60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)

A FORMAÇÃO INTERDISCIPLINAR NOS CURSOS DE LICENCIATURA: EXIGÊNCIAS, NECESSIDADES E POSSIBILIDADES

Jairo de Araujo Lopes1

1. PUC-Campinas /Centro de Ciências Sociais Aplicadas / Grupo de Pesquisa ICCON


INTRODUÇÃO:
Propostas educacionais recentes têm se apoiado no paradigma da ciência pós-moderna que imprime uma visão interdisciplinar para o estudo dos fenômenos dos vários campos do conhecimento. Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem a abordagem de resolução de problemas como ponto de partida de construção de conceitos, e o tratamento transversal de temáticas sociais e ambientais na escola como forma desenvolver nos alunos a capacidade de promoverem uma leitura crítica da realidade com vistas a uma formação científica, tecnológica e profissional de qualidade e cidadã. Refletindo sobre as ações que devem ocorrer na escola para a implantação de tal proposta, este trabalho teve por objetivo investigar a formação dos futuros professores de Educação Básica nos Cursos de Licenciatura quanto a estarem capacitados ao desenvolvimento de práticas e projetos interdisciplinares. O estudo teve como pretensão analisar a pertinência do desenvolvimento de práticas e projetos interdisciplinares nos cursos de formação de professores para a educação básica e fornecer subsídios aos diretores/coordenadores de cursos de licenciatura quanto à implantação de uma estrutura acadêmico-físico-administrativa para o desenvolvimento de práticas e projetos interdisciplinares.

METODOLOGIA:
Trata-se de uma pesquisa qualitativa composta por dois tipos de análise: bibliográfica e documental. O estudo bibliográfico referiu-se ao tema interdisciplinaridade, na busca de referenciais teóricos que pudessem nortear a análise dos dados coletados na pesquisa. Assim, foram consideradas as categorizações de formas de integração de conhecimentos apresentadas por autores estudiosos do tema. Em seguida, a análise documental teve foco nos Pareceres e Resoluções do Conselho Nacional de Educação do MEC que definem as diretrizes curriculares gerais das licenciaturas e as específicas das áreas de formação de professores para a educação básica, e nos projetos pedagógicos de dez cursos de licenciatura de uma Instituição de Ensino Superior do Estado de São Paulo. Os primeiros documentos são encontrados no site do MEC, e os demais são disponibilizados para os alunos da instituição. Um estudo inicial identificou as concepções de integração de áreas de conhecimento que poderiam caracterizar projetos e práticas interdisciplinares nas diversas modalidades, segundo os referenciais teóricos de apoio. Voltou-se posteriormente aos projetos pedagógicos das licenciaturas observando se as integrações propostas poderiam ser contempladas nas atividades apresentadas nas matrizes curriculares.

RESULTADOS:
O estudo bibliográfico apresenta termos que se distinguem por: níveis de relação entre áreas; formas de relacionamento entre especialistas; resultados da aproximação. São exemplos: pluri, multi, inter e transdisciplinaridade, disciplinaridade cruzada, pseudo-interdisciplinaridade, interdisciplinaridade complementar, auxiliar, unificadora etc.. No contexto pedagógico, a integração pode ser tratada pelos três primeiros termos, considerando o continuum que leva ao último. Um parecer do CNE apresenta o professor como um ser eminentemente interdisciplinar por mobilizar conhecimentos relativos a ensinar e promover a aprendizagem. Atravessar as tradicionais fronteiras disciplinares, estabelecer relações com outras áreas e atuar em equipes multi e interdisciplinares são a tônica das diretrizes específicas. Nos projetos pedagógicos estão expressos os tipos e níveis de relação: integração entre disciplinas do curso, prioritariamente as de um mesmo período letivo; diálogo com disciplinas de outros campos que fornecem ferramentas de análise e compreensão dos fenômenos da área ou fornecendo a elas elementos de estudo e investigação em seus campos formativos; diálogo entre áreas distintas, constituindo via de mão dupla no sentido de fortalecer o processo educativo e investigativo de ambas.

CONCLUSÕES:
O ensino superior tem tomado uma nova dimensão a partir do tripé ensino-pesquisa-extensão. Uma matriz curricular que articula esses segmentos necessariamente aborda a interdisciplinaridade tanto no âmbito das disciplinas do curso quanto no âmbito do trabalho com outras áreas do conhecimento. De qualquer forma, o ensino com pesquisa ultrapassa o conceito fragmentado de ensino e pesquisa ou ensino para pesquisa. A presença da pesquisa na graduação elimina o sentido de pesquisa como especialidade, que necessita da aquisição de conhecimentos prévios para ser concretizada. No estudo, a palavra projeto esteve presente com freqüência e em contextos diferentes, quase sempre atrelada à possibilidade de um trabalho entre disciplinas que compõem a matriz curricular, propiciando uma integração horizontal num mesmo período letivo. Os projetos pedagógicos, porém, não responderam à pergunta: as abordagens de ensino preconizadas oferecem maior possibilidade de um trabalho interdisciplinar na formação de professores? Dentre as proposições, os teóricos apresentam a constituição das Comunidades de Aprendizagem, não como norteadoras de todo o currículo, mas como tentativa de organizar o funcionamento do centro formador de professores por experiências, propostas e interações de duas ou mais áreas.



Palavras-chave:  Formação de professores, Práticas pedagógicas, Interdisciplinaridade

E-mail para contato: jairo@puc-campinas.edu.br