60ª Reunião Anual da SBPC




B. Engenharias - 1. Engenharia - 14. Engenharia

CONTAMINAÇÃO EM RESÍDUO DA PRODUÇÃO DE CASTANHA DE CAJU VISANDO UTILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: ANÁLISES DOS EXTRATOS SOLUBILIZADO E LIXIVIADO (NBR 10004/10005/10006/10007)

Sofia Araújo Lima1
João Adriano Rossignolo2

1. Departamento de Arquitetura e Urbanismo (EESC/USP)
2. Professor Doutor Departamento de Arquitetura e Urbanismo (EESC/USP) / Orientador


INTRODUÇÃO:
Este artigo faz parte de um estudo mais amplo que trata da avaliação da cinza da casca da castanha de caju (CCCC) como adição mineral em matrizes de cimento Portland. O caju é um fruto típico de países de clima tropical como o Brasil, e sua produção encontra-se destacada na região Nordeste, tendo o Ceará como o principal Estado produtor. Esse fruto é formado por um pedúnculo carnoso, de onde se obtém o suco, e pelo fruto verdadeiro, a castanha de caju (ou simplesmente castanha), de onde se extrai o principal produto de consumo, a amêndoa, também denominada popularmente de castanha. A CCCC é o resíduo colhido no fundo da grelha das caldeiras, resultante da queima das cascas de castanhas, sendo na sua grande parte utilizada como adubo em plantações de caju e uma pequena parte destinada a aterros sanitários comuns. Durante as análises de caracterização química e física da CCCC foram realizados ensaios de solubilização e lixiviação, segundo NBR 10004, 10005, 10006 e 10007 no pó da cinza in natura. Esse ensaio apresenta-se de fundamental importância em relação ao emprego da CCCC em produtos para a construção civil, uma vez que potenciais contaminantes podem lixiviar e entrar em contato com o meio ambiente.

METODOLOGIA:
Para os ensaios deste estudo utilizou-se a cinza da casca da castanha de caju (CCCC) cedida pela empresa CIONE - Companhia Industrial de Óleos do Nordeste, localizada em Fortaleza-CE. A metodologia empregada consistiu na análise do extrato lixiviado e solubilizado da CCCC seguindo as especificações das normas NBR 10005 e NBR 10006, nas quais foram determinados possíveis contaminantes e/ou metais pesados contidos no material. Também foi possível por esses ensaios classificar a CCCC segundo a NBR 10004. A cinza, nesta etapa, foi analisada in natura, apenas submetida à moagem durante 1 (uma) hora no moinho de esferas metálicas. O ensaio foi executado pelo Laboratório de Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP), seguindo as especificações das normas NBR 10004, NBR 10005, NBR 10006 e 10007.

RESULTADOS:
Pelas análises do extrato lixiviado, segundo a norma NBR 10005 (ABNT, 2004), e do extrato solubilizado, segundo a norma NBR 10006 (ABNT, 2004), foram encontrados vários metais pesados na amostra de CCCC. Os resultados da análise dos produtos solubilizados apresentaram valores acima do limite permitido, para várias substâncias químicas, de acordo com o Anexo G - Padrões para o ensaio de solubilização. Apesar do resultado bem acima do limite apresentado pelas análises de solubilização, os resultados do extrato lixiviado não apresentaram valores acima do limite permitido para o grupo dos componentes Inorgânicos, segundo Anexo F - Limite máximo no extrato obtido no ensaio de lixiviação. Sabe-se que os resultados do ensaio de lixiviação são determinantes em relação a classificação de um resíduo em Perigoso (Classe I) ou Não perigoso (Classe II). Dessa forma, de acordo com a referida norma, apesar dos altos níveis de metais pesados e fenol encontrados no extrato solubilizado, a CCCC pode ser classificada, pelos parâmetros ora apresentados, como Resíduo Não perigoso – Classe II A – Não inerte. Os resíduos com tal classificação podem ter propriedades de biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.

CONCLUSÕES:
Em relação aos metais pesados encontrados, em teores de 4 a 100 vezes acima do limite permitido no extrato solubilizado, esta pesquisa considera importante uma análise complementar quanto à origem da provável contaminação da CCCC por metais pesados, e quanto à origem de um álcool como o Fenol. Uma das causas da contaminação por metais pesados pode ser devido à utilização de agrotóxicos no cajueiro. Penetrando na casca da castanha, esses produtos podem não ter sido totalmente eliminados durante o processo industrial do qual se origina a CCCC. Já a origem do Fenol pode ser atribuída ao LCC – líquido da castanha do caju, composto agressivo à saúde humana extraído da casca da castanha de caju. Sabe-se que as cascas das castanhas ainda apresentam LCC mesmo depois de queimadas. Cabe salientar que a CCCC é utilizada como adubo nas plantações de caju sem qualquer consideração do perigo do seu manuseio à saúde humana. Esse alerta deve ser reportado também às demais cinzas agroindustriais pesquisadas, atualmente, como materiais alternativos para substituição do cimento Portland ou da areia natural. Deve-se considerar o risco de contaminação por agrotóxicos ou outras fontes, e submeter esses resíduos à análises de contaminação, e se for o caso, encapsulamento.

Instituição de fomento: FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo



Palavras-chave:  Cinzas agroindustriais, Contaminação, Classificação de resíduos sólidos

E-mail para contato: sofiaalima@yahoo.com.br