60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 5. Antropologia Urbana

RELIGIÃO, CULTURA E POLÍTICA ENTRE A JUVENTUDE DE MIAS GERAIS

Carlos Eduardo Pinto Procópio1
Marcelo Ayres Camurça1
Fatima Gomes Tavares1
Rodrigo Chaves de Mello1
Jose Wellinton de Souza1

1. UFJF


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho pretende analisar os dados de um survey aplicado entre jovens do terceiro ano do ensino médio da rede publica de ensino mineira, comparando os dados encontrados em Minas Gerais com os de Juiz de Fora. Buscamos analisar as filiações religiosas, os trânsitos, o grau de pertencimento e crenças deste segmento; além de descrever e sugerir interpretações acerca das relações entre religiosidade, moralidade e política na juventude mineira. Analisaremos questões relativas à sexualidade, aborto e contracepação. Por fim, observaremos as relações entre pertencimento religioso, participação política e inserção no espaço público.

METODOLOGIA:
Fez-se uso do programa estatistico SPSS, onde os dados coletados foram tabulados. Esse program permitiu a configuração de tabelas univariadas e multivariadas, cotribuindo para uma melhor exploração dos dados.

RESULTADOS:
O perfil da Juventude mineira se perfaz como majoritariamente feminino (59,1%), branco (47,9%), sem filhos e morando com os pais, num núcleo familiar com a té 6 pessoas. Esses jovens estão, em sua maioria, vinculados ao mercado de trabalho (61,5%), trabalhando ou desempregados. O perfil da juventude juizforana segue próximo ao do estado: feminino (54,2%), branco (48%), sem filhos e morando com os pais, apesar do núcleo familiar ficar reduzido a té 5 pessoas. Também estão vinculados ao mercado de trabalho (62,2%). O universo religioso que se constitui entre os jovens mineiros é marcado pela adesão ao catolicismo (79,4%), seguido pela adesão ao protestantismo (7,7,%), ao pentecostalismo (6%), ao espiritismo (2,4%), às religiões afro-brasileiras (0,3%), e a outras religiões (4,3%), havendo 5,1% de jovens que se declaram sem religião. Em Juiz de Fora esses dados tem proporções diferenciadas. O percentual de católicos e de protestantes (65,8% e 4,9% respectivamente) é bem menor em relação à totalidade do estado. Em contrapartida existe um aumento percentual dos adeptos do pentecostalismo (11,6%), do espiritismo (4%), das religiões afro-brasileiras (1,3%), de outras religiões (5,8%) e também dos aumento dos sem religião (6,7%). No que tange as crenças, a nível estadual são os milagres (84,1%), a Virgem Maria (75,7%) e os santos (69,1%) que ocupam os primeiros lugares na preferência juvenil, seguidos pela crença em anjos e demônios (68,7%), vida após a morte (57,8%) e espíritos (51,1%). Já a nível local, em Juiz de Fora, os milagres (78,9%) são a principal crença, apesar de se colocar num patamar percentual menor em relação à média do estado. A crença na Virgem Maria, segunda na preferência dos jovens mineiros, passa a ocupar o terceiro lugar na preferencia dos jovens juizforanos (64,2%). O segundo lugar é ocupado pela crença em anjos e demônios (75,7%), valor bem maior em relação aos dados do estado. A crença em santos, como em milagres e na Virgem Maria, também decresce (58,9%), a medida que vai aumentando o percentual daqueles que crêem em vida após a morte (60,7%) e espíritos (56,2%). Quando interrogados sobre a questão do pecado, a média dos jovens que afirmaram ser este um invenção dos padres e pastores foi de 10,6%, percentual que em Juiz de Fora subiu para os 14,7%. A consciência do pecado enquanto uma desobediência voluntária a lei de Deus é maior a nível estadual (73,4%), sendo reduzida a 69,5% a nível juizforano. Já o pecado enquanto um desobediência involuntária a lei de Deus chega a 77,3% no estado e 76,2% em Juiz de Fora. Os dados também se aproximam quando a questão é a crença na possibilidade de intervenção divina no mundo: 74,2% em Minas Gerais e 75,7% em Juiz de Fora. Se aproximam também quanto a prática de oração diária: 78,8% em Minas Gerais e 80,6% em Juiz de Fora. Por outro lado, a crença de que o demônio ou alguma entidade do mal possa tomar conta do corpo de uma pessoa é de 58,3% a nível de Minas Gerais e um pouco maior em Juiz de Fora (62,7%). A influência dos pais na escolha da religião dos jovens mineiros é declarada por 61,1% da juventude pesquisada, influência que em Juiz de Fora é reduzida aos 50,8%. Em contrapartida, os motivos pessoais (31,5%) e a influência de amigos, pessoas religiosas ou outros parentes (7,4%), declaradas pelos jovens mineiros, tem um aumento percentual entre os