60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Atualmente, o Estado do Amazonas detém a maior diversidade cultural e maior contingente populacional indígena do Brasil. São cerca de 60 povos, distribuído em 178 Terras Indígenas (FEPI, 2007). As primeiras informações sobre povos indígenas datam do começo da ocupação do continente pelos europeus a partir do século XVI, mas foi somente no século XX que tivemos os primeiros trabalhos etnográficos. Durante a década de 1990 observamos a explosão de instituições vinculadas à “causa indígena”. Embora esta atuação multi-institucional e acadêmica tenha resultado em uma significativa produção, o que se verifica, de modo geral é sua dispersão e fragmentação, bem como certo desconhecimento do que de fato foi pesquisado. Assim, este trabalho objetiva apresentar um banco de dados com informações que permitam analisar a distribuição espacial da produção bibliográfica sobre os povos indígenas no Estado do Amazonas. Espera-se com este trabalho contribuir para indicar lacunas de temas e regiões ainda não pesquisadas cientificamente.

METODOLOGIA:

Para o levantamento da produção bibliográfica, foram pesquisados acervos de bibliotecas, programas de pós-graduações, banco de teses e dissertações on-line e guias de referências sobre a temática indígena. O mais completo guia identificado foi a Bibliografia Crítica da Etnologia Brasileira de Herbert Baldus, em seus três volumes. Para a coleta de dados foi utilizada uma ficha bibliográfica para retirar informações-chaves sobre as obras. As principais informações buscadas foram: região estudada, conteúdo da obra, povo abordado, data e tipo de obra. Para dar cabo à organização dos dados, foi criado um banco de dados com atributos sobre a produção bibliográfica que permite realizar consultas para a elaboração de mapas temáticos. As ferramentas de geoprocessamento utilizadas foram os seguintes softwares livres: PostgreSQL, instalado em conjunto com a extensão espacial PostGIS e o pgAdmin III, que é a interface de administração do banco de dados. Para a visualização espacial utilizamos o Sistema de Informações Geográficas Quantum GIS, que permite a conexão de tabelas espaciais PostGIS.

RESULTADOS:

Observa-se que a maior parte destas obras refere-se a trabalhos multidisciplinares em grande escala de observação, onde não focalizam um povo, tema ou calha de um rio. Do total de 909 registros de títulos, temos que 445 são artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais e 184 são títulos de livros. A produção oriunda de pesquisas monográficas representa 25 %. A concentração destes trabalhos, por sua vez, se dá nas regiões dos rios Negro, Amazonas e Solimões. Nas áreas dos rios Madeira, Purus, Japurá e Javari há uma baixa densidade de títulos sobre povos destas regiões. Na análise cronológica podemos identificar dois períodos, as obras escritas até 1930 (cronistas e expedições cientificas) e, após este período, os resultados de pesquisas etnográficas. Na segunda metade do século XX verificamos um aumento exponencial entre as décadas de 1970 e 1990. Sobre os conteúdos destas obras observamos uma grande variedade de interesses. Um dos principais temas explorados diz respeito à cultura, com cerca de 270 títulos. Outro tema de bastante destaque no levantamento é sobre língua indígena, identificado um total de 177 títulos. Temas como saúde, organização indígena, território, educação e etnoconhecimento recebem menos atenção nos trabalhos identificados até o momento.

CONCLUSÕES:

Devemos ressaltar que este trabalho não pretende esgotar todas as fontes e que este banco de dados não pretende ser um produto finalizado e sim em constante atualização. Somente assim podemos refletir sobre regiões ou temas que necessitam de maiores investimentos em pesquisas. Muitos dos dados obtidos são oriundos de programas ou projetos de atuação em determinada região como no Rio Negro, que possui uma grande diversidade de culturas, formas de organização social e o incentivo de entidades de apoio aos povos indígenas, a exemplo das ações do Instituto Socioambiental (ISA). O levantamento aponta concentração de títulos na bacia do Rio Negro, principalmente sobre os Tukano, 66 títulos e os Yanomami, 116 títulos. Para regiões como o vale do Javari ou o rio Purus, entre outras, há um vazio de publicações sobre diversos povos como os Matsé e os Deni, que no levantamento aparecem com cinco e doze títulos respectivamente. Esperamos que estes resultados possam subsidiar atuais e futuros pesquisadores norteando para povos, regiões e temas ainda poucos conhecidos.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas (PPP/FAPEAM) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIBIC/CNPQ)

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Índios Amazônicos, Sistemas de Informações Geográficas, Indicadores Bibliográficos

E-mail para contato: rogeriorm22@yahoo.com.br