60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 3. Toxicologia

AVALIAÇÃO DO USO DA SOROTERAPIA NOS ACIDENTES DO GÊNERO BOTHROPS NOTIFICADOS NOS CENTROS DE ASSISTÊNCIA E INFORMAÇÃO TOXICOLÓGICA DA PARAÍBA.

Fagner Neves Oliveira1
Thaíse Dantas Almeida2
Rodrigo Lins Rodrigues3
Celeide Maria Belmont Sabino Meira4
Helder Neves de Albuquerque5

1. Departamento de Biologia – Plantonista do Ceatox-CG/UEPB
2. Mestrado em Saúde Pública-UEPB
3. Departamento de Estatística-UEPB
4. Professora do Departamento de Estatística/UEPB/Pesquisadora do CEATOX-CG
5. Professor do Departamento de Biologia/UEPB/Orientador


INTRODUÇÃO:
No Brasil, são notificados cerca de 28.000 acidentes ofídicos por ano. Na Paraíba, foram notificados 418 casos entre 2006 e 2007, sendo 56,2% deles causados pelo gênero Bothrops. O tratamento específico é realizado com soro eqüino contra venenos de serpentes do mesmo gênero da que causou o acidente. A composição das toxinas ofídicas depende da variação interespécie, distribuição geográfica e idade do animal. Por este motivo, o soro antibotrópico (SAB) hoje é produzido a partir da imunização de cavalos com um poll de venenos de B. jararaca, B. jararacussu, B. moojeni, B. alternatus e B. neuwidi. A quantidade de ampolas de antiveneno a ser utilizada no tratamento dos acidentados é estimada a partir da quantidade de veneno que pode ser inoculada durante o bote, considerando-se a quantidade de veneno que pode ser extraída pelo homem, porém essa quantidade não é necessariamente a mesma que a serpente consegue inocular. A dose recomendada para o tratamento do envenenamento Botrópico é de 4, 8 e 12 ampolas para acidentes leves, moderados e graves, respectivamente. Contudo, em alguns casos são administradas mais ampolas do que o recomendado. Considerando esta realidade, o objetivo desta pesquisa foi avaliar o uso da soroterapia nos acidentes Botrópicos no Estado da Paraíba.

METODOLOGIA:
Nesta pesquisa avaliou-se o uso da soroterapia aplicada nos pacientes que foram vítimas de acidentes Botrópicos. Tratou-se de um estudo prospectivo, com abordagem quantitativa, no período compreendido entre julho e dezembro de 2007 nos Centros de Assistência Toxicológica da Paraíba, localizados no Hospital Regional de Urgência e Emergência de Campina Grande (Ceatox-CG) e Hospital Universitário Lauro Wanderley (Ceatox-PB). As variáveis analisadas foram: classificação dos casos de acordo com o Ministério da Saúde (leves, moderados e graves), número de ampolas administradas e evolução clínica (cura/óbito). Os dados foram coletados através das fichas do Sistema Nacional de Notificação de Agravos (SINAN), do Ministério da Saúde, e analisadas através de estatística descritiva no programa EpiInfo versão 2002. Os casos foram acompanhados até a evolução clínica final. Esta pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual da Paraíba, registrado sob o protocolo de nº 0063.0.133.000-07.

RESULTADOS:
No período estudado, foram notificados 102 casos de acidentes Botrópicos. Em 100 casos (98,0%) houve envenenamento e 99 casos foram tratados com soroterapia, sendo 84 com soro antibotrópico (SAB) e 15 com soro antibotrópico-crotálico (SABC). Dentre as ocorrências um paciente apresentou sinais de envenenamento, porém não foi administrada soroterapia e em um paciente que não apresentou sinais de envenenamento foram administradas 4 ampolas de SAB. Utilizaram-se 623 ampolas-517 (SAB) e 106 (SABC). Foram prescritas e aplicadas em média nos casos leves, moderados e graves 5,2 (±2,17), 6 (±2,9) e 10,8 (±1,7) ampolas, respectivamente. A soroterapia complementar foi feita em 24 pacientes (14,5%), o SAB em 22 pacientes e SABC em 2 pacientes, totalizando 113 ampolas. Para 13 pacientes o motivo da utilização da soroterapia complementar foi a permanência de sintomas e em 11 casos foi a permanência do TC (Tempo de Coagulação) alterado; porém, observou-se que não foi considerado o tempo de 24 horas após soroterapia para realização do novo TC. Em todos os pacientes tratados, foram realizadas pré-medicação, com a administração de fármacos anti-histamínico e corticóide, cerca de 10 a 15 minutos antes de iniciar a soroterapia. Não foram observadas reações alérgicas a soroterapia e nem óbitos.

CONCLUSÕES:
A soroterapia antiveneno no Estado da Paraíba tem sido realizada de forma condizente com a preconizada pelo Ministério da Saúde, sendo verificada a utilização em acréscimo apenas em casos leves. Porém, alguns outros problemas foram verificados como: tratamento específico de um paciente não envenenado e de outro que apresentou sinais e sintomas de envenenamento, mas não recebeu soroterapia especifica, bem como utilização em demasia de tratamento complementar sem a devida verificação da normalização do TC em 24 horas. Foi verificada a eficácia do tratamento pré-soroterápico, tendo em vista que não foi apresentada nenhuma reação alérgica a soroterapia. Por fim, percebeu-se a importância da presença dos profissionais de saúde nos Centros de Assistência e Informação Toxicológica, orientando a soroterapia adequada, bem como o número correto de ampolas a ser administradas. O correto e pronto atendimento prestado à população, com maior segurança e efetividade, têm evitado ônus para o Ministério da Saúde e salvado vidas.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Soroterapia, Serpentes, Antiveneno

E-mail para contato: fagnerbiologo@gmail.com