60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 65. Comunicação e Educação

AGROECOLOGIA NÃO É PAUTA DA IMPRENSA BRASILEIRA

Ana Paula da Silva1
Julieta Teresa Aier de Oliveira2
Sonia Maria Pessoa Pereira Bergamasco3

1. Doutoranda - FEAGRI-UNICAMP / Pesquisadora CEPEA-ESALQ-USP
2. Dr. / Conselho Integrado de Planejamento e Gestão / FEAGRI-UNICAMP / Orientador
3. Prof. Dr. / Conselho Integrado de Planejamento e Gestão / FEAGRI-UNICAMP


INTRODUÇÃO:
Há cerca de cinco décadas, a agropecuária brasileira segue um único paradigma, que teve evoluções, mas não rupturas. Apenas recentemente vozes alternativas ao modelo intensivo em insumos começaram a ser ouvidas no Brasil. O despertar para tal realidade já tem resultados. A maioria deles, porém, não avança em direção a mudanças capazes de eliminar as causas reais de problemas ambientais e sociais que explodem. Para outros, contudo, o interesse por encontrar um equilíbrio entre o meio ambiente e o homem sem desconsiderar suas necessidades de produzir/consumir com algum conforto, tem motivado o estudo e disseminação de informações efetivamente focadas em sustentabilidade. Nesse contexto, o conceito e prática da agroecologia é atraente. Trata-se de abordagem de agricultura que integra aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, na produção de alimentos mais saudáveis e matérias-primas para outros setores. Tem como princípios o uso racional dos recursos naturais, a valorização e resgate de conhecimentos das culturas locais. Esta pesquisa objetivou analisar se agroecologia faria parte da cobertura de jornais e revistas de grande circulação e se seus leitores teriam chance de conhecer minimamente essa forma de relação entre o homem, meio ambiente e produção agropecuária.

METODOLOGIA:
Esta análise acerca do tratamento que a imprensa brasileira dispensa ao tema agroecologia se deu através do banco eletrônico de notícias dos veículos selecionados, realizando-se busca via palavra-chave, com o cuidado de excluir repetições. Além de agroecologia, foram consultadas as inserções de agroecológico(s) e agroecológica(s). A contabilidade do total de ocorrência desses termos, repete-se, foi feita em toda a base eletrônica de cada veículo, mas a análise do contexto e significado atribuído às palavras-alvo desta análise se restringiu às publicações de janeiro de 2006 a junho de 2007. Foram selecionados três jornais impressos diários de grande circulação e uma revista da maior editora da América Latina. Entre os jornais impressos, optou-se pela Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. O objetivo seria analisar agroecologia em meio a todos os demais assuntos tratados por jornais de pauta não segmentada. Procurou-se também observar a cobertura de agroecologia em veículos especializados em economia e, para tal, foram destacados o jornal Valor Econômico e a revista Exame, semanário da editora Abril. De forma complementar, foi observada a inserção da temática agroecologia no conjunto das revistas da Editora Abril e no website Google, em sua segmentação “Notícias”.

RESULTADOS:
Tendo em vista o teor de agroecologia, sua abordagem pela imprensa caberia especialmente às editorias de Ciência e de Agropecuária - ou agronegócio, devido à prevalência do econômico a esses assuntos. Esta pesquisa, porém, mostrou que o termo, ou melhor, a citação de agroecologia – citação porque praticamente não há discussão do conceito – aparece basicamente em matérias sobre questão agrária relativas ao movimento MST, que é pauta do caderno “Nacional”, e sobre transgênicos, que oscila entre páginas de Nacional, Agronegócio e de Ciência, dependendo do enfoque. Em Agronegócio, agroecologia alcança pouca ou nenhuma ressonância. Na editoria de Ciência, por sua vez, questões ambientais têm sido freqüentes, com forte concentração em pautas relacionadas ao aquecimento global. Porém, quase não se observam discussões sobre mudanças dos sistemas produtivos, sob ponto de vista ambiental e social, por si. Em outras palavras, a imprensa se ocupa em participar (questionando e comunicando) de soluções para a equação do aquecimento global, mas não se vêem matérias que questionam o “sistema” produtivo vigente, o qual tem gerado degradação ambiental e social, e que em boa parte agrava o problema do aquecimento. Na verdade, agroecologia ainda não está na pauta na grande imprensa nacional.

CONCLUSÕES:
Quando se está fora da pauta dos meios de comunicação de massa, as chances de ser conhecido e ganhar apoio de grandes públicos são consideravelmente reduzidas. E o que se constata é que a temática agroecologia ainda não está inserida na pauta dos grandes meios. As causas desta ausência requerem nova investigação, mas se apresentam aqui duas hipóteses. A primeira, já destilada no correr da análise, vai ao encontro do desinteresse proposital pelo assunto, tendo em vista que choca com as formas convencionais de produção e de poder vigentes. Outra eventual razão para a ausência de agroecologia na grande mídia impressa recai sobre a ignorância de jornalistas que não saberiam o que é efetivamente agroecologia e que teriam informações apenas parciais sobre o contexto que entusiastas deste conceito o defendem. Neste caso, caberia a estes defensores da agroecologia se “comunicar” com eficiência com profissionais da imprensa. Essa tarefa não necessariamente significaria uma transformação na cobertura feita até então, mas, poderia fomentar, ao menos em algumas editorias, matérias sobre a temática, sobre experiências conduzidas com essas bases. A comunicação da ciência é uma ferramenta de construção da cidadania e, quando há falhas nesta comunicação, o grande prejudicado é o cidadão.



Palavras-chave:  agroecologia, imprensa, ciências

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