60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia

A PSIQUIATRIA PREVENTIVA E O CONCEITO DE SUJEITO BIOPSICOSSOCIAL

Alexandra Avelar Tavares1

1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho pretende demonstrar através de uma perspectiva histórica, a relação entre o conceito de sujeito biopsicossocial e a psiquiatria preventiva. Pode-se dizer que ao longo de sua história, a psiquiatria adotou diferentes paradigmas teóricos. Interessa-nos analisar o momento em que ocorre a substituição da psiquiatria dita clássica pelo modelo preventivo de atuação proposto pelos movimentos de Reforma Psiquiátrica. Para que o lugar de um novo discurso psiquiátrico fosse estabelecido foi necessário definir a psiquiatria em torno de um único paradigma conceitual – o sujeito biopsicossocial passara então a ser um conceito onde se encontravam incluídos todos os fatores sociais, psicológicos e físicos relacionados à etiologia, prevenção e manutenção da saúde mental. Pretende-se ainda demonstrar que a atual prática de assistência em saúde mental sofre as repercussões desse processo de substituição de paradigmas, responsável pela implantação de uma prática psiquiátrica preventiva e que essa mesma história está na base de muitas das questões clínicas e institucionais pertinentes às práticas psicológicas contemporâneas.

METODOLOGIA:
Para a investigação da relação proposta entre a prática psiquiátrica preventiva e o conceito de sujeito biopsicossocial adotou-se a leitura da obra de Jurandir Freire Costa. Em “A História da Psiquiatria no Brasil”, o autor aponta para a existência de características comuns entre o modelo psiquiátrico adotado pela Liga Brasileira de Higiene Mental no início do século XX e as atuais práticas preventivas de assistência em saúde mental. O processo metodológico de construção dos paradigmas teóricos característicos aos dois modelos comparados é evidenciado e aqui utilizado para demonstrar as variáveis presentes no conceito de sujeito biopsicossocial. Recorre-se ainda às leituras sobre a Reforma Psiquiátrica e sobre conceitos da psicologia social.

RESULTADOS:
A proposta psiquiátrica preventiva surge como uma alternativa à psiquiatria dita clássica. Dois foram os elementos propulsores das propostas terapêuticas que pretendiam substituir a psiquiatria organicista: a descoberta de medicamentos psicotrópicos e a adoção da psicanálise nas instituições da psiquiatria. Todos os movimentos que exigiam a reforma do paradigma psiquiátrico adotado então baseavam-se na crítica à assistência baseada no modelo hospitalocêntrico, herdeiro do “hospital geral” e dos “asilos”. A nova psiquiatria, representada pela Psicologia Comunitária Americana, pela Psiquiatria de Setor Francesa e pela Comunidade Terapêutica Inglesa deveria ser capaz de ultrapassar os muros dos hospitais e possibilitar o acesso do doente mental à comunidade. Ao invés de curar o doente através do isolamento social e de processos cirúrgicos, a psiquiatria atuaria de forma preventiva, intervindo diretamente no social. A psiquiatria preventiva se configuraria então como uma proposta de atuação no campo da assistência mental, que diferentemente do modelo organicista, considera o campo social onde vive e se desenvolve o indivíduo, ao invés de se ater ao modelo médico centrado na doença, ou ao psicológico, centrado na pessoa. Assim, os focos incluídos no conceito de sujeito adotado passam a ser as variáveis biopsicossociais.

CONCLUSÕES:
É inegável que a adoção de uma proposta preventiva de assistência psiquiátrica garantiu a sua humanização. No entanto, a crítica que se faz a mesma refere-se à eficácia da proposta terapêutica adotada. De acordo com COSTA, “a psiquiatria preventiva nascera comprometida com finalidades político-sociais distantes da problemática específica da saúde-doença mental” (p. 12). A prática preventiva não nascera vinculada com a criação de um propósito terapêutico que fosse mais eficaz e humano que o adotado até então. Ela é uma proposta que visa restabelecer o lugar do discurso psiquiátrico no campo social. Embora a ciência reconheça o homem como um ser biopsicossocial, ainda é difícil uma atuação terapêutica considerando simultaneamente estas três linhas.



Palavras-chave:  Psiquiatria Preventiva, Sujeito Biopsicossocial, Reforma Psiquiátrica

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