas adequadas de projeto e execução. O teor de materiais pulverulentos das areias naturais beneficiadas raramente ultrapassa 5%, enquanto este é o valor mínimo encontrado em areias recicladas de RCD’s. Como os RCD’s normalmente vêm misturados com materiais cerâmicos e até solo, este valor pode oscilar facilmente entre 15% e 30%. Assim, é desnecessário utilizar a cal em argamassas com areia reciclada de RCD’s que tenham elevado teor de materiais pulverulentos, sendo isto já uma grande vantagem econômica. Aliás, na prática, observa-se um aumento da fissuração de revestimentos de argamassa com areia reciclada quando da utilização da cal em teor excessivo na composição (MIRANDA; SELMO, sd). As contaminações mais esperadas na areia reciclada são, além do excesso de materiais pulverulentos, o excesso de matéria orgânica e a presença de gesso de construção e devem ser, a priori, combatidas pela seleção prévia dos RCD’s. Precauções favoráveis para a redução dos efeitos do gesso nessas argamassas podem ser previstas de antemão, como o uso de cimentos mais resistentes a sulfatos, como o CP III e o CP IV (MIRANDA; SELMO, sd). Concreto Os agregados reciclados podem ser empregados na produção de novos concretos e seus componentes, como blocos para pavimentação e vedação, sarjetas, guias e outros, tendo como principal condicionante a separação prévia dos resíduos produzidos. Alguns dos resultados apresentados pela pesquisa de Zordan (1997), foram:  Em relação ao comportamento do resíduo como agregado, a parte graúda do entulho utilizado como agregado revelou aspectos negativos para a resistência do concreto, relacionados à presença de materiais cerâmicos polidos, que induziram à ocorrência de superfícies de ruptura nas suas faces lisas, devido à insuficiente aderência entre essas faces e a pasta de cimento; o entulho usado como agregado apresentou uma absorção de água bem superior à do agregado tradicional, devido tanto à sua grande porosidade como a maior quantidade de finos existentes neste resíduo;  A resistência à compressão simples, aos 28 dias, obtida pelos concretos produzidos a partir da fração mineral do entulho reciclado, representou em média, 49%, 62% e 93% da resistência do concreto de referência, utilizando-se os traços 1:3, 1:5 e 1:7, respectivamente;  A resistência ao desgaste à abrasão apresentada pelo concreto objeto do estudo de Zordan (1997), ficou em média 26,5% maior que a obtida pelo concreto de referência, que utilizou areia e brita como agregado;  Os resultados dos ensaios de compressão, abrasão e permeabilidade, realizados com o concreto confeccionado com entulho, permitem concluir que este tipo de concreto atende perfeitamente (quanto aos quesitos avaliados) às exigências de fabricação de: - peças de concreto utilizadas em drenagem superficial de estradas, como por exemplo sarjetas, que de acordo com MICHELIN (1975 apud ZORDAN, 1997) necessita de uma resistência de 11 MPa aos 28 dias; - elementos utilizados na construção de passeios públicos como guias e blocos para calçamento; - blocos de concreto para alvenaria sem função estrutural, que segundo a NBR 7173/82 - “Blocos vazados de concreto simples para alvenaria sem função estrutural” [atualmente substituída pela NBR 7173/06 – “Blocos vazados de concreto simples para alvenaria – Requisitos”], necessita de uma resistência à compressão mínima de 2,5 MPa (média amostral) e 2,0 MPa (individual). Embora tratando-se de um material extremamente heterogêneo - proveniente das mais diversas atividades da construção civil - e, portanto, apresentando na sua composição, elementos que não têm um bom comportamento como agregado para o concreto (por exemplo, os materiais cerâmicos polidos e a própria terra), as qualidades mecânicas do concreto, aferidas nesta pesquisa, apresentaram valores muito positivos. Dessa forma, supõem-se que, se houver um controle do entulho que chega nas usinas, de forma que os materiais de qualidades diferentes não sejam misturados antes de irem para os britadores, obter-se-á um agregado com características superiores às oferecidas pelo resíduo analisado (ZORDAN, 1997). A produção de concretos estruturais com agregados reciclados já é tecnicamente possível mas, no Brasil, ainda não economicamente viável. Isso ocorre pois, para a produção de novos concretos, são necessárias melhorias na triagem da fração não mineral dos RCD’s. Os agregados de resíduos reciclados devem conter teores de materiais não-minerais inferiores a 1,5% para uso em concretos estruturais (resistência mecânica superior a 25 MPa) (Rilem Recommendation, 1994; Muller, 2004 apud ÂNGULO et al., 2005). A triagem dos RCD’s mineral proposta pelas recomendações e especificações normativas não é amplamente realizada no Brasil e no exterior. Onde foi realizada, não foi possível controlar a variabilidade das propriedades físicas dos agregados de RCD’s reciclados. Portanto, a triagem baseada na classificação visual, que é realizada no Brasil, é pouco efetiva para classificar as diferentes qualidades dos agregados de RCD’s reciclados. A separação por líquidos densos é uma técnica mais relevante para caracterizar a qualidade dos lotes de agregados de RCD’s reciclados e pode ser utilizada como ferramenta de decisão para a triagem dos lotes nas usinas. Segundo Ângulo (2005), a porosidade (ou massa específica aparente) dos agregados de RCD’s reciclados controla o comportamento mecânico dos concretos produzidos com relação água e cimento constante, assim como a soma dos teores de aglomerantes e de cerâmica vermelha – frações mais porosas. Sendo assim, a avaliação da distribuição de densidade pode ser um método simples e rápido para a classificação de lotes desses agregados e controle do comportamento mecânico dos concretos produzidos.

CONCLUSÕES:
Conclui-se que a reciclagem dos RCD’s é possível e necessária como forma de minimizar os impactos da construção no meio. Os RCD’s são predominantemente compostos por materiais de origem mineral, portanto, benefícios econômicos e sociais dependem da reciclagem massiva dessa fração. O material reciclado, geralmente na forma de agregado, pode ser empregado em substituição aos agregados naturais em diversas situações. Processos menos sofisticados de reciclagem dos RCD’s podem gerar agregados adequados ao uso como material de enchimento para a preparação de terrenos, para projetos de drenagem, em sub-bases de vias e outros produtos simples. Processos mais controlados podem levar a novos agregados para emprego na própria obra na produção de argamassa (para revestimento e assentamento) ou até mesmo com a qualidade requerida para a produção de concreto não-estrutural e componentes (blocos de revestimento e vedação, sarjetas, guias e outros) com elevada solicitação de desempenho. Em função dos resultados obtidos nesta pesquisa, propõe-se para uma nova etapa a realização de análises comparativas dos métodos de caracterização dos agregados reciclados e estudo de traços de concreto para a confecção de blocos de concreto para vedação, pavimentação e outros componentes.

Instituição de fomento: CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Entulho, Reciclagem, Tecnologia apropriada

E-mail para contato: shandymorassi@yahoo.com.br