60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 2. Literatura Comparada

INTELECTUAIS PERIFÉRICOS E TRADIÇÃO MODERNA: UM PERCURSO DE UM SURREALISMO À BRASILEIRA & MURILO LEITOR DE CAMUS

Frederico Spada Silva1
André Luiz de Freitas Dias2
Jovita Maria Gerheim Noronha3

1. Faculdade de Letras - UFJF
2. Faculdade de Filosofia - UFJF
3. Prof. Dr. - Faculdade de Letras - UFJF - Orientador


INTRODUÇÃO:
O projeto Intelectuais periféricos e tradição moderna visa investigar, através do exemplo do poeta brasileiro Murilo Mendes, as relações que intelectuais periféricos estabelecem com a tradição moderna, mais especificamente com a matriz cultural francesa, apropriando-se dela de modo criativo e realizando uma reinvenção dessa tradição. O projeto dá continuidade à pesquisa A França em Murilo Mendes (2004-2006) e está vinculado ao projeto Os acervos de Murilo Mendes IV, Literatura e arquivo: o autor como leitor, colecionador e produtor de elementos de arquivo, desenvolvido por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora em torno da obra do poeta, que é natural de Juiz de Fora, e de seus acervos bibliográfico, pessoal e de artes plásticas, que se encontram no Museu de Arte Moderna Murilo Mendes (MAM), pertencente à UFJF.

METODOLOGIA:
Seguimos dois caminhos para a análise do arquivo muriliano: o primeiro, mais amplo, investiga as relações de Murilo com a última grande vanguarda histórica – o Surrealismo – e seus modos de operação, o que lhe permitiu criar, assim, uma profícua síntese, construindo o que escolheu chamar de “Surrealismo à brasileira”; o segundo, mais pontual, estabelece aproximações intelectuais e afetivas entre Murilo Mendes e o escritor franco-argelino Albert Camus, ao comparar o retrato-relâmpago que o poeta dedica a Camus e o “Discurso da Suécia”, proferido pelo filósofo ao receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1957. Para tanto, visitando os acervos do poeta e debruçando-nos na leitura de sua obra e de estudos empreendidos pela crítica cultural contemporânea, pudemos traçar as possibilidades de um diálogo entre a amizade literária/intelectual e uma espécie de biografia literária de Murilo Mendes.

RESULTADOS:
Investigando, de um lado, as relações existentes entre Murilo Mendes e os autores elencados em Retratos-Relâmpago (1973), percebemos um percurso criado na constituição dos processos intelectivos e formadores da sua prática poética. Para além de aproximar as escolhas feitas em seu percurso particular de composição, vemos que a concentração exercida na constituição de uma tradição pessoal é intimamente afetada por suas afecções e afeições, entendendo-se “afecção” como uma alteração das faculdades receptivas, o que revela um modo próprio de receber e transformar impressões; impressões que são recebidas por um Murilo-Leitor. De outro lado, percebemos que o texto muriliano não apenas compõe uma breve biografia de Camus e um seu retrato, alegórico, mas também evoca o Discurso do filósofo, espécie de manifesto daquilo que Camus julgava ser a função do artista de seu tempo. O texto muriliano, assim, exibe as marcas de sua apropriação da obra de Camus (um intelectual da tradição), as quais se alicerçam no laço inequívoco e conhecido de amizade e de admiração que havia entre ambos, bem como na erudição do poeta juiz-forano, um intelectual periférico que circulou boa parte da vida entre a intelligentsia européia.

CONCLUSÕES:
Nosso enfoque, assim, aponta para as estratégias criativas de Murilo como leitor de seus arquivos bibliográfico, pessoal e artístico, e tem como corpus, principalmente, o livro Retratos-relâmpago, que faz do acervo bibliográfico e do círculo de amizade do poeta um álbum de fotografias e afetos (escrito, entenda-se) que acaba por compor uma biblioteca outra, imaginária, mais (auto)biográfica do que literária.

Instituição de fomento: Universidade Federal de Juiz de Fora

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Murilo Mendes, Arquivo, Apropriação

E-mail para contato: fredspada@gmail.com