60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 13. Ensino Profissionalizante

A REFORMA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS: IMPACTOS NO PROJETO PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO

Michel Sadalla Filho1

1. Universidade Estadual de Campinas - Colégio Técnico de Campinas


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho trata das alterações curriculares ocorridas no Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), focalizando a formação geral, nos períodos imediatamente antes e após a Reforma da Educação Profissional (REP), sendo uma parte de uma pesquisa mais abrangente sobre a implementação da reforma nessa unidade escolar pertencente à Universidade Estadual de Campinas, à qual participei da direção no período 1994-2002. Como é sabido, a REP, concretizou-se com a publicação do Decreto 2.208/97, tendo como principal diretriz a separação da formação geral da formação profissional – que até então ocorria conjuntamente nos cursos técnicos integrados – em duas modalidades de ensino articuladas, mas independentes entre si. O Cotuca, que se posicionou contrariamente a essa separação, desde o início, como as demais escolas técnicas do país, teve que se adaptar à nova legislação. No entanto, com apoio da universidade, a implementação da REP no Cotuca foi diferenciada em relação à grande maioria das escolas técnicas públicas, pois ocorreu uma grande discussão com a comunidade docente, e ao invés do simples cumprimento da determinação central, de separação total da formação geral e técnica, manteve-se a formação integral aos alunos, pelo oferecimento das duas modalidades aos novos ingressantes.

METODOLOGIA:
Foi realizado amplo levantamento das grades curriculares oficiais, de diversos períodos, aprovadas pela Diretoria de Ensino Leste de Campinas, focando-se no último ano antes da reforma (1997) e nos anos de 1998, 2000 e 2002, pelas alterações sucessivas ocorridas nesse período. Analisamos as grades de 1997, em número de sete, referentes aos cursos técnicos integrados de Mecânica, Eletroeletrônica, Alimentos, Informática e Enfermagem (período diurno integral) e de Mecânica e Eletroeletrônica (período noturno). Para os anos de 1998, 2000 e 2002, utilizamos as sete grades do Ensino Médio que estavam relacionados aos antigos cursos técnicos, já descritos acima. Observamos que a partir de 2000, o Cotuca passou a contabilizar a carga horária pela hora relógio (60 minutos), e neste trabalho convertemos para 50 minutos, afim de realizar a comparação com os anos de 1997 e 1998, tendo noção mais precisa das alterações ocorridas na carga horária antes e depois da Reforma da Educação Profissional.

RESULTADOS:
A análise dos documentos oficiais relativos à organização curricular do Cotuca, nos revelou a disparidade que ocorria na formação de cultura geral no Colégio Técnico de Campinas, tanto entre os sete cursos integrados, como dentro de um mesmo curso, caso dos cursos de Mecânica e de Eletroeletrônica, que apresentavam carga horária diferentes para os períodos diurno e noturno, este último bem menor. Constatamos que a formação geral, que até 1997 fazia parte do curso técnico integrado, variava de 1.470 horas-aula (h/a, 50 minutos) para o curso de Mecânica noturno a 2.010 h/a para o curso de Alimentos (38% a mais). Após a reforma, todos os sete cursos de Ensino Médio passaram a ter 2.400 h/a em 2002. Havia também grande variação dentro de um mesmo curso: Mecânica diurno, com carga horária de 1.830 h/a, apresentava 360 h/a a mais em relação à do curso do noturno, conforme já citado. O mesmo ocorria com as disciplinas, como exemplo, a de Química (180 h/a para o curso de Alimentos e 60 h/a para Eletroeletrônica diurno), tendo passado para 160 h/a em 2002 para todos os cursos. Esses dados, por si só, demonstram que não havia uniformidade na formação de cultura geral para os diversos cursos técnicos ministrados pelo Cotuca até a REP.

CONCLUSÕES:
Pelo exposto, a despeito do Cotuca ter se posicionado contrariamente à REP de 1997, acreditamos que houve resultados positivos para a escola, o que não invalida e nem tão pouco modifica nosso posicionamento contrário à reforma em si, pela separação da formação geral da técnica em duas modalidades distintas de ensino e também pela forma que foi implantada, via decreto, suspendendo as discussões no Congresso Nacional. É mister deixar claro, que os resultados positivos que o Cotuca vem obtendo decorrem exatamente por não ter implementado a reforma conforme preconizado pelo MEC; isso se deveu tanto pela autonomia que a escola teve junto à universidade, como também, pela ousadia da direção em aproveitar as brechas da legislação e trabalhar no limite da legalidade, mantendo, ainda que com duas matrículas, a possibilidade do aluno realizar os dois cursos simultaneamente, e o espírito da formação integrada, numa clara subversão às diretrizes governamentais. A reforma propiciou a reflexão do conjunto da escola, que corrigiu antigas distorções relativas à formação geral dos alunos, passando a dar maior importância à essa modalidade de ensino e uniformizando-a para todos os cursos de Ensino Médio mas mantendo a formação integrada com a educação profissional, não ocorrida em outras escolas.

Trabalho de Professor do Ensino Básico ou Técnico

Palavras-chave:  Reforma da Educação Profissional, Formação Geral, Organização Curricular

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