60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 66. Comunicação Visual

COMUNICAÇÃO E IMAGINÁRIO: A SANTIFICAÇÃO DE CHE GUEVARA EM VALLEGRANDE, BOLÍVIA

Anaelson Leandro de Sousa1
Adailton Rocha Nunes2
Marcela Bomfim da Silva4
Taisa Moura Rodrigues4

1. Professor do Curso de Comunicação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
2. Graduando do Curso de Comunicação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
3. Graduanda do Curso de Comunicação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
4. Graduanda do Curso de Comunicação da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia


INTRODUÇÃO:
A comunicação é fundamental no sentido de criar imaginários na sociedade. No entanto, esse imaginário precisa ser alimentado por imagens significativas e com força suficiente para alterar a dinâmica social. A imagem, em seus primórdios, era muito usada no aspecto religioso. Atualmente a imagem, não é utilizada apenas na política, educação, meio ambiente, etc., mas também continua corrente no terreno da religiosidade. Na região campesina de Vallegrande, sudoeste da Bolívia, um ícone vem alterando o imaginário da localidade; trata-se da imagem do Comandante Ernesto Che Guevara, um dos líderes da revolução cubana de 1959, morto em outubro de 1967, na região de Vallegrande. A partir de 1997 cresceu o interesse local sobre a sua imagem, reproduzida hoje em lugares públicos e privados. O fenômeno de sua santificação faz com que moradores ao acenderem velas clamem a “San Ernesto Guevara”, “Santo Che” ou “Checito” para que interceda por eles. O objetivo dessa pesquisa é identificar como a imagem de Che Guevara tem influenciado o imaginário local e qual a recepção de seus moradores com esse fenômeno de santificação. A pesquisa é relevante no sentido de identificar como um ícone da política adentra um outro campo: o religioso.

METODOLOGIA:
Para entender melhor a apropriação da imagem de Che Guevara na dimensão religiosa foi necessário aplicar questionários entre os moradores da cidade de Vallegrende, na Bolívia. Antes de mencionar a trajetória metodológica é necessário fundamentar a técnica usada. Para Dencker e Viá (2001, p.162) no questionário, a informação obtida pelo pesquisador limita-se a respostas escritas e a questões predeterminadas, também apresentadas de forma escrita. A sua natureza impessoal permite maior facilidade na coleta dos dados, podendo não exigir a presença do pesquisador. No nosso caso, foi fundamental a presença dos pesquisadores para melhor orientar o entrevistado. Em Novelli (2005, p.168) o processo de elaboração do questionário é a compilação de dados disponíveis sobre o assunto a partir do escopo da pesquisa e que muitas vezes esses dados não estão disponíveis ou não foram coletados. Um esforço foi realizado no sentido de reunir informações que fossem bem aproveitadas para o questionário. Portanto, após tais observações, os questionários foram aplicados no dia 6 de março de 2008, na praça central de Vallegrende. Foram respondidos 68 questionários com um publico alvo diverso e de variadas idades. Após a coleta buscou-se resultados de ordem quanti-qualitativo.

RESULTADOS:
Após tabulação dos dados obtidos pelo questionário, foram gerados gráficos e tabelas que melhor visualizassem o objeto em questão. Identificamos que as mulheres foram as que mais tiveram disponibilidade para responder às perguntas, correspondendo a 66% do total. A faixa etária apurada demonstrou também que a maioria das pessoas está com idades entre 21 e 30 anos, correspondendo a 27%. A população idosa é bastante significativa, pois, demonstra que 16% estavam acima dos 60 anos de idade. Um artifício utilizado na pesquisa foi a apresentação da imagem de Che Guevara aos entrevistados. Após mirar a imagem do Comandante foi perguntado o que ela transmitia a primeira vista. Como resposta, a maioria apontou em 47% que transmitia paz, em seguida, com 28% a imagem não transmitia absolutamente nada. Apenas 9% associaram a santidade, bem próximo dos que ligavam a sua figura à guerra. No entanto, o que predomina no imaginário dos vallegrandinos é a baixa rejeição à sua imagem. A paz, indiretamente, suaviza o currículo do revolucionário, marcado também por assassinatos. Uma outra resposta chega a colocar em cheque a sua santidade, pois a maioria prefere vê-lo como um amigo dos pobres (83%) em vez de santo (6%). Quanto à sua santificação oficial pela Igreja, 46% não concordam.

CONCLUSÕES:
Apesar da imagem do Comandante Che Guevara transpassar o campo político e atingir a religiosidade popular, a pesquisa aponta para um culto bastante ponderado, sem apresentar características messiânicas, pois importa àquele povo viver apenas o presente. Apesar da santificação aparente, o que fica evidente é o carinho que a imagem proporciona em seus moradores. Vale notar como os mortos têm um lugar privilegiado em sua vida social e seu imaginário. Para jovens ou idosos, o imaginário gerado a partir da imagem de Che beira o divino, não por ser considerado inteiramente um santo, como demonstrou a pesquisa com 4%, mas por gerar esperança. Em uma terra onde os mortos têm púlpito assegurado, a presença viva do eterno Comandante vai além e pode assegurar-lhes uma receita proveniente do turismo. Che pode ser conforto espiritual e mais ainda conforto econômico se a sua santidade varar os rincões dos vales bolivianos. No entanto, é verdade a sinceridade daqueles que dizem acender velas a clamar por dias melhores usando por intermédio o Che. Porém, a pesquisa demonstra a seguinte contradição: a maioria o quer como santo reconhecido pela igreja (54%), mas apenas 6% o consideram assim. Contudo, a imagem de Che interfere de forma positiva no imaginário local.

Instituição de fomento: Financiamento interno da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UESB



Palavras-chave:  Imaginário, Religiosidade, Bolívia

E-mail para contato: anaelson_leandro@yahoo.com.br