juizforanos: 41% para os motivos pessoais e 8,2% para amigos, pessoas religiosas ou outros parentes. Para os jovens mineiros, em média, família (83,1%), religião (59,8%), trabalho (56,1%) e estudo (53,9%) são as estruturas mais importantes. Para os jovens juizforanos, a família (90,5%), seguida pelo estudo e trabalho (61,2% cada) e a religião (57,8%) é que são as estruturas mais importantes hierarquicamente. Cabe notar que em Juiz de Fora, com exceção da religião que tem uma queda percentual na importância atribuída pela juventude, todas as outras estruturas aumentam percentualmente em relação a média do estado. Os sem religião juizforanos acreditam mais em Deus (92,9%) do que a média mineira (87,3%). Ao contrário, são os jovens mineiros sem religião que mais participam ou freqüentam atividades de alguma religião (65,6%) dos que os de Juiz de Fora (63,6%). O trânsito religioso encontrado entre a juventude de Minas Gerais chegou aos 15,2%, sendo desses 63,7% oriundos do catolicismo. Em Juiz de Fora o trânsito foi maior. 26% mudaram de religião, apesar do trânsito ter estado menos concentrado no catolicismo (59,2%), o que sugere um maio percentual de trânsito entre outras religiões. Os motivos da mudança da religião são percentualmente bem próximos. Em Minas Gerais o fato da nova religião ter trazido paz e felicidade foi indicado por 43,9% dos jovens como motivos do trânsito (em Juiz de Fora esse valor foi de 44,2%). O motivo de mudança referente à doutrina da nova religião foi indicada por 31,1% dos jovens mineiros (em Juiz de Fora foram 30,2%). A tolerância religiosa é menor a nível estadual: 50,9% dos jovens aceitariam ter amigos de outras religiões (75,8% em JF); 45,4 aceitariam montar um negócio com alguém de outra religião diferente da sua (59,7% em JF); 34,5% aceitariam se casar com uma pessoa de outra religião (45,5% em JF) e 13,8% aceitariam freqüentar cultos de outras religiões (20,4% em JF). Os valores em relação à fidelidade masculina e feminina é maior na média estadual do que em Juiz de Fora. Em Minas Gerais o percentual é de 90,6% para os que concordam com a fidelidade masculina e 91,1% com a feminina. Em Juiz de Fora esses percentuais declinam para 89,3% para a fidelidade masculina e 88,2% para a feminina. O aborto enquanto uma decisão livre da mulher é aceito por 23,8% dos jovens em Minas Gerais, valor que é aumentado para 33,5% entre os jovens de Juiz de Fora. A rejeição do aborto é também maior em Minas Gerais (31,8%), enquanto em Juiz de Fora esse valor é reduzido aos 24,1%). Já o aborto usado para caso somente de estupro tem seus percentuais aproximados em Minas Gerais e Juiz de Fora (64,4% e 64,1% respectivamente). Aproximam-se também os dados referentes a aceitação da união homossexual (61,2% em MG e 63,7% em JF) e concordância com a pena de morte para os crimes mais graves (64,6% em MG e 65,2% em JF). No que tange a relação da adesão religiosa e a sua influência na prática política dos jovens, tem-se os seguintes dados: a filiação de jovens a partidos políticos é muito baixa (4,6% em MG e 2,2% em JF); a maioria dos jovens votam em candidatos de qualquer religião (94,7% em MG e 91,5% em JF). Em Minas Gerais são os jovens pentecostais os que mais votam em candidatos de sua religião (11%) e os espíritas os menos votam em candidatos de sua religião (0,7%). Em Juiz de Fora também são os pentecostais os que mais votam em candidatos de sua religião (17,4%) e os católicos os que menos votam em candidatos de sua religião (7,4%).

CONCLUSÕES:
Os resultados que obtivemos seguem os resultados gerais divulgados em outros trabalhos, como o Atlas da Filiação Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil , estudo com base nos últimos censos, que aponta um percentual de 73,8% de católicos no Brasil, bem próximo do percentual que encontramos entre os jovens mineiros da nossa pesquisa, que foi de 73,5%. Duas observações, no entanto, tendem a complexificar a proximidade desses resultados. A primeira é que, segundo o diagnóstico do Atlas, os jovens configuram o segmento de maior diversificação religiosa da população e, portanto, de menor apelo à religião católica, sendo inclusive o maior grupo entre os pentecostais. A segunda observação reside no fato de que os alunos pesquisados são jovens mineiros, o que pode contrabalançar os efeitos da observação anterior, já que este Estado da Federação, e mais marcadamente seu interior, ainda constitui um reduto da Religião Católica.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  

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