60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)

COM QUEM TRABALHAM OS PROFESSORES FORMADORES? REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA PRÁTICA FORMATIVA

Angela Soligo2
Luciane A. Grandin1
Ronaldo Alexandrino1

1. Faculdade de Educação - Unicamp
2. Departamento de Psicologia Educacional / FE - Unicamp


INTRODUÇÃO:
Vivemos um momento, no atual cenário educacional brasileiro, em que os chamados Centros de Formação de Professores ocupam cada vez mais um papel importante nas redes de ensino, bem como nos discursos oficiais referentes ao campo da educação. Um dos profissionais que se destaca nesses espaços é aquele que lida diretamente com a formação de professores em exercício, neste texto denominado professor-formador. Nesta direção, alguns estudos têm discutido a questão da identidade e profissionalização do professor-formador. O propósito deste trabalho aponta para um sentido diverso, ao buscar entender o que orienta as práticas formativas de tais profissionais. Nossos referenciais teóricos para discussão da temática proposta inserem-se na Psicologia Social, mais precisamente na Teoria das Representações Sociais. E é a partir desse recorte teórico que investigamos as representações sociais (RS) dos professores-formadores sobre o professor e as características do bom professor, expressas nas dimensões do dever e da memória. Assume-se, neste trabalho, o caráter de orientação da conduta que as representações sociais exercem nos sujeitos. Portanto, compreender as representações sociais aqui delimitadas pode auxiliar na compreensão das formas como se engendram as ações de formação no cenário atual.

METODOLOGIA:
Para a realização deste trabalho, buscando apreender as representações sociais sobre o professor que circulam entre professores-formadores, fizemos contato com profissionais de dois Centros de Formação de Professores da Região Metropolitana de Campinas. Foram selecionados 9 sujeitos para compor a amostra, a partir de sua disponibilidade em participar da pesquisa. Após explicitarmos os objetivos da pesquisa e esclarecermos sobre o sigilo em relação à identidade dos participantes, realizamos uma atividade de escrita com os formadores, a partir de três frases iniciais: Um bom professor deve...; Meu melhor professor era....; A escola precisa de professores que... Cada participante recebia uma folha com uma das frases, e tinha dois minutos para completar a frase apresentada. Ao término do tempo, as frases eram trocadas entre os envolvidos, de modo que cada um deveria dar continuidade às idéias iniciadas pelo professor-formador anterior. Terminado o momento da escrita, houve uma conversa entre os pesquisadores e os sujeitos da pesquisa, para que se explicitasse o que sentiram e pensaram sobre o que escreveram e leram e o que ficou marcado na dinâmica. As falas foram gravadas e transcritas e também utilizadas na análise dos dados. Os dados coletados foram submetidos à análise temática dos conteúdos.

RESULTADOS:
Com relação ao ideal de professor, as RS revelam características pessoais, atitudes e profissionalismo que devem estar presentes em um bom professor. Prevalecem assim as representações que circulam nos discursos oficiais.. O professor ideal é aquele que precisa se aproximar da perfeição, atrelando a sua prática profissional ao conhecimento que possui. Ao se referirem ao seu melhor professor, os temas recorrentes referem-se a características pessoais e atitudes, embora também apareçam conteúdos relativos ao conhecimento do professor. Por meio da memória, resgatam as características e atitudes dos melhores professores que tiveram. São tais lembranças que fundamentam as RS, construídas ao longo de sua trajetória como alunos. Ao analisarmos as características pessoais e atitudes dos professores apontados como modelo, nota-se que as questões profissionais explicitadas na análise anterior perdem espaço para as questões voltadas à afetividade, ao professor tomado como parâmetro de identificação. Com relação aos professores de que escola necessita, algumas RS, por nós caracterizadas como possibilidades de mudanças da postura do professor, destacam-se: o questionamento da própria prática, a importância do trabalho coletivo e a valorização profissional, que passam a ser elementos incorporados ao discurso do professor-formador, o que vem corroborar o caráter de dinamicidade das representações sociais.

CONCLUSÕES:
As representações sociais encontradas fazem refletir sobre o ponto de partida para o estabelecimento dos objetivos da formação, a partir do professor-formador: o professor ideal representado. Quando estabelece os objetivos do seu trabalho é o professor representado que ele considera. Os professores-formadores, ao identificarem o professor ideal, o fazem ressaltando apenas características positivas. Certamente isso acontece porque o professor representado não deve carregar aspectos negativos, uma vez que ele é visto como modelo para os alunos, da mesma forma que os seus professores de infância foram por eles resgatados. Por fim, é interessante notar que o próprio professor-formador não se aproxima do professor ideal, pois embora reconheça no outro a importância do trabalho coletivo, isso não faz parte da sua prática profissional cotidiana, apesar de reconhecer essa necessidade. As discussões apresentadas nos levam a pensar que as representações sociais que o professor-formador possui sobre o professor orientam a forma como os encontros de formação são organizados e na maneira como as práticas formativas acontecem.



Palavras-chave:  professor-formador, representações sociais, formação de professores

E-mail para contato: soligo@unicamp.br