60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia

O PENSAMENTO POLÍTICO ATUAL DOS EX-GUERRILHEIROS – DA CONTRACULTURA AO PODER

Jeferson Martins de Castro1
Maria Francisca Pinheiro Coelho1, 2

1. Departamento de Sociologia - UnB
2. Orientadora


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho se propôs a analisar o pensamento político atual de atores políticos que, no passado, precisamente no início do regime militar, atuaram como contestadores radicais do poder então constituído. Referindo-me especificamente àqueles que, movidos por uma utopia revolucionária, lançaram mão da luta armada e se contrapuseram frontalmente à ditadura. Jovens que viveram, lutaram e morreram em nome de um novo projeto de sociedade; uma geração que acreditava na política como grande dínamo das transformações políticas e culturais. Assim, buscou-se entender não apenas como esses ex-guerrilheiros se percebiam na época, como também se atentou para as desconstruções e reconstruções identitárias operadas a partir do fim do regime contestado. Ou seja, procurou-se avaliar em que e porque as opiniões do guerrilheiro da geração de 68 e as visões do ex-guerrilheiro no poder são tão distintas. Enfim, da contracultura ao poder: o que mudou?

METODOLOGIA:
O trabalho se dividiu basicamente em três etapas, desenvolvidas quase que simultaneamente. Na primeira fase realizou-se um levantamento preliminar das informações existentes sobre os sujeitos que protagonizaram ações de guerrilha e resistência armada à ditadura e que ocupam hoje, posições de poder - tais como a de deputado, senador e ministro. Já a segunda fase correspondeu à realização tanto de entrevistas, com os referidos ex-guerrilheiros, como de pesquisas em jornais e revistas, de modo que, se pôde reconstruir tanto a trajetória política como o pensamento político atual dos mesmos. As entrevistas visaram a percepção do posicionamento diante não somente do contexto em que atuou como um contrapoder mas ainda, de temas relevantes e muito discutidos na conjuntura política atual. Com isso, avaliaram-se as mudanças não apenas no pensamento como também na atuação, diante da redemocratização brasileira. Por fim, a terceira etapa correspondeu a análise e interpretação dos dados obtidos, tendo como substrato teórico uma extensa relação de materiais bibliográficos. De tal modo, simultânea ao levantamento de informações preliminares e à execução das entrevistas realizou-se uma aprofundada revisão bibliográfica.

RESULTADOS:
Com base nos estudos realizados e na pesquisa de campo feita é possível concluir que a “geração de 68” foi marcada e movida por uma utopia marxista, questionadora de todas as topias conformistas com a ordem burguesa. No campo oposto, havia um governo que chegara ao poder, guiado e movido com base na chamada Ideologia de segurança Nacional, através de uma Intervenção civil-militar. Em suma, estavam em luta a ideologia do opressor contra a utopia do oprimido. Com o fim do regime militar, a dissolução da União Soviética e o definhamento da era dos extremos, o discurso revolucionário-utópico perde seu sentido coesivo e sua congruência com a realidade. Conseqüentemente, vieram à tona problemas de identidade e de identificação das novas motivações de luta. A “geração de transição e ruptura” optou por assumir uma nova condição, a de “ator em uma nova realidade”; uma realidade em que socialismo e democracia não eram mais termos excludentes. O marxismo deixou de ser a única referência. Não se abandonou a esquerda, mas agora, trata-se de outra esquerda; o mesmo termo para conteúdos utópicos diferentes.

CONCLUSÕES:
Os ex-guerrilheiros mudaram com o seu tempo, perceberam que a revolução foi perdida e que, a nova ordem não mais admitia sacrifícios e “justiçamentos” em nome de um destino coletivo superior. Embora filhos do seu tempo, lutaram sob as novas regras, pelo fim do regime militar e pela ascensão do regime democrático. Perceberam então que era mais viável tomar o poder do Estado pela via “revolucionária” do voto, assumindo uma posição não mais de oposição crítica e radicalmente combativa. Eles são ainda homens de esquerda, muito embora, movidos por novas utopias. Não mais militantes uma revolução por rupturas e enfrentamentos armados, mas sim, por reformas negociadas dentro do jogo democrático. Defensores de causas diversas como o ambientalismo, a distribuição de renda, a luta por igualdade e liberdade combinadas, o feminismo, etc.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Ideologia, Utopia, Ex-guerrilheiros

E-mail para contato: jefersonunb@gmail.com