H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
CIÊNCIA E RELIGIÃO NA LITERATURA DE CORDEL: UM ESTUDO SOBRE O “PROFANO” E O “SAGRADO” NA OBRA DE RODOLFO COELHO CAVALCANTE
Jorge Henrique da Silva Romero1
1. Universidade Estadual de Campinas
INTRODUÇÃO:O objetivo deste trabalho é estudar a repercussão de avanços tecnológicos e científicos no século XX, entre eles a adoção de métodos anticoncepcionais, e o início da “conquista” ou “corrida” espacial nas décadas de 60 e 70, que culmina com a chegada do homem à lua, na obra do poeta popular alagoano Rodolfo Coelho Cavalcante.
Não procuramos contrapor ciência e religião como aspecto dicotômico na literatura de cordel escrita por CAVALCANTE, porém buscamos entender, dentro de sua obra e sua busca pela moralização da literatura de cordel, o que há de “sagrado” e “profano” nessa literatura, ressaltando, dessa forma, aspectos essenciais e identitários da “cultura sertaneja”.
Nos deparamos com o artista e sua relação com o público, e assim, na medida em que as relações e estruturas sociais se complexificam, suas ações e “inter-ações” podem, dessa forma, ocasionar profundas mudanças que se tornam essenciais para o entendimento de sua obra .
O objetivo não é, então, medir o impacto das “novas” tecnologias e ressaltar as mudanças na organização social e no comportamento de determinada comunidade, mas, sobretudo, observar as ressonâncias entre literatura de cordel e aspectos sociais da “vida sertaneja”, através do estudo e aspectos relevantes na obra de Rodolfo Coelho Cavalcante.
METODOLOGIA:A pesquisa foi realizada no Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulalio – CEDAE – na coleção Literatura de Cordel, por meio de consultas realizadas no próprio acervo. A coleção Literatura de Cordel conta com cerca de 1200 folhetos catalogados, dentre eles 71 cordéis de autoria de Rodolfo Coelho Cavalcante. Dentre estes, analisamos os seguintes:
"A chegada do homem à lua";
"A invasão do homem à lua";
"A criança que nasceu com duas cabeças e três braços em Pernambuco";
"A maneira da mulher não ter filhos";
"E a Terra brilhará outra vez: A vinda do cometa KOHOUTEK".
De acordo com as normas internas do CEDAE, após as consultas, houve a devida transcrição do material e posterior análise dos mesmos folhetos. As capas foram fotografadas através de máquina digital (sem flash para a devida conservação do material).
RESULTADOS:Podemos perceber na obra de CAVALCANTE que os temas da ciência e religião estão ligados intrinsecamente por questões éticas e morais. A chegada do homem à lua, por exemplo, é colocada em termos de “rivalidade com o divino”, de “vaidade” e de “subversão da lógica da criação”. A ambição que torna o homem ávido “destruidor das formas naturais de vida”:
Não é para o bem da terra/
Nem da própria evolução.../
O que existe somente/
É o ideal prepotente/
Da vaidade, a ambição/
Em A maneira da mulher não ter filhos é possível perceber o impacto da possibilidade da adoção de meios anticoncepcionais. A esse tema liga-se uma “ideologia da punição” por essa subversão das formas tradicionais de vida:
A mulher não tem direito/
De evitar a concepção/
Da mesma forma não pode/
Pela mais justa razão/
De pedir a Deus demais/
Pois Ele sabe o que faz/
Sendo a Suma Perfeição!/
O impacto desses “novos tempos” levou o sertanejo então a “repensar” um “novo fim do mundo”. Não mais nos termos bíblicos, mas devido a essa “ambição” do homem que não vive mais sob a “Santa Lei do Senhor”.
CONCLUSÕES:O cordelista observa o que há de ilusório nesses “novos tempos” da humanidade e aponta para uma organização da vida de acordo com princípios morais e uma “Santa Lei”, ao mesmo tempo não é impassível ao desenvolvimento:
Como Podemos ir à lua/
Ou para Marte morar/
Se na Terra o próprio homem/
Inda não sabe habitar?.../
Marte e Lua não me aterra/
Porém os homens da Terra/
Na Terra devem ficar./
Segundo CURRAN esses folhetos de CAVALCANTE da década de 60 estão ligados a uma época de conflitos que foi bem retratada pelo poeta em seus cordéis. Procuramos, dessa forma, estudar as contribuições desse poeta que possui vasta produção de folhetos e que possui uma significativa importância no panorama de uma forma literária que “circula orgânica e livremente” seja pelo sertão ou pela cidade, “compondo” ou “se fazendo compor” pelo imaginário e pelo cotidiano do povo nordestino.
Palavras-chave: Ciência, Religião, Literatura de cordel
E-mail para contato: juleshenrique@yahoo.com.br
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