60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva

DROGAS DE ABUSO E GESTAÇÃO: A QUESTÃO DA ORIENTAÇÃO PARA A SAÚDE E DA INCLUSÃO SOCIAL

CÉLIA APARECIDA PAULINO1
CAMILA CICCONI PACCOLA-NIZOLI1
MARIA RITA APRILE1
PATRÍCIA RAPHAEL UNGER BATAGLIA1

1. Universidade Bandeirante de São Paulo - Pós-Graduação e Pesquisa (UNIBAN - SP).


INTRODUÇÃO:
A exposição a drogas de abuso na fase perinatal é uma preocupação mundial crescente no tocante à saúde da mãe e do bebê. Pesquisas freqüentes têm alertado para o consumo cada vez maior de substâncias como o álcool, cigarro, maconha e outras, nesta fase. Dentre elas, o cigarro e o álcool são referidos por serem as mais utilizadas durante a gestação e por desencadearem inúmeros danos físicos e psíquicos no organismo materno e dos bebês, alguns deles resultando em graves seqüelas. Apesar disso, por serem drogas lícitas, seu uso é comum em nossa população, além de outras, menos utilizadas por serem drogas ilícitas e, portanto, de acesso mais restrito. Nesse aspecto, a orientação para a saúde pode preservar o indivíduo do ponto de vista físico, psíquico e social para o pleno exercício da cidadania, o que lhe garante a sua inclusão na sociedade. Mas, os serviços públicos nem sempre conseguem oferecer um atendimento amplo que englobe não só as ações médicas assistenciais, mas também ações educativas que ajudem a transformar as condições de vida da população. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi o de investigar o uso de drogas de abuso antes e/ou durante a gestação, analisando especialmente os riscos às gestantes e aos bebês e os fatores que podem estar associados a tais hábitos.

METODOLOGIA:
Foi realizada uma pesquisa em campo, durante 3 meses, para o levantamento de dados a partir de uma amostra não probabilística de 62 mulheres gestantes atendidas durante as fases pré e pós-natal, em um Centro de Saúde de São Paulo, a partir do 6º mês de gestação. Todas as gestantes pertenciam à mesma classe sócio-econômica e moravam na mesma região, numa favela da zona sul de São Paulo, sendo atendidas no mesmo Centro de Saúde, com um acompanhamento pré-natal semelhante para todas. Para a coleta de dados foi solicitada autorização do referido Centro e o trabalho foi realizado seguindo os padrões éticos exigidos pela Declaração de Helsinki. Deste modo, as gestantes foram previamente esclarecidas sobre os objetivos da pesquisa e só participaram como voluntárias aquelas que concordaram livremente em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Como instrumento para coleta de dados, foi elaborado e testado um questionário com questões objetivas fechadas e abertas relacionadas ao uso de drogas em geral. Os questionários foram aplicados às gestantes, no próprio Centro de Saúde, sempre de forma individual e sigilosa, enfocando o perfil de cada mãe e pai dos bebês, as condições sócio-econômicas da família, os aspectos de saúde e o hábito do uso de drogas por esta população.

RESULTADOS:
Os resultados mostraram que as mulheres participantes tinham entre 16 e 36 anos de idade, com predomínio para a faixa etária de 20 a 23 anos (36%). Em relação aos hábitos, 10 gestantes (16%) eram usuárias de cigarro e 14 delas (23%) eram ex-fumantes. Quanto ao álcool, 10 gestantes (16%) usavam bebidas alcoólicas antes da gestação, com predomínio para aquelas da faixa de 20 a 23 anos (50%), e 28 delas (45%) relataram este uso antes e durante a gestação, com predomínio para a faixa de 20 a 31 anos de idade (29%). A bebida predominante foi a cerveja e o uso foi relatado como social (2 vezes por semana ou menos). Foram observadas alterações perinatais nestas gestantes e seus bebês. Ainda, entre as gestantes fumantes, nenhuma consumiu álcool antes da gestação, entre as ex-fumantes, apenas 6% relataram o uso e entre as não-fumantes 10% informaram consumir bebidas alcoólicas. Por outro lado, o uso de álcool antes e durante a gestação foi relatado por 10% das gestantes fumantes, 13% das ex-fumantes e 23% das não- fumantes. De fato, a literatura enfatiza que pessoas que bebem têm maior tendência ao tabagismo. Sobre os pais dos bebês, as gestantes relataram que 47 usavam bebidas alcoólicas (76%) e 6 deles eram usuários de outras drogas de abuso (10%), como maconha, crack ou cocaína.

CONCLUSÕES:
O estudo revelou o descuido dos pais em relação ao uso de drogas antes e/ou durante a gestação, em especial pelas mulheres. Houve predomínio do uso de cigarro e álcool, uma combinação potencialmente maléfica à saúde. De fato, foram detectadas alterações na duração da gestação, partos prematuros e alterações físicas nos bebês relacionadas ao hábito de fumar e/ou beber. Ainda, o uso destas drogas pode estar associado a outros fatores de risco presentes nesta população estudada, com destaque para o nível sócio-econômico-cultural, que impõe a esses indivíduos uma condição desfavorável de nutrição, moradia, bem-estar e outros aspectos de saúde. Aliado a isso, a ausência de uma educação formal mais sólida que garanta conhecimentos mínimos sobre os riscos químicos, ambientais e psíquicos à saúde materna, paterna e dos bebês, pode ser mais um fator agravante dessa situação. Neste sentido, é fundamental repensar as ações e políticas públicas dirigidas à saúde materno-infantil, a partir de uma visão mais ampla que privilegie a orientação sistemática e contínua para a saúde. Esta, associada a intervenções sociais e culturais, deveria constituir o principal meio para a inclusão destas populações menos favorecidas, proporcionando, assim, a oportunidade de transformação da nossa realidade.

Instituição de fomento: Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN - SP).



Palavras-chave:  DROGAS DE ABUSO, GESTAÇÃO, INCLUSÃO SOCIAL

E-mail para contato: celiapaulino@yahoo.com.br