60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

CABELO CRESPO, SINÔNIMO DE AFIRMAÇÃO ÉTNICO-RACIAL?

Maria Aparecida Tortorelli Campos Rodrigues1
Marineide de Oliveira da Silva1
Sandra Jorge da Silva1
Mary Diana da Silva Miranda1
Claudio José de Figueiredo1

1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


INTRODUÇÃO:
Atualmente as questões étnicas raciais no Brasil, estão sendo enfocadas com mais freqüência no ambiente escolar. Isso se deve ao fato de que na escola essas relações, que muitas vezes são conflituosas, devido à diversidade cultural dos que dela fazem parte, acentuam-se gerando ações discriminatórias e preconceituosas. A relevância do trabalho está em fornecer elementos para discussões étnicas raciais mais abrangentes no ambiente escolar, no intuito de verificar se os discursos discriminatórios, que permeiam a sociedade encontra-se arraigado, nas manifestações, atitudes, palavras, preferências e reações dos estudantes. Por esse motivo, buscou-se compreender o significado social e os sentidos dados ao cabelo crespo no ambiente da sala de aula, bem como este tem se tornado o cerne do sistema de classificação racial.

METODOLOGIA:
A presente pesquisa possui uma abordagem empírica, com análise qualitativa dos dados. Pautada nos estudos de Santos Filho & Gamboa (2002), que buscam compreender os significados que as pessoas dão sobre suas próprias situações. Houve também a utilização de instrumentos como entrevistas semi-estruturadas e 59 imagens de pessoas de diversos grupos étnicos. Os sujeitos da pesquisa são 45 estudantes da 5ª série, de uma escola pública de Cuiabá-MT, com faixa etária que varia de 10 a 15 anos de idade. Procurou-se escolher uma turma de alunos que fosse compostas por uma grande diversidade étnica (brancos, pardos, negros, etc.). Os trabalhos foram divididos em duas etapas: sendo que na primeira etapa espalharam-se as imagens em cima de uma mesa e em seguida foi pedido para que os estudantes escolhessem a pessoas que estes consideravam a mais bonita. Na segunda etapa foram feitas entrevistas com os mesmos, em que cada aluno deveria dizer o motivo de sua escolha e/ou rejeição.

RESULTADOS:
Parece que o cabelo tem sido alvo de estigmas e não de afirmação étnico-racial, pois de todas as imagens utilizadas, somente as que tinham pessoas negras, usando diversos modelos de penteados, não foram escolhidas, até mesmo pelos alunos negros. Ao receberem certos apelidos na escola, devido aos seus cabelos, os estudantes negros experienciam a não aceitação e o racismo, pelo fato de pertencerem a uma etnia que não é a branca. Segundo dados da pesquisa, o cabelo passou a ser um dos traços marcantes na estereotipação das pessoas negras, principalmente das mulheres. Essa situação discriminatória freqüentemente tem impregnado as relações no ambiente escolar, em que a expressão “cabelo de assolam” e “cabelo de bruxa” são o termo mais utilizado pelos alunos. Os sujeitos não apresentam constrangimento em tecer opiniões sobre o cabelo, dando visibilidade ao preconceito racial antes camuflado através de brincadeiras com cunho pejorativo. Porém ao perceberem que o assunto principal deste trabalho estava voltado para as questões étnicas raciais, tentaram não externar através de suas falas, algo que os comprometessem.

CONCLUSÕES:
Sabe-se que a escola não é uma instituição neutra, ela é também formadora de saberes sociais e culturais. Neste sentido, a escola pode ser uma instituição que tem a possibilidade de contribuir para que a ideologia discriminatória seja transmitida ou perpetuada. Por isso, se evidencia a importância de escutar sobre como os estudantes percebem o mundo em que vivem, abrindo um espaço para a circulação da palavra no ambiente escolar, possibilitando assim que o diálogo seja a ferramenta fundamental para a solução de problemas, talvez assim, a escola se tornará um lugar mais democrático. Percebe-se que ao excluímos os outros que diferem de nós, excluímos a nós mesmos e perde-se a chance de aprender com os que são diferentes de nós. Acredita-se que ao oferecer oportunidade para que as pessoas falarem sobre suas vivências, abre-se um leque de possibilidades para o pesquisador analisar a realidade em que os sujeitos estão inseridos.



Palavras-chave:  Cotidiano escolar, Preconceito racial, Cabelo

E-mail para contato: jujuana14@hotmail.com