60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 67. Jornalismo e Editoração

O JORNALISMO INVESTIGATIVO E SUA RELAÇÃO COM AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

Marcos de Castro Aranha1

1. Universidade Federal do Maranhão


INTRODUÇÃO:
O trabalho aborda as implicações da documentação jornalística, através do jornalismo investigativo e da produção de grandes reportagens sobre a cultura popular, especialmente sobre as manifestações culturais repassadas de forma predominantemente oral no estado do Maranhão. É senso comum – este fortalecido pelas indústrias midiática e de turismo - que a documentação da cultura oral é benéfica, pois seria uma forma de preservá-la de uma maneira mais resistente que a frágil comunicação oral. No entanto, seria negligente não refletir acerca dos prejuízos que a produção de grandes reportagens pode trazer a tais manifestações, como a sua espetacularização, a má interpretação e a perda de sua dinâmica natural. A pesquisa tem por objetivo discutir a relação entre mídia, com foco no jornalismo investigativo, e manifestações culturais populares, e esboçar possibilidades para que esta relação aconteça de forma a minimizar distorções inerentes a este processo.

METODOLOGIA:
Para a realização do estudo, foi feita pesquisa bibliográfica abrangendo como temas: etnolingüistica, jornalismo investigativo, livro-reportagem, filosofia do jornalismo, cultura popular maranhense, mídia e cultura popular. Os principais autores estudados foram: Ester Marques, César Costa Vitorino, Carlos Sirqueira, Eduardo Belo, Marilena Chauí, Nestor Garcia Canclini, Luís Beltrão e Sérgio Ferreti. Foi realizada pesquisa documental para analisar as produções de jornalismo investigativo sobre manifestações culturais do Maranhão, em livros, jornais e televisão. Além do material jornalístico – ao qual foi dada a devida ênfase – foram pesquisadas e analisadas também monografias, artigos e teses que abordam o tema, além de textos literários. Em campo, foram realizadas entrevistas com praticantes de manifestações culturais maranhenses que são repassadas de forma predominantemente oral – entre elas o Tambor de Crioula, o Tambor de Mina, a Capoeira e o Bumba-meu-boi. Por último, para melhor compreender a dinâmica de produção de uma grande-reportagem que aborde a Cultura Popular, suas características, limitações e peculiaridades, propôs-se, como parte da pesquisa, a produção de um livro-reportagem sobre Capoeira no Maranhão, baseada na vivência de alguns Mestres.

RESULTADOS:
Fazendo o caminho inverso das produções jornalísticas, ou seja, levando as produções de jornalismo investigativo sobre manifestações culturais para os seus agentes, foi registrada em algumas situações uma desagradável surpresa expressa por estes últimos. Nessas ocasiões, o conteúdo de suas manifestações foi considerado por eles distorcido. Outra queixa registrada foi que as produções sobre as manifestações culturais eram inacessíveis aos seus detentores. Essa dificuldade, segundo a pesquisa, se dá por duas razões: os materiais jornalísticos de profundidade sobre manifestações culturais maranhenses são escassos em bibliotecas, livrarias, e mesmo na televisão e nos jornais impressos. Já as produções científicas sobre o tema não têm linguagem acessível ao grande público. Nota-se ainda que a dinâmica do jornalismo modifica-se quando se trata da modalidade investigativa, especialmente na produção de grandes-reportagens que abordem manifestações culturais. A reportagem de profundidade desprende-se de premissas do jornalismo diário, como o imediatismo e a hierarquização de informações, ou “pirâmide invertida”. Ao invés disso, a reportagem investigativa caracteriza-se pelo rebuscamento da narração e da descrição dos acontecimentos. No caso das produções que abordam manifestações culturais, este gênero jornalístico proporciona uma relação mais próxima com as fontes e com a comunidade em que elas estão inseridas.

CONCLUSÕES:
Existe uma lacuna na produção de jornalismo investigativo sobre manifestações culturais no Maranhão. De um lado, temos escassos produtos jornalísticos de profundidade que abordam o tema, que muitas vezes são criticados pelos realizadores da manifestação cultural. Do outro, temos produções acadêmicas que não são destinadas ao grande público. Nesse contexto, é função do jornalista documentar e levar essas informações a quem desejar, sobretudo as próprias pessoas envolvidas nas manifestações culturais. Mais do que somente entrevistar pessoas e registrar comportamentos, o jornalista deve mergulhar a fundo no objeto de documentação, para não correr o risco de realizar um produto desconectado da realidade a qual tenta descrever, ou mostrá-la de forma espetacularizada, elitista ou etnocêntrica.



Palavras-chave:  Jornalismo Investigativo, Manifestações Culturais, Maranhão

E-mail para contato: aranhamarcos@hotmail.com