60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística

AVALIAÇÃO DA REDUÇÃO DO RUÍDO FRICATIVO NA PERCEPÇÃO DE CONSOANTES FRICATIVAS SURDAS E SONORAS, EM POSIÇÃO DE ONSET, SEGUIDAS DAS VOGAIS [A], [I] E [U] EM MONOSSÍLABOS

Audinéia Ferreira da Silva1
Vera Pacheco1, 2

1. Departamento de Estudos linguisticos e literarios - DELL/UESB
2. Prof. Dr. - Orientador


INTRODUÇÃO:
As fricativas são consoantes produzidas por uma estreita constrição do trato vocal. Nesse sentido, a produção dessas consoantes conta com a participação da fonte de ruído, resultante da turbulência de ar gerada pela constrição do trato vocal. As fricativas sonoras contam, ainda, com a fonte laríngea. Acusticamente falando, as fricativas se caracterizam basicamente pela presença de ruído concentrado em altas energias. Segundo Oliveira e Pacheco (2006), a duração segmental pode, em algumas línguas, ser fortemente influenciada por fatores de ordem fonológica. Para as autoras, a duração segmental não é fixa e é condicionada por diferentes fatores, como vozeamento, estrutura silábica e contexto fonético em que esses segmentos (vogais e consoantes) estão inseridos. Em termos de produção, Souza e Pacheco (2005) mostram que, para o Português do Brasil, a duração do ruído fricativo não está associada à distinção de fricativas surdas e sonoras, como acontece para outras línguas. Se em termos de produção, a duração do ruído fricativo independe da sonoridade da fricativa, a pergunta que se coloca é se essa duração tem implicações para a percepção de fricativas surdas e sonoras. Assim, o objetivo do presente trabalho é investigar a influência da duração do ruído fricativo na percepção de consoantes fricativas surdas e sonoras.

METODOLOGIA:
Para realização deste trabalho foi constituído um corpus composto por monossílabos tendo no onset as fricativas labiodentais (surda e sonora), as palato-alveolares (surda e sonora) e as alveolares (surda e sonora), e no núcleo as vogais [a], [i] e [u] inseridos em frases veículos, do tipo “digo X baixinho”. As gravações foram realizadas através do aparelho Digital Olympus em alta qualidade com uma informante do sexo masculino natural de Vitória da Conquista – BA. A manipulação dos dados foi feita no programa Praat, que possibilita a manipulação dos segmentos, transformados pelo programa em ondas e espectrogramas. A manipulação consistiu na redução do ruído das fricativas em 75%, 50% e 25%. Foram realizados dois testes pilotos com vistas a realizar ajustes necessários a aplicação do teste de percepção efetivo. No 1º piloto, as manipulações foram feitas com as fricativas seguidas da vogal [a]. Cada frase foi gravada três vezes aleatoriamente, em taxa de locução normal e com um intervalo de tempo indeterminado entre as gravações. Essas gravações foram apresentadas a três informantes. No 2º piloto as manipulações foram feitas com as fricativas seguidas das vogais [a], [i] e [u]. Cada frase foi gravada duas vezes aleatoriamente com intervalo de 10 segundos entre uma frase e outra. Os dados foram submetidos ao teste estatístico descritivo para estabelecer qual a porcentagem de recuperação do ruído original das fricativas.

RESULTADOS:
Os resultados obtidos com a análise dos dados evidenciam que a redução do ruído das fricativas interfere na percepção das mesmas. A análise dos dados nos permite afirmar que a redução de 75% é pouco percebida pelos informantes, enquanto que a redução de 0% foi a mais percebida em ambos os testes. No 1º piloto, para a fricativa palato-alveolar surda foi registrada uma média geral de 41,25% de recuperação do sinal original. A fricativa palato-alveolar sonora teve média geral de 11% de recuperação do sinal original. A fricativa alveolar surda teve média geral de 30,25% de recuperação do sinal original. Para a fricativa alveolar sonora foi registrada média geral de 2,77% de recuperação da fricativa do sinal original. A fricativa labiodental surda teve média geral de 30,55% de recuperação do sinal original. Para a fricativa labiodental sonora houve média geral de 2,77% de recuperação da fricativa do sinal original. No 2º piloto a fricativa labiodental surda teve uma média geral de 45,83% de recuperação do sinal original. A fricativa labiodental sonora teve média geral de 0% de recuperação do sinal original, mesmo nos casos em que não houve manipulação. A fricativa alveolar surda teve uma média geral de 70,83% de recuperação do sinal original. A fricativa alveolar sonora teve uma média geral de 62,5% de recuperação do sinal original. A fricativa palato-alveolar surda teve média geral de 79,16% de recuperação do sinal original. A fricativa palato-alveolar sonora teve média geral de 45,83% de recuperação do sinal original. Os resultados encontrados no 1º e no 2º piloto evidenciam que a duração segmental interfere na percepção das fricativas surdas e sonoras, sendo que estas parecem ser mais percebidas do que aquelas.

CONCLUSÕES:
Os resultados encontrados, nos dois pilotos, mostram que o tamanho do ruído influencia a percepção de consoantes fricativas surdas e sonoras. Inicialmente é possível afirmar que as fricativas sonoras dependem de um sinal maior para ser percebidas, enquanto que para as surdas uma maior porcentagem de redução do ruído não interferiu tanto, ou seja, foram mais percebidas quando da manipulação do ruído. Em alguns casos, mesmo quando o sinal não havia sido manipulado, algumas fricativas não foram percebidas, em especial as sonoras. Observou-se também que as fricativas palato-alveolares foram mais percebidas, quando comparamos a percepção de surdas/surdas e sonoras/sonoras, do que as demais fricativas. Essas ocorrências nos levam a levantar a hipótese de que o ponto de articulação pode interferir na percepção das consoantes fricativas surdas e sonoras quando essas têm o seu ruído manipulado.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado da Bahia/ FAPESB

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Duração segmental, Percepção, Fricativas

E-mail para contato: audineia.ferreira@gmail.com