60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística

A OCORRÊNCIA DE SUJEITO NULO NO DIALETO DE VITÓRIA DA CONQUISTA (BA)

Samile Santos Pinto1
Telma Moreira Vianna Magalhães1, 2

1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
2. Orientadora


INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa insere-se na teoria chomskiana de Princípios e Parâmetros. Segundo essa teoria, os Princípios são leis rígidas e invariáveis entre as línguas naturais. Já os Parâmetros codificam os aspectos variáveis que diferencia uma língua de outra. No que tange o estudo dos Parâmetros, um dos aspectos mais estudados é a capacidade que algumas línguas possuem de licenciar ou não uma cv na posição de sujeito: é o Parâmetro do Sujeito Nulo. De acordo com esse parâmetro, o PB vem perdendo a capacidade de licenciar sujeitos nulos. Segundo Duarte (1993), essa redução na ocorrência do sujeito nulo é devido à simplificação do paradigma flexional do PB. Ela afirma que outrora essa língua possuía uma marca para cada uma das seis pessoas gramaticais, entretanto, este número se reduziu para apenas duas ou três formas. Atualmente, só há a distinção entre a primeira pessoa e as outras, as quais usam flexão de terceira pessoa. A referida pesquisa pretende, assim, verificar (i) se entre os dialetos de Vitória da Conquista (VC/BA) e de Campinas (C/SP) há alguma distinção quanto à ocorrência de sujeitos nulos; (ii) como a criança identifica os sujeitos nulos na referida língua, uma vez que esta não possui marcas de flexão suficientemente ricas que permitam a identificação do sujeito omitido.

METODOLOGIA:
O corpus dessa pesquisa é constituído por dados de quatro crianças naturais de VC/BA e duas naturais de C/SP, com idades compreendidas entre 1;8.0 e 3;5.0. O método de coleta dos dados é o de observação espontânea, naturalista e longitudinal. Foram feitas gravações com intervalo médio de quinze dias, em ambiente familiar às crianças (normalmente em casa), em situação de interação livre com um familiar (a mãe ou pai) e o investigador, o qual também era uma pessoa próxima ou mesmo da família, durante a realização de tarefas rotineiras. Utilizou-se para estas gravações um gravador digital. O material gravado está sendo transcrito com recursos do sistema CHILDES (MacWhinney, 2000), que possibilita, a partir de uma transcrição codificada, a análise computacional dos dados. Será realizada também a correção minuciosa de todo o material transcrito para que se garanta a confiabilidade do corpus. Cada arquivo corresponde à transcrição de uma sessão que varia entre 30 e 60 minutos de gravação.

RESULTADOS:
O PB vem perdendo a sua capacidade de licenciar o sujeito nulo de referência definida, além disso, a ocorrência dessa categoria está restringida a determinados contextos. Isso justifica o fato da referida língua possuir um sistema agonizante entre a marcação ou não desse parâmetro. Isso acontece devido a uma redução em seu paradigma flexional. Segundo Duarte (1993), o PB passou de um paradigma flexional de 6 pessoas distintas, para um com apenas 3 formas flexionais. Acredita-se que isso aconteceu devido à perda da segunda pessoa do singular e em seguida, da primeira pessoa do plural (cf. GALVES, 1990 [2001] e DUARTE, 1993). Apesar de restrito, o corpus analisado nessa pesquisa aponta para um alto índice de sujeitos nulos, principalmente nulos de terceira pessoa do singular. Esse resultado é comparável aos dados de aquisição do Inglês, porém, nessa língua, ao atingir a gramática-alvo, o índice de nulos das crianças cai para 10% (cf. Simões, 1997). Já nos dados do PB, esse índice fica em torno de 30%, sendo esse resultado comparável ao dos adultos de Duarte (1995), a saber: 29% dos sujeitos de referência definida são nulos. Segundo a autora, a ocorrência de nulos de terceira pessoa só é possível devido ao fato de existir um elemento externo que permite a recuperação de pro.

CONCLUSÕES:
A análise dos dados de VC/BA aponta para um alto índice de sujeitos nulos, principalmente nulos de terceira pessoa do singular. Trabalhos mostram que apesar de a criança possuir poucas evidências na língua que permitam que ela identifique os nulos de referência definida, ela possui certas informações, como o uso de terceira pessoa nula, que comportam esse uso. Os dados de VC/BA estão em conformidade com os da literatura específica da área. Objetiva-se então comparar tais resultados aos dados de C/SP, no intuito de verificar se existem diferenças significativas entre os diferentes dialetos do PB. Até o presente momento, o corpus de VC/BA ainda é restrito para se fazer afirmações categóricas a esse respeito.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Sujeito Nulo, Português Brasileiro, Vitória da Conquista

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