60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia

O ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO COMO PRÁTICA DE APROPRIAÇÃO DO MANEJO DO SOFRIMENTO MENTAL NO ÂMBITO DO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DE ARCOS/MG

Juliana Cristina Barbosa1
Maria dos Anjos Lara e Lanna1

1. PUC Minas – Arcos


INTRODUÇÃO:
A proposta deste trabalho é identificar como a apropriação do AT- Acompanhamento Terapêutico se configura como prática que permite a pacientes e familiares, vinculados ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) da cidade de Arcos – MG, bem como profissionais de saúde mental e estagiários apoderar-se e assimilarem o manejo da doença mental. O AT é uma estratégia de atenção ao portador de sofrimento mental, que pressupõe a presença do terapeuta em seu cotidiano. Essa prática potencializa as propostas da reforma sanitária e psiquiátrica brasileira no sentido de que as duas pressupõem a aproximação do cuidado em saúde cada vez mais, do território onde vive o sujeito e de sua autonomia. A estratégia do AT pressupõe no caso do adoecimento mental uma intervenção e participação das famílias dos portadores de sofrimento mental nos processos de tratamento. Por outro lado, pressupõe, também, o deslocamento do papel dos profissionais de saúde de um ato de cuidar protegido nas instituições de saúde para a cidade e/ou o espaço de vida do sujeito. Autonomia, implicação de sua família e mudança do local de trabalho dos profissionais de saúde estabelecem questões importantes, especialmente, a necessidade da avaliação do AT como estratégia terapêutica.

METODOLOGIA:
Foi utilizada a pesquisa qualitativa. Os participantes selecionados pelo critério de saturação foram seis pacientes e seis familiares ligados ao CAPS de Arcos-MG, e seis acompanhantes terapêuticos. Utilizou-se de entrevista semi-estruturada, com um roteiro específico para cada grupo a fim de verificar a concepção acerca da prática do AT, identificar quais as contribuições do AT para o manejo do sofrimento mental no cotidiano dos mesmos e investigar quais os recursos disponibilizados pelo AT são capazes de contribuir para que eles apoderem e assimilem o manejo do sofrimento mental. O objetivo da pesquisa foi explicado aos participantes que assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. As entrevistas foram realizadas em um local adequado que permitiu o sigilo, a concentração do entrevistado e a gravação das mesmas. Os pacientes e familiares foram entrevistados em suas residências e os acompanhantes terapêuticos em seus locais de trabalho de acordo com sua disponibilidade. Os dados foram coletados, transcritos, organizados e submetidos à análise, visando destacar a complexidade, a pluralidade da experiência e aspectos norteadores dos objetivos da pesquisa, intercalando-os com a teoria consultada que integra e amplia conceitualmente elementos significativos dos mesmos.

RESULTADOS:
Todos os pacientes passaram pela experiência do AT, tiveram acesso a essa prática através do CAPS e a freqüência dos encontros era uma vez por semana. As idades variaram de 34 a 55 anos. Sobre as concepções acerca do AT, pacientes, familiares e acompanhantes terapêuticos fizeram descrições conceituais e descreveram aspectos relacionados às atividades propostas, a qualidade, a finalidade e as dificuldades encontradas ao lidarem com a prática. No que se refere às contribuições do AT para o manejo do sofrimento mental no cotidiano, os participantes destacaram os efeitos do acompanhamento no sentido de melhora, a capacidade de suporte emocional, o suporte à rotina do cotidiano, os benefícios para rede pública de saúde, os efeitos nas relações familiares e a possibilidade de prevenir possíveis crises. Quanto aos recursos disponibilizados pelo AT capazes de contribuir para que pacientes, familiares e acompanhantes terapêuticos se apoderem e assimilem o manejo do sofrimento mental, os participantes destacaram: o acolhimento, o auxílio cotidiano, o esclarecimento sobre o AT, a capacitação de profissionais para exercer essa prática, o diálogo, a socialização, as atividades terapêuticas e o acolhimento à família.

CONCLUSÕES:
Esta pesquisa ainda não foi concluída. Espera-se que os resultados encontrados auxiliem serviços substitutivos a reformular e/ou implantar o AT em suas intervenções, considerando os dados alcançados por essa pesquisa e ao mesmo tempo permita a ampliação da proposta de uma assistência integral e humanizada ao portador de sofrimento mental e sua família. Neste sentido, a partir de uma proposta de investigação consistente e integrada espera-se que a pesquisa possa também fornecer a composição de dados fidedignos capazes de favorecer a disseminação, esclarecimento e reformulação de alternativas e estratégias de reabilitação da saúde mental possibilitando maior credibilidade e confiabilidade para a utilização da prática do AT enquanto alternativa de desenvolvimento de resiliência e assimilação do manejo do sofrimento mental.



Palavras-chave:  Reforma psiquiátrica, Acompanhamento terapêutico, Sofrimento mental

E-mail para contato: jupsic@yahoo.com.br