60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural

DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA AGRICULTURA FAMILIAR NOS ASSENTAMENTOS RURAIS: OS JOVENS EM QUESTÃO

Julieta Teresa Aier de Oliveira1
Marcia Regina de Oliveira Andrade2
Solange Tola Delfini3

1. Dr. / Conselho Integrado de Planejamento e Gestão / FEAGRI-UNICAMP
2. Dr. / Diretoria de Formação, Pesquisa e Acervo / Fundação Itesp
3. Ms. / Coordenadoria de Ensino Técnico / CEETPS


INTRODUÇÃO:
Educação, trabalho, e cultura e lazer são as principais questões dos estudos recentes sobre os jovens rurais brasileiros, questões estas que, segundo a literatura, norteiam a decisão dos jovens, filhos e filhas de agricultores familiares a permanecerem ou saírem do campo. Diante deste cenário, um contexto importante para o estudo dos jovens são os assentamentos rurais compostos por famílias de agricultores beneficiários da política estatal de reforma agrária. Isto porque neste processo de reconstrução social e econômica das famílias no campo, é fundamental a questão da permanência ou não dos jovens nos assentamentos, na medida em que estes se constituem como possibilidade de revitalização dos projetos de reprodução social da família, como também de garantia de continuidade dos resultados da política de assentamentos na construção da cidadania no campo. Neste trabalho, especificamente, pesquisou-se os condicionantes sociais, econômicos, culturais e subjetivos da continuidade geracional da agricultura familiar em dois assentamentos localizados na região de Campinas, estado de São Paulo. Esta análise foi desenvolvida em termos da participação dos jovens nas decisões gerenciais e de desenvolvimento sustentável do assentamento e no processo de geração de renda das famílias.

METODOLOGIA:
Entrevistas orais orientadas por questionários com perguntas abertas e fechadas com foram realizadas com 100 jovens, rapazes e moças, com idade entre 15 e 24 anos, residentes nos assentamentos Sumaré 1 e Horto Vergel, localizados respectivamente nos municípios de Sumaré-SP e Mogi-Mirim-SP. Ademais, aplicou-se um questionário com questões fechadas com os pais destes jovens para caracterização os sistemas de produção agrícolas, adotando-se como referência a Metodologia de Sistemas Agrários, além de como outro questionário com questões abertas visando captar suas percepções em relação aos jovens e expectativas em relação aos próprios filhos(as). Grupos focais com os jovens, observações de campo e pesquisa documental compuseram as técnicas complementares de pesquisa. Em relação aos assentamentos, adotou-se os seguintes critérios de seleção: (i) proximidade com centro urbano, pela influência que podem exercer no modo de vida, aspirações e inserção dos jovens no mercado de trabalho, (ii) projetos produtivos de exploração agrícola dos lotes implantados, (iii) trabalhos anteriores da equipe de pesquisadores na área e (iv) Índice de Exclusão Social do município no qual está inserido. Os dados quantitativos coletadas foram analisados com estatísticas descritivas simples e as informações qualitativas por meio de análise de conteúdo.

RESULTADOS:
Observou-se, nos assentamentos estudados, que a maioria dos jovens rapazes encontrava pouco ou nenhum espaço para desenvolvimento de seus projetos próprios de exploração produtiva dos lotes. Para as moças esse espaço social é ainda mais restrito ou mesmo inexistente. Nas famílias chefiadas por mulheres registrou-se maior participação decisória tanto dos rapazes quanto das moças quando comparadas às famílias chefiadas por homens. Conforme já apontado pela literatura especializada em juventude rural, nos assentamentos de Sumaré e Vergel, observou-se maior nível de escolaridade das jovens moças que dos jovens rapazes, assim como um nível superior de escolarização a da geração dos pais. Relevou-se também alternativas profissionais e de opções de trabalho fora dos assentamentos por haver uma proximidade física com os centros urbanos, além de um contexto regional mais industrializado.

CONCLUSÕES:
A pesquisa evidenciou a necessidade de se estabelecer ações públicas focadas especificamente na juventude rural, a fim de que se possa garantir a efetividade da reforma agrária no estado de São Paulo e no Brasil. Entre estas políticas podemos destacar a profissionalização dos jovens. Além disso, as necessidades dos jovens assentados têm equivalência à dos jovens em geral, onde as políticas públicas voltadas para a juventude deixam muito a desejar, como o acesso a escolarização básica e superior, à uma educação de qualidade, as oportunidades de trabalho e renda, a equipamentos de lazer, entre outras. Em se tratando de jovens do campo/assentados, estas questões ainda estão associadas às carências locais como a insuficiência de terra, a impossibilidade de sucessão a terra e oportunidades de trabalho no campo. É importante também o desenvolvimento de estudos, ou mesmo de um “observatório permanente” quanto às atividades não agrícolas possíveis de serem desenvolvidas no assentamento, que viabilizem a estes jovens desenvolverem seus projetos de vida sem necessariamente deixarem o campo. Por fim, a vida no campo e a luta pela terra são valorizadas pela maioria dos jovens assentados.

Instituição de fomento: CNPq



Palavras-chave:  juventude rural, agricultura familiar, assentamentos rurais

E-mail para contato: julieta@agr.unicamp.br