60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental

AQUECIMENTO GLOBAL E CRISE ENERGÉTICA COMO TEMA PARA UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA

Marina Battistetti Festozo1
Juliana Pereira Neves1
Washington Luiz Pacheco de Carvalho2

1. Programa de Pós Graduação em Educação para Ciência- UNESP – Bauru
2. Depto. de Física e Química da Faculdade de Engenharia - UNESP - Ilha Solteira


INTRODUÇÃO:
Este trabalho discute o potencial de uma prática educativa ambiental que explorou a complexidade e contradições intrínsecas aos fenômenos socioambientais, bem como aos processos de produção e divulgação científica, através da discussão de conteúdos relacionados ao tema central “Aquecimento Global e Crise Energética”. A atividade desenvolveu-se junto a alunos do segundo ano do Ensino Médio do Colégio Franciscano Coração de Maria, na cidade de Penápolis, SP, nos moldes de um mini-curso (12h). De acordo com os pressupostos da Educação Ambiental Crítica, a educação relaciona-se dialeticamente com a sociedade e, portanto, constitui importante instrumento no processo de transformação social, ao capacitar os sujeitos à percepção da complexidade dos problemas ambientais causados pela ação, histórica e intencional, dos homens sobre a natureza, em uma sociedade marcada por relações antagônicas dos homens entre si.

METODOLOGIA:
A investigação foi desenvolvida a partir de uma abordagem qualitativa de pesquisa. Os dados foram obtidos junto a vinte e dois alunos, através de duas estratégias: a) gravações das discussões promovidas durante o mini-curso, a partir de textos trabalhados em grupos, documentários, filmes e também pesquisa realizada em casa; b) questionário com cinco questões abertas sobre as temáticas: aquecimento global, crise energética, ciência, relação homem-natureza e avaliação do mini-curso. Com as questões pretendia-se que os alunos expressassem livremente suas idéias. A análise dos dados foi iniciada durante o processo educativo, através de reflexões coletivas. Posteriormente as discussões foram transcritas e os dados coletados organizados em categorias, identificando as tendências relevantes. Foi utilizado como referencial teórico-metodológico a Hermenêutica. Esta interpreta os sentidos e significados da escrita ou fala, tanto em sua subjetividade (o intérprete) quanto em sua objetividade (o próprio texto), considerando o contexto histórico, social e psicológico em que eles se inserem.

RESULTADOS:
Os resultados obtidos a partir das discussões proporcionadas durante o mini-curso e as respostas ao questionário, nos levaram a identificar algumas tendências contraditórias no pensamento dos alunos, demonstrando o distanciamento entre a memorização de teorias e a aprendizagem significativa, em que o aluno realmente é modificado a partir dos conteúdos que incorpora. Ao trabalharem textos e filmes que enfocavam variados aspectos sobre questões da ciência, tecnologia, sociedade e ambiente, os alunos, no contexto de sala de aula, foram capazes de apresentar argumentos mais consistentes, complexos e coerentes, que nas situações em que eles se expressaram independente de embasamento teórico e do contexto de trabalho em grupo (como, por exemplo, nas respostas ao questionário). Notadas vezes observou-se interesse dos alunos em demonstrarem-se críticos, no entanto, acabavam por apresentar expressões clichês e de senso comum. A superficialidade observada em determinadas falas dos alunos pode indicar como a racionalidade científica, a serviço da sociedade capitalista, promove nos ambientes educativos um conhecimento técnico, fragmentado e desconexo, o que impede que os sujeitos compreendam a síntese de múltiplas determinações que configura o todo concreto, encerrando-os em sua semiformação.

CONCLUSÕES:
Apesar das limitações prático-metodológicas, acredita-se que a intervenção pedagógica realizada, que procurou fugir das estratégias tradicionais, propiciou um avanço na nossa compreensão sobre os sintomas do pensamento formatado existente entre os jovens educandos. A tentativa de se inserir no mini-curso elementos culturais que auxiliem no desenvolvimento do pensamento abstrato, necessário para uma visão mais complexa da realidade, nos fez ver que se de um lado existem obstáculos oferecidos pela cultura e tipo de sociedade na qual estamos inseridos, de outro, existe grande potencialidade entre os alunos que necessita ser adequadamente acionada. O mini-curso nos permitiu inferir que o destrato à educação nos níveis iniciais contribuem para as dificuldades e estranhamento que os jovens apresentam quando solicitados a perceber a complexidade de certas questões. A demora, negação ou timidez em estabelecer compromissos com questões social e ambientalmente amplas são reveladoras do que a nossa sociedade tem produzido. Neste sentido, acreditamos que para que a educação seja instrumento de transformação e formação cidadã, ela deve romper com a fragmentação e superficialidade no tratamento de questões sócio-ambientais, características estas que são próprias dos processos de semiformação.



Palavras-chave:  Educação Ambiental Crítica, Crise Energética, Semiformação

E-mail para contato: marina@festozo.com.br