60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E IMPOSIÇÃO DO GÊNERO NA PERSONAGEM MAGGIE TULLIVER: EM THE MILL ON THE FLOSS DE GEORGE ELIOT

Diana Barbosa Bernardelli de Rezende1
Sudha Swarnakar2

1. Dep. de Letras e Artes - UEPB
2. Profª. Drª. Departamento de Letras e Artes - UEPB -Orientadora


INTRODUÇÃO:
Na referência da crítica feminista, no início da década de 90, o termo gênero ganhou espaço importante e foi conhecido como determinação crucial na produção, circulação e consumo do discurso literário. Na opinião tradicional, há um equívoco a atribuir as palavras “sexo” e “gênero” um mesmo significado. Entretanto, repensar a noção dos termos torna-se essencial. Sexo traduz os aspectos visíveis impostos pelo fator biológico do corpo humano. Ao contrário, o gênero não é natural. Como produto cultural é construído através de um sistema de códigos, linguagens e valores, resultantes das influências ideológicas de um grupo social sobre outro. Por isto, não se pode ignorar o papel das práticas sócio-históricas e culturais, passando a ver o gênero como se fosse construído apenas por discurso ou pela linguagem. Em discurso feminista, o termo gênero é freqüentemente usado como uma imposição social, cultural e psicológica sobre a identidade biológica sexual. A dimensão feminina da escrita de George Eliot foi discutida por vários críticos, com maior destaque para a observação das relações sociais de opressão em que as mulheres estavam inseridas no século XIX. Assim, a pesquisa norteia-se em analisar as várias relações sociais e familiares na obra The Mill on the Floss (1960) para averiguar como estas relações são puramente representação das estruturas de dominação patriarcal, e como elas impõem a “gendered identity” à personagem Maggie Tulliver.

METODOLOGIA:
O caminho metodológico utilizado foi essencialmente de cunho bibliográfico, de natureza qualitativa – interpretativa, sendo fundamentada principalmente na obra The Mill on the Floss (1964) de George Eliot e nos textos críticos que abordam a questão de gênero pela perspectiva da teoria comparada e teoria de gênero. Buscamos no processo de análise fazer a leitura da obra para averiguar a questão de gênero, tomando como aporte teórico as análises de Woolf (1932), Millett (1970), Showalter (1977), De Beauvoir (1988), entre outros. Conseqüentemente foi feita sistematização do discurso e situações relativos à personagem Maggie Tulliver e a forma como esta assume e/ou reproduz o papel social feminino no século XIX. Para tanto foram catalogados trechos da obra que eram relevantes ao entendimento das relações de poder na imposição da identidade feminina dentro do contexto sócio-histórico-cultural. Tais levantamentos foram feitos a fim de defender como a imposição do gênero é motivada por uma identidade.

RESULTADOS:
A percepção de gênero e o que a cultura define como papéis femininos são questões marcantes na obra. No desenvolvimento da pesquisa pudemos confirmar que ao contrário de uma identidade “construída”, o que acontece é o registro de uma violação, visto que no século XIX o único espaço acessível à mulher era restrito ao ambiente doméstico. Além de ser visto como um elemento constitutivo das relações sociais, o gênero existe como relação de poder, visto que no centro da sociedade patriarcal está o homem com poder aquisitivo e com o beneficiário das leis, moral e bases que conduzem as relações sociais. Na obra, Eliot debruça-se sobre a forma como Maggie ora reproduz, ora contesta o papel social a ela imposto. Esta ambivalência é sempre condicionada, visto que depende do outro que impõe o comportamento feminino esperado e aceito. O fato de Maggie se negar a reproduzir o padrão feminino de comportamento da época nos faz questionar o conceito de identidade de gênero. A menina transgride o padrão dominante da identidade feminina construída na esfera sócio-cultural da sociedade. Como resultado, Maggie é punida com críticas e isolamento social. Desta forma, vemos uma quebra no conceito de identidade no sentido de que esta não acontece como uma experiência uniforme no cumprimento do seu desempenho identificatório.

CONCLUSÕES:
The Mill on the Floss explora as relações de poder vivenciadas no seio da sociedade e na família, uma vez que esta além de encorajar seus membros a um ajustamento ou conformismo, existe como unidade de condição na sociedade. Sendo assim, as relações de poder se concretizam no sentido da capacidade de decidir e agir sobre a ação do outro, caracterizando relação de dominância e subordinação. Estas relações são muitas vezes fixas, assimétricas, onde a possibilidade de reação, no sentido de resistência, passa a não existir ou a não ser respeitada. Como o gênero constitui-se como agente de hierarquização entre os seres, seja ligado à idade, ao status econômico, etc., no século XIX podemos dizer que este foi também produto de imposição. Visto que o século XIX foi um período histórico marcado por contrastes em relação aos direitos e deveres dos homens e mulheres, a auto-realização e aceitação da mulher passam a ser possibilidades antagônicas. Estas diferenças se concretizam durante o decorrer da história, na relação social, familiar e individual.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq/UEPB

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Sexo, Gênero, Imposição

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