60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 1. Ética

O CONCEITO DE DECADÊNCIA EM NIETZSCHE

Thais Helena Smilgys1
Vânia Dutra de Azeredo1

1. puc-campinas


INTRODUÇÃO:
Em sua obra Crepúsculo dos ídolos, Nietzsche aponta a um grave problema, quase uma doença, entre os filósofos, qual seja a luta constante deste contra seus afetos. É por meio da demonstração da introspecção contraposta aos instintos que Nietzsche fundamenta esta problemática. Se de um lado o homem se abstém de toda manifestação dos afetos, de outro eleva a razão ao nível do auto-conservadorismo. Assim, é preciso ter em mente que, para Nietzsche, todas as manifestações em termos de querer, sentir e pensar são expressões das relações dos impulsos entre si. Os existentes se compõe de uma multiplicidade de impulsos de se digladiam permanentemente, pois cada organismo, cada órgão mesmo tem sua efetividade a partir da alternância entre dominação e subjugação que propriamente o manter, a saber a hierarquia tanto entre um impulsos quanto entre homens. Neste sentido, a decadência seria propriamente o declínio fisiológico da vida devido às valorações que a obstruem e por isto estaria intimamente ligada à anarquia e desregramento dos instintos. A partir de Sócrates tem-se propriamente que o homem governado pelos instintos estaria tão longe da razão quanto da felicidade e por isto deveria negar-se o lado obscuro da aparência regida pelos sentidos, que não davam senão a impressão do mundo e não seu conhecimento. Quando há a instituição desta fórmula socrática razão=virtude=felicidade, há igualmente a instituição da fórmula para a decadência, o ter de combater os instintos: “este ódio de tudo que é humano, de tudo que é animal e mais ainda de tudo que é matéria, este horror dos sentidos...este temor da felicidade e da beleza, este desejo de fugir de tudo que é aparência, mudança, dever, morte, esforço, desejo mesmo, tudo isso significa...vontade de aniquilamento, hostilidade à vida, recusa em se admitir as condições fundamentais da própria vida”; daí a necessidade de Nietzsche de combater tudo que a razão instituiu e sobretudo dividiu, a saber, a divisão em dois mundos: o verdadeiro (real) do falso (aparente). No limite, o que Sócrates faz é iniciar todo o processo de rebaixamento do homem no ideal do homem. Ao empenhar-se em auscultar este ídolos formados pela tradição, o filósofo coloca-os em relação direta com a decadência, já que devido aos grandes postulados filosóficos, tais como a busca da verdade e do ideal, acusa uma total ausência de hierarquia entre os impulsos determinantes da vida. Há então uma reversão de configurações hierarquizadas e a decadência não pode ser senão o resultado desta inversão. Assim, se a lógica dos impulsos pode ser entendida como a hierarquia destes numa cadeia fisiológica/orgânica em que se preserva a vida, igualmente a decadência pode estar associada aos afetos de maneira inversa. A decadência é, portanto, entendida aqui como aquele estado em que o homem se distancia da vida.

METODOLOGIA:
O desenvolvimento do trabalho se dará por pesquisa bibliográfica, a saber, leituras; especialmente nas que se ligam, de alguma forma à obra Crepúsculo dos Ídolos e reuniões semanais dos aluno-pesquisador – pautando-se em debates e exposição ao grupo -, conforme o proposto pelo professor-orientador e por ele organizado

RESULTADOS:
O presente projeto de estudo busca analisar o conceito de decadência em Nietzsche em sua relação com a filosofia a partir do estabelecimento de uma estreita relação entre estimativas e conservação. Verificará, ainda, o possível vínculo existente entre os conceitos de decadência, valor e vida no pensamento do filósofo.

CONCLUSÕES:
A crítica que Nietzsche faz ao idealismo metafísico focaliza tanto categorias deste quanto os valores morais que o condicionam, por isto sua luta acirrada contra o cristianismo, a unicidade e supremacia da alma. A tradição filosófica consagrou a unidade do sujeito de conhecimento colocando a consciência do sujeito racional como a sede do conhecimento. Ao fazer isso, procurou desprezar toda a exterioridade e anular todas as circunstâncias que envolvem tal sujeito, considerando-as como obstáculos que impediram que o pensamento se desprendesse das aparências e atingisse, enfim, a essência onde residiria a verdade de cada objeto do conhecimento. A própria distinção entre sujeito e objeto é a invenção do pensamento filosófico tradicional, a qual segundo Nietzsche precisa ser superado. Com isto, o filósofo alemão rompe com a tradição e faz surgir um novo tipo de leitor, a saber, o intérprete e avaliador. Ora, o que Nietzsche propõe é que nos libertemos da culpa; sentimento marcadamente cristão, e que devemos nos lançar à ação – é a valorização da instabilidade, uma nova possibilidade de sentir, um sentir de outro modo pautado na verdade entranhada em nossa carne, a verdade da vida em detrimento àquela absoluta e única. A filosofia de Nietzsche procede a uma desmistificação de uma religião, de uma moral e de uma filosofia universais. Seria a necessidade de proximidade de si por meio da experiência transfiguradora da dor em que não se teme a si mesmo e não se espera nada vergonhoso de si.

Instituição de fomento: Cnpq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  decadência, valor, vida

E-mail para contato: thsmilgys@gmail.com