60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

O presente estudo constitui uma análise descritiva e correlacional da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) e dos Valores Relativos ao Trabalho (VRT) de uma categoria muito especial de profissionais, os professores do Ensino Fundamental Público do Oeste Paranaense. Estes profissionais, a cada dia mais, são os grandes responsáveis pelo desenvolvimento de nossa sociedade ao prover a formação mínima necessária para o exercício da cidadania. Todavia, nem sempre seu bem-estar é considerado como primordial para esta mesma sociedade, o que certamente repercute em sua atividade diária e, portanto, nos “resultados” de seu trabalho: a Educação. Partindo desta realidade, o estudo buscou investigar a dinâmica de alguns fatores que podem contribuir significativamente para o desempenho profissional, fatores estes que englobam o conceito de QVT no modelo de Walton (1982), complementado por uma análise dos VRT destes professores, assumindo que os VRT possam ter impacto sobre as percepções de QVT, além das condições ditas “objetivas” de trabalho, vez que o sistema de crenças de um grupo sócio-cultural fomenta seus valores e percepções diferenciadas de bem-estar.

METODOLOGIA:

Os professores participantes foram convidados aleatoriamente, em oito escolas públicas selecionadas em quatro diferentes municípios da região (peq., médio e grande porte), totalizando 37 voluntários de ambos os sexos, com idades entre 22 e 48 anos. O estudo utilizou o modelo de QVT de Walton (1982), considerado bastante operacional, a despeito de sua amplitude, conforme atestam inúmeras pesquisas na área, e o também difundido modelo de VRT de Porto e Tamayo (2003). O primeiro dispõe apenas de estudos qualitativos, enquanto o modelo de VRT possui escala validada e de fácil operacionalidade, com escala de cinco pontos. Neste sentido, foi utilizado um questionário aberto para a análise de QVT, cujos resultados foram avaliados por juízes que conferiram valores escalares de 1 (mín.) a 5 para cada fator, sobre os quais foi calculada a média aritmética de cada questionário. Após consentimento institucional e pessoal, foram entregues os questionários a todos os professores das escolas, em horário de reunião. Contudo, praticamente todos os voluntários preferiram levar os questionários para casa e devolvê-lo na próxima data. Os dados, após avaliação dos juízes (para QVT), foram analisados com apoio de software estatístico para ciências sociais, de forma descritiva e correlacional.

RESULTADOS:

Os resultados descritivos apontam uma QVT média de 4,09 (DP= 0,55), com destaque positivo para o fator Constitucionalismo (média 5,00, DP= 0,00), indicando que os professores têm profundo conhecimento sobre seus direitos e deveres, e os exercem; negativamente, os destaques são a Compensação Justa e Adequada (média 3,68, DP= 1,60) e, principalmente, Condições de Segurança e Saúde no Trabalho, com apenas 3,24 pontos (DP= 1,46), demonstrando que, além da recompensa abaixo da expectativa, os professores enfrentam jornadas extenuantes e problemas de saúde ligados ao trabalho, além de casos de violência conseqüentes de sua atuação profissional. Na análise dos VRT, encontramos a Realização no Trabalho (média 4,05, DP= 0,63) como o principal valor difundido entre os professores, enquanto o interesse por Relações Sociais e Estabilidade aparecem igualdade de condições (~ 3,84) e a busca por Prestígio (média 2,51, DP= 0,58) é praticamente inexistente na categoria, nesta realidade. O estudo correlacional não encontrou relações muito significativas (p< 0,05) entre os fatores dos construtos de QVT e VRT, talvez em função do número reduzido da amostra.

CONCLUSÕES:

O estudo descritivo apóia claramente algumas idéias bastante difundidas sobre a baixa remuneração e as precárias condições de saúde e segurança dos professores das escolas públicas de Ensino Fundamental naquela região. O mais importante, é a percepção de que à exceção destes fatores, os professores contam com condições próximas do ideal em sua função, demