60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho

CONSCIÊNCIA EPISTEMOLÓGICA, FUNÇÃO DO CONHECIMENTO NO MUNDO CIENTÍFICO E A QUESTÃO DO PLURALISMO

Divanir Eulália Naréssi Munhoz1
Lúcia Helena Barros do Valle2
Maria Fátima Balestrin3

1. Dra. em S.Social (PUCSP)-Univers. Est. Ponta Grossa-PR-UEPG
2. Dra. em Educação (PUCSP) -Univers. Est. Ponta Grossa-PR-UEPG
3. Mestre Ciências Sociais Aplic. (UEPG)-Secret. Est. Educação


INTRODUÇÃO:
O presente estudo fundamentou-se na importância de o profissional das mais diversas áreas, mas sobretudo o profissional das ciências humanas e sociais, ter clareza, no desempenho de suas atividades no cotidiano da prática, na pesquisa e na extensão, do porquê da importância do conhecimento e da natureza do conhecimento de que pode/deve valer-se para melhor enfrentar os desafios que se lhe apresentarem no processo da prática profissional e da construção do saber científico. Seus objetivos foram conhecer: a)- o nível de consciência de diferentes profissionais dessas áreas, a esse respeito; b)-o que entendem por utilidade do conhecimento nos referidos planos da prática profissional propriamente dita, da investigação científica e dos projetos de extensão; c)-em que etapas de seu desempenho nesses planos o conhecimento já construído precisa necessariamente se fazer mais presente; d)-a que tipo de conhecimento o profissional/pesquisador pode/deve recorrer para enfrentamento dessas etapas do seu caminho como profissional/estudioso; e)- qual o entendimento que os sujeitos ouvidos têm de pluralismo, e como a perspectivação plural é por eles aceita e utilizada na prática profissional e/ou nos procedimentos de investigação e análise da realidade.

METODOLOGIA:
Estudo de natureza qualitativa, desenvolvido com profissionais de diferentes subáreas das ciências humanas e sociais e com pós-graduandos de programas lato e stricto sensu, na cidade de Ponta Grossa- estado do Paraná. Fundamentou-se no pensamento dialético, que busca perspectivar e analisar a realidade como síntese de múltiplas determinações, como parte de diferentes níveis de totalidade e com base na lógica da contradição. Como procedimento, foi utilizada entrevista semi-estruturada com dez sujeitos do universo referido, cuja escolha procurou seguir o critério de diversidade de áreas de formação e de temáticas por eles estudadas. Uma revisão bibliográfica sobre conhecimento científico, visão de mundo, consciência epistemológica, pluralismo e ecletismo fundamentou a elaboração das questões norteadoras das entrevistas e a conseqüente análise das respostas, análise essa também significativamente subsidiada pela experiência das pesquisadoras no tratamento do tema e na orientação de monografias, dissertações e teses. Essa revisão de literatura e essa experiência constituíram base sólida para a referida análise a partir dos aspectos axiais das informações obtidas.

RESULTADOS:
As respostas revelam que os pesquisados nem sempre têm clareza a respeito da lógica de pensamento que orienta seu olhar para a realidade, que nem sempre estão alertas para a necessidade de se perguntarem sobre a natureza de sua consciência epistemológica. Apesar disso, em termos de utilidade do conhecimento, nos planos da prática profissional, da investigação científica e dos projetos de extensão, os sujeitos ouvidos entendem, via de regra, que ele é imprescindível para orientar as perguntas a serem dirigidas à realidade, no processo de investigação, e para analisar as respostas obtidas da realidade, no sentido de compreensão, interpretação, explicação dessas respostas em relação ao contexto em que se inserem e à singularidade com que se apresentam esses objetos. Quanto ao tipo de conhecimento a que o profissional/pesquisador pode recorrer para embasamento de seus projetos de ação na realidade e/ou para orientar suas pesquisas sobre ela - especialmente na etapa da análise dos dados coletados - ainda existe muita dúvida/insegurança entre os pesquisados no que se refere ao uso de teorias parciais/intermédias como recurso complementar à potencialidade de uma teoria social/principal, por confundirem pluralismo com ecletismo.

CONCLUSÕES:
Desse estudo conclui-se a necessidade de os cursos de graduação e pós-graduação, no caso os da área de ciências humanas e sociais, desenvolverem discussões sobre consciência epistemológica: o profissional/pesquisador ter transparente os princípios que aceita em relação ao que pode constituir um conhecimento confiável em termos de objetividade, de verdade, de condições de produção, com destaque, neste último aspecto, para a relação sujeito-objeto no processo de conhecer a realidade. E diante da insuficiente diferenciação, constatada nos entrevistados, entre pluralismo e ecletismo, cabe a esses cursos, no seu processo de desenvolvimento, esclarecê-los. Ecletismo implica em tentativa de conciliação de teses incompatíveis porque axialmente contrárias. Decorre em muito da ausência/insuficiência de reflexão do profissional/cientista sobre sua consciência epistemológica, sobre os valores que compreendem a lógica do seu pensar. Já o Pluralismo consiste na relação entre uma teoria social, de alcance macroscópico, e teorias parciais, capazes de auxiliar no entendimento da lógica própria que rege aspectos particulares da realidade estudada; teorias diversas, mas não axialmente contrárias. Deriva do entendimento de que os fenômenos da realidade constituem síntese de múltiplas determinações.



Palavras-chave:  conhecimento científico, consciência epistemológica, pluralismo

E-mail para contato: denmunhoz@uol.com.br