60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia

RISCOS NO MORRO DO PREVENTÓRIO

Lídice Cabral Nascimento1, 2
Amanda Jevaux da Silva de Sousa1
Wanderson Barreto Corrêa1, 2

1. Graduando Universidade Federal Fluminense
2. Bolsista do Programa PET


INTRODUÇÃO:
A discussão acerca do conceito de “risco” em suas múltiplas categorias (ambiental, social, econômico, urbano) torna-se cada vez mais presente na sociedade. As políticas públicas estão sendo voltadas para a abordagem dessa problemática de forma a identificar, mapear e controlar a ocorrência de eventos que ocasionem impactos à sociedade. As ciências sociais em geral têm dado maior atenção a este tema, apresentando contribuições teóricas e metodológicas para um maior aprofundamento desta discussão. O risco em si significa “a probabilidade de ocorrência de processos no tempo e no espaço, não-constantes e não-determinados, e à maneira como estes processos afetam direta ou indiretamente a vida humana”. (Castro et al, 2005. pp.11-24) O espaço do Morro do Preventório, situado no bairro nobre de Charitas, Niterói/RJ, constitui-se enquanto área de estudo deste trabalho que objetiva mapear, analisar e comparar os riscos em duas categorias de análise: riscos cotidianos e catastróficos. Tais categorias estão fundamentadas na temporalidade da manifestação dos riscos no espaço, indo além das qualificações tradicionais – ambiental, econômico, natural, social – sem descartá-las. Desta forma, é possível compreender as influências dos diversos riscos na organização espacial da comunidade estudada.

METODOLOGIA:
O processo de construção do trabalho consistiu, inicialmente, em levantamento bibliográfico em gabinete de forma a solidificar as bases de nossos questionamentos, com conceituações e metodologias propostas para a abordagem do tema. A realização de trabalhos de campos, por sua vez, possibilitou o levantamento de dados espaciais primários de fundamental importância às etapas posteriores da pesquisa. Informações referentes à configuração espacial (relacionados aos riscos catastróficos), assim como as referentes aos pontos de ausência de rede de esgoto sanitário e recolhimento de lixo (relacionados aos riscos cotidianos), foram coletadas com auxílio de sistemas de posicionamento global. Ademais, a realização de investidas a campo possibilitou a utilização de outros recursos - questionários e entrevistas - que possibilitaram a compreensão e o entendimento da percepção dos próprios moradores do Preventório acerca das áreas consideradas de risco. Por fim, a confecção de mapas temáticos de acordo com as diferentes visões acerca da abordagem do risco (visão acadêmica, visão técnica, visão do morador), lançando mão de dados primários e secundários de diversas fontes, possibilitou a análise, a comparação e a interpretação das informações neles contidas.

RESULTADOS:
A identificação, mapeamento e análise das manifestações espaciais dos riscos, a partir das categorias adotadas, riscos cotidianos e catastróficos, possibilitou, de fato, a produção de informações quantitativas e qualitativas capazes de expressar, de certa forma, a realidade social e espacial da comunidade do Morro do Preventório. A investigação realizada de forma a conceber uma visão integradora acerca do tema de riscos que mais se aproximasse da realidade local caminhou de encontro às diferentes concepções de entendimento e identificação dos riscos. Há divergências entre técnicos, pesquisadores e moradores sobre a localização e qualificação dos riscos. Tais divergências manifestam-se, sobretudo, no concernente à importância dispensada aos riscos catastróficos (movimento de massa, queda de bloco), por parte dos técnicos, em detrimento aos riscos cotidianos (esgoto a céu aberto, ausência da coleta de lixo), mais valorizados pelos moradores. Identificamos as concepções e interpretações relacionadas às diferentes percepções de cada sujeito envolvido com a área de estudo, de modo a produzir mapeamentos temáticos e informações qualitativas capazes de subsidiar interferências na configuração espacial do morro do Preventório.

CONCLUSÕES:
A análise dos riscos associados ao espaço vivido do morro do Preventório baseou-se na identificação, mapeamento e interpretação de dados capazes de fornecer informações sobre a possibilidade de ocorrência de algum evento que pudesse ocasionar algum tipo de dano à população. De fato a realização de tal levantamento e interpretação torna-se árdua à medida que se busca uma visão integradora dos diferentes olhares sobre o espaço da pesquisa. O técnico busca valorizar os eventos catastróficos em detrimento dos riscos cotidianos. Tal fato baseia-se na maior preocupação dos órgãos públicos e técnicos em agir preventivamente de forma a impedir o acontecimento desses eventos, que assumem uma grande repercussão na sociedade na mídia, sobretudo na grande Rio de Janeiro, e possuem previsibilidade incerta. A população, por sua vez, valoriza de forma mais profunda os riscos cotidianos, ordenando-se de acordo com os mesmos, e minorizando os riscos catastróficos. A organização espacial do espaço do Preventório está relacionada às diferentes abordagens do conceito de risco, seja por intervenções estatais de modo a prevenir os riscos catastróficos seja por ordenamento da própria população, seguindo sua percepção diante dos riscos sociais, urbanos do cotidiano.



Palavras-chave:  Riscos, comunidade do Morro do Preventório, diferentes percepções de riscos.

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