60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 3. Saúde de Populações Especiais

A PRODUÇÃO DA CONSCIÊNCIA ATRAVÉS DA VIVÊNCIA COMUNITÁRIA GUARANI

Ana Luisa Teixeira de Menezes1
Juliana Tavares Fereira2
Márjori Heitich Fontoura2

1. Prof.a. Dr.a - Departamento de psicologia - UNISC - Orientadora
2. bolsista de psicologia - UNISC


INTRODUÇÃO:
O tema específico desta pesquisa tem como eixo central a investigação da consciência a partir da vivencia comunitária Guarani, através da dança e do mito. Estes elementos permitem re-significar experiências pessoais e as recolocar a partir de referências coletivas. São, assim, percebidos como ritos que atualizam as vivências comunitárias. A dança Guarani representa um movimento de resistência cultural e é um exercício de aprendizagem constante. Os rituais das danças, entre os Guaranis, são interpretados como uma resistência agressiva frente aos invasores, afirmando a identidade na corporificação xamã, na reza, na palavra e no movimento. A presente pesquisa pretende contribuir com a compreensão da importância da dança Guarani para a manutenção dessa coletividade, tendo com referência categorias próprias à psicologia comunitária (Góis e Freire). Pretende, também, contribuir com o desenvolvimento teórico da psicologia, na medida em que procura aprofundar os estudos em comunidades indígenas. Um desses aspectos é o estudo dos mitos, dos símbolos e da vivência. O mito, e a sua narração, é um convite a tomar parte da história e a mostrar que não há história sem a sua participação. O mito une a comunidade, integra em torno de sua história, produz história.

METODOLOGIA:
A metodologia dessa pesquisa, de caráter etnográfica, baseia-se na prática reflexiva e pesquisa-ação participante. As conversas em roda, também, são utilizadas como metodologia, além das ações conjuntas, que vão desde o comer junto à produzir formas de interação coletiva de participação e de pensar sobre estas ações. Essas rodas são realizadas com diversos grupos de alunos de psicologia comunitária I e II e alunos da pós-graduação da Universidade. Nestas conversas, os alunos perguntam aos Guaranis sobre suas vidas. As perguntas surgem dos alunos, do desejo e curiosidade deles. As perguntas são exercícios que desenvolvem no estudante uma postura ativa frente ao conhecimento, a consciência de que precisa saber e que, para isso, necessita indagar como uma prática de aprender “com”, ao mesmo tempo em que reconhece o saber dos outros. Esta vivência da interrogação, que é característica do diálogo, estimula o pensar junto. O operar junto têm gerado uma cooperação entre Guaranis e Universidade, em um sentido genuíno de cooperação. Isto demanda tempo, muitas idas e vindas, presença viva e uma predisposição maior para o diálogo, enquanto pensar junto. A ação e o pensamento não se separam, mas se estimulam. Agir conjuntamente é um exercício profundo de diálogo e de pensamento.

RESULTADOS:
A experiência desta pesquisa tem produzido um intenso diálogo e interação entre pesquisa, ensino, extensão e pós-graduação. A partir de nossa inserção na comunidade, os Guaranis começaram a se abrir para outros contatos e grupos, empoderando-se para organizar o I Encontro de Medicina Tradicional no Rio Grande do Sul. O cacique e as lideranças relatam que a nossa presença tem aberto portas para o desenvolvimento da aldeia. A metodologia de nossa pesquisa tem permitido produzir formas de interação coletiva de participação e de pensar sobre as ações. O operar junto têm gerado uma cooperação entre os Guaranis e a Universidade. Destes encontros foram surgindo outras interações de caráter de extensão: venda e exposição do artesanato indígena na UNISC, bem como palestras dos Guaranis e profissionais sobre a cultura indígena. O espaço de venda tornou-se também um momento de comunicação, de diálogo inter-étnico. Surgiu um pedido da aldeia para fazermos um DVD da cultura Guarani. Também produzimos, em conjunto com os eles, um projeto pedindo apoio para a produção do DVD. Os Guaranis também solicitaram a nossa ajuda para elaborar um trabalho que está concorrendo ao prêmio cultura indígena. Atualmente, estamos aguardando os resultados dessas premiações.

CONCLUSÕES:
As ações desenvolvidas pelo projeto possibilitaram uma maior valorização da cultura indígena e estreitaram os laços com a Universidade. Através da iniciativa da presente pesquisa, o grupo de dança e canto passou a ser mais atuante, segundo a fala dos próprios Guaranis. Esse grupo visa promover uma integração entre a cultura, a dança, o canto, a letra e a música Guarani. A partir do fortalecimento do grupo, os Guaranis puderam apresentar mais a sua cultura, a fim de reconhecer e reafirmar-se como um grupo. Podendo, a partir daí, vir a desenvolver maior autonomia e auto-estima. Os mais jovens não valorizavam a cultura Guarani, e através do grupo pôde-se dar visibilidade e resgatar a cultura, com o envolvimento de toda a comunidade indígena. Assim, possibilitou-se a reaproximação dos jovens com a cultura Guarani, o interesse pelo canto, pela dança, pela língua, o que acaba fortalecendo a comunidade. Desta maneira, espera-se que cada vez mais a cultura Guarani possa ser preservada e transmitida de geração em geração. Algumas dessas mudanças podem ser observadas no dia-a-dia da aldeia, como o aumento da freqüência na Opy, onde são realizados, todos os dias, os rituais de dança e canto (reza). Percebe-se, também, o crescente interesse das crianças na cultura e na religião Guarani.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  aldeia indgena, consciencia, vivência, dança e mito

E-mail para contato: neguinhapreta@msn.com