60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 71. Comunicação

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E MÍDIA REGIONAL: ENCONTROS E DESENCONTROS NA PARAÍBA

Jocélio de Oliveira1
Karliane Sousa Coelho1
Emmanuelle Monike Feitosa1
Cidoval Morais de Sousa1, 2

1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA/DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
2. Prof. Dr. Orientador


INTRODUÇÃO:
A discussão sobre o lugar da comunicação midiática nos processos de comunicação pública da ciência é controversa. Há pelo menos quatro debates em questão. O primeiro, de natureza restritiva, pontua que a mídia simplifica e desqualifica os conteúdos científicos e tecnológicos. Causa mais danos do que benefício às ciências. O segundo, enxerga na mídia não a oportunidade de divulgação do conhecimento ou da técnica, mas o espaço de construção da imagem pública do cientista. Em vez do conhecimento, a mídia dá proeminência ao pesquisador. O terceiro pontua a mídia como a ágora moderna, em que as questões de interesse público, dentre as quais a ciência e a tecnologia, são agendadas e colocadas na ordem do dia. O quarto, por fim, sinaliza para necessidade de “desprivatização” da ciência e enxerga a mídia, impressa ou eletrônica, como uma ferramenta que pode contribuir para tornar possível a apropriação dos conhecimentos científicos e tecnológicos pelo público leigo. Nessa direção aponta para três necessidades urgentes: democratização da pauta com a inclusão do público fonte e receptor; estabelecimento de um pacto ético e cidadão entre jornalistas e cientistas pela comunicação pública da ciência; e a construção de um processo permanente de qualificação de agentes divulgadores, pela crescente especialização da atividade científica. O presente trabalho se afilia aos esforços tematizados pelo quarto debate sumarizado acima e tem por objetivos apresentar os resultados de uma pesquisa que está sendo realizada no Estado da Paraíba tendo como foco o tratamento dispensado pela mídia impressa e eletrônica aos fatos de natureza científica e tecnológica. Nos jornais impressos buscou-se verificar os temas que despertam interesse dos jornalistas, as principais fontes consultadas e citadas, a origem dos conteúdos (se local, estadual, nacional, interrnacional), estratégias discursivas e enfoques jornalísticos mais utilizados. O mesmo procedimento adotou-se para a pesquisa envolvendo portais e sites de notícias em funcionamento no Estado. No caso da pesquisa tendo como objeto a televisão comercial regional, além dos aspectos quantitativos levou-se em consideração os processos internos de produção da pauta ciência, o nível de participação do público na definição dessa pauta e questões relacionados aos padrões de linguagem.

METODOLOGIA:
Para a realização do trabalho foram adotados os seguintes procedimentos técnicos e metodológicos. No caso do jornal impresso, a pesquisa tomou como corpus os cinco principais diários do Estado: O Diário da Borborema, o Jornal O Norte, o Correio da Paraíba, O Jornal da Paraíba e o estatal A União, o mais antigo de todos. Traçou-se um perfil de cada jornal e definiu-se como meta de pesquisa os últimos cinco anos (2002-2007). No caso dos sites e portais, o primeiro trabalho foi de identificação. A partir daí, foi tomado o período de dois anos (2006/2007) como referência de busca, fez-se um “rastreamento” nos arquivos disponíveis de matérias relacionando conteúdos científicos e tecnológicos. Já para a televisão os procedimentos foram os seguintes: primeiro se estabeleceu como corpus apenas as emissoras comerciais existentes no Estado, deixando de fora as TV´s Universitárias e Educativas. Começou-se a investigação pelos chamados arquivos públicos, a íntegra dos telejornais disponibilizados na página da emissora na Internet. Os arquivos foram baixados, selecionados e analisados seguindo orientação das técnicas de análise de conteúdo.

RESULTADOS:
Tem-se como resultado que a mídia, de um modo geral, produz matérias sobre ciência e tecnologia. Nos jornais impressos e nos portais há mais espaço para matérias agenciadas, que divulgam pesquisa estrangeira. A divulgação contempla tanto ciências humanas quanto exatas. Já no caso específico da TV, as matérias tratam de pesquisas locais e de natureza aplicada. A divulgação tem caráter circunstancial. Boa parte das matérias veiculadas na TV foi produzida em função de eventos científicos que incluíam a apresentação de trabalho, como Semana Nacional de Tecnologia, Encontros de Iniciação Científica e Mostra de Pós-graduação, dentre outros. Não há participação direta do público nos processos de produção da notícia. Quando muito, sugestões por telefone e e-mail. As assessorias de imprensa agendaram a maior parte das notícias produzidas e veiculadas na TV. Quanto aos sites e portais foram observados quatro movimentos: em primeiro lugar, nenhum deles tem uma estrutura de produção que permita deslocamentos, coberturas in loco; em segundo, precariedade nos arquivos. Poucos guardam o que veiculam; em terceiro, publica-se em grande quantidade matérias encaminhadas por agências internacionais; em quarto, o que foi divulgado localmente reproduzia, integralmente, os releases encaminhados pelas assessorias de imprensa.

CONCLUSÕES:
A questão posta não é a ausência de conteúdos de ciência e tecnologia na mídia, mas a qualidade e utilidade desses conteúdos: o público leigo está se apropriando dos conhecimentos divulgados? Eles (os conteúdos) estão, de fato, contribuindo para construir uma cultura científica? Em que medida? São agendas para a próxima pesquisa.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPQ

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  JORNALISMO CIENTÍFICO, MÍDIA, REGIONAL

E-mail para contato: cidoval@gmail.com