60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A Doença de Parkinson (DP) é neurodegenerativa, caracterizada pela perda progressiva, acima de 60%, de neurônios dopaminérgicos da parte compacta da substância negra, situada nos núcleos da base. A degeneração desses neurônios é irreversível e resulta na diminuição da produção de dopamina, que é um neurotransmissor essencial no controle dos movimentos, ocasionando o aparecimento dos principais sinais cardinais da DP, particularmente a bradicinesia (lentidão do movimento), rigidez muscular, tremor de repouso, dificuldade de iniciar o movimento ou acinesia e instabilidade postural. Essas alterações motoras alteram a forma de relacionamento dos pacientes com o ambiente, influenciando diretamente na qualidade de vida. Outros fatores relacionados à progressiva perda da independência funcional e que interferem na qualidade de vida de indivíduos com DP são: diminuição da mobilidade funcional, quedas, fadiga, distúrbios emocionais, barreiras sociais, distúrbios do sono e restrições em atividades de lazer. O objetivo deste estudo foi verificar as associações entre os componentes de qualidade de vida, do acometimento geral e o estado mental em pacientes com DP idiopática.

METODOLOGIA:

Participaram deste estudo 13 pacientes com idade de 66,08 ± 7,73 anos de ambos os sexos, entre os estágios 1 e 3 de Hoehn-Yahr. Os pacientes foram avaliados clinicamente por um neuropsiquiatra, quanto ao acometimento da DP por meio da Unified Parkinson’s Disease Rating Scale (UPDRS) e quanto ao estado mental por meio do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM). Num segundo momento, o participante foi avaliado quanto à qualidade de vida por meio do questionário abreviado de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-Bref). Apenas para o MEEM foi considerado o resultado total. A UPDRS inclui componentes cognitivos, comportamentais e do humor (UPDRSpsíquica), atividades da vida diária (UPDRSfísica) e funções motoras (UPDRSmotora). O WHOQOL-Bref abrange questões referentes aos domínios: físico (p.ex., dor, desconforto, mobilidade; QVfísico), psicológico (p.ex., sono, imagem corporal, auto-estima; QVpsico), social (p.ex., relacionamento pessoal, sexual; QVsocial) e ambiental (p.ex., vizinhança, transporte, serviços de saúde; QVambiente). Para QVpsico, QVsocial, QVambiente e MEEM, valores mais altos indicam melhores resultados. Para verificar as associações entre os resultados dos componentes do WHOQOOL, da UPDRS e o resultado total de MEEM, o teste de correlação de Spearmann foi empregado e um nível de significância de p<0,05 foi adotado.

RESULTADOS:

Houve associação moderada, inversa e significativa entre UPDRSpsíquica e QVpsico (r=-0,619; p<0,024); MEEM e QVsocial (r=-0,628; p<0,021) e entre QVambiente e UPDRSmotora (r=-0,597; p<0,031). Os pacientes com maiores valores na QVpsico obtiveram menores valores na escala da UPDRSpsíquica, evidenciando que os componentes cognitivos, comportamentais e do humor estão preservados. Interessantemente, pacientes com as capacidades cognitivas preservadas obtiveram piores resultados no QVsocial. Pacientes com as funções motoras preservadas (UPDRSmotora) exploram mais o ambiente (QVambiente).

CONCLUSÕES:

Estas associações permitem concluir que a qualidade de vida desses pacientes é dependente das condições motoras, cognitivas e sociais. Especificamente em relação à correlação entre QVsocial e MEEM, fatores relacionados à depressão devem ser investigados. Sugere-se que os pacientes com DP sejam incluídos em programas sistematizados com atividades que visem à preservação das capacidades cognitivas e motoras para garantir a manutenção/melhora da qualidade de vida.

Instituição de fomento: CNPq e CAPES

Palavras-chave: qualidade de vida na doença de Parkinson, estado mental, função motora

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