60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

O EMPODERAMENTO DE MULHERES OPERÁRIAS DA FABRICAÇÃO DE REDES: UM ESTUDO EDUCACIONAL EM SÃO BENTO – PB

Ligia Pereira dos Santos1
Kedna Karla Ferreira da Silva1

1. Universidade Estadual da Paraíba - UEPB


INTRODUÇÃO:
A questão central deste estudo representa uma análise da influência da categoria de gênero sobre as expectativas profissionais e educacionais femininas. Acreditando que conhecer o lugar ocupado pelo trabalho da mulher reitera a nossa compreensão sobre como são reforçadas as relações iniquânimes de gênero e como os estereótipos são construídos historicamente (BADINTER, 1993) acerca das atribuições impostas à mulher (habilidade manual, paciência e flexibilidade). As mulheres foram despindo-se das indumentárias de donas de casa para batalhar por oportunidades mais justas no mercado de trabalho, entretanto percebemos a existência de uma continuidade da divisão sexual do trabalho que reforça modelos tradicionais de gênero, gerando inaptidão feminina para algumas profissões corroborando com a "naturalização" de desvantagens no que se refere à exclusão escolar, ascensão a cargos/ carreiras de liderança e salários das mulheres. As relações iniquânimes de gênero que se faz com relação a grande concentração de mão-de-obra masculina presente nas fábricas em questão, tendo como “falsa” teoria, que sustenta essa supremacia masculina sobre a categoria feminina, a mitologia de que “isso é trabalho de homem, isso é trabalho de mulher”, desconsiderando totalmente, a grande relevância de empreendimento feminino, nesse contexto no início da fabricação de redes, na década de 20, mas especificamente no ano de 1927, com a marcante colaboração de Maria Serafim, da Várzea da Serra, SB. Priorizando atualmente o trabalho formal para os homens (fábricas) e o informal para as mulheres (casa), pois, com base nos dados colhidos, apenas 2 mulheres em toda a cidade, trabalha diretamente na fabricação da rede, ou seja, na tecelagem, ficando as demais mulheres mergulhadas ou a mercê da informalidade, acabamento das redes (entrançar, torcer, empunhar, fazer caréu, varanda, entre outros).

METODOLOGIA:
A pesquisa empírica foi realizada com as mulheres que trabalham diretamente na fabricação, produção de redes e são "chefes de família" da cidade de São Bento-PB, localizada no sertão nordestino paraibano. Privilegiamos a história oral (AMADO, FERREIRA, 2002) das mulheres e as formas como elas percebem o mundo do trabalho e educacional frente à interação com o gênero masculino. A trajetória da força de trabalho feminina foi delineada em termos históricos a partir de uma abordagem sociológica. Consideramos a atividade laborativa e a formação educacional das mulheres fabricantes de rede como fio condutor para a compreensão de como os fatores econômicos interferem nas relações de gênero.Sendo o material da pesquisa coletado principalmente por meio de entrevista. Nas trajetórias da vida foram analisadas as formas como elas percebem o mundo do trabalho e o educacional, frente a interação com o gênero masculino.

RESULTADOS:
A análise das experiências trabalhistas e educacionais, são caracterizadas pela luta cotidiana, pela sobrevivência e pela busca da independência, entretanto, percebemos a permanência da divisão sexual do trabalho, limitando-as para algumas profissões colaborando com a “naturalização” de desvantagens no que se refere a exclusão escolar, ascensão a cargos, carreiras de liderança e salários das mesmas.As mulheres pesquisadas são chefes de família, trabalhadoras, na faixa etária entre 18 e 49 anos, algumas casadas, outras divorciadas, sobrevivendo com renda familiar de um salário mínimo ou inferior ao mesmo. A maioria iniciaram suas trajetórias ocupacionais desde a infância, tendo que renunciar a sua escolaridade em prol do seu próprio sustento. Quase todas encontraram no emprego da fabricação das redes, uma possibilidade de ingresso no mercado de trabalho, traço em comum para as mulheres com baixa escolaridade e com qualificações profissionais e educacionais. A renda familiar da maioria das mulheres pesquisadas é gerada através de seu desempenho no trabalho informal das redes, embora, a maioria viva com seus companheiros, sendo alguns empregados, mas que nem sempre contribuem de forma qualificada para com as despesas do lar, nesse sentido, as mesmas se rotulam como chefes de família

CONCLUSÕES:
Partindo do pressuposto das inúmeras mudanças e conquistas obtidas, através da busca de transformação por um espaço e reconhecimento de seu papel na sociedade, que não fosse apenas de dona de casa, as mulheres indignadas começam a lutar contra uma estrutura ideológica patrimonial e machista que tem negado as mesmas o seu pleno desenvolvimento, omitindo a sua contribuição histórica. As estratégias implementadas nos locais de trabalho ainda são marcadas por valores culturais e sociais que definem os lugares dos homens e das mulheres, não só diferenciados, mas também desiguais. Conforme aponta os dados da pesquisa, existe uma notória desigualdade no que se refere a participação das mulheres nas fábricas, cabendo a maioria delas o setor informal, ou seja, fazer o acabamento das redes em suas residências, tendo hora apenas para iniciar sua jornada de trabalho, sem horário definido para acabar, dando continuidade ao trabalho iniciado pelos homens na fabricação das redes. Existe ainda um grande número de homens trabalhando nas fábricas, contrariamente ao trabalho imposto as mulheres, ou seja, iniciando e largando sua trajetória de trabalho pautado nas definições na qual lhe assegura a lei trabalhista, diferentemente da condição de trabalho feminina.Desta forma o trabalho e a escolarização são estratégias que buscam para aumentar a capacidade de realizar as mudanças necessárias para a melhoria da qualidade de vida e firmar a autonomia feminina, que para isso constróem habilidades,capacidades individuais, coletivas a fim de garantir sua inserção e manutenção no mundo do trabalho. Este fato não só ajuda a resolver problemas e necessidades imediatas de ordem econômica, como também estimulam a participação das mulheres no espaço público. Essa participação feminina é fundamental para a construção de autonomia nos âmbitos político, cultural e social. Torna-se assim um espaço de empoderamento para as mulheres, mesmo considerando que uma das características das mulheres das camadas populares é o escasso poder de decisão sobre sua própria vida.



Palavras-chave:  Trabalho, Gênero, Educação

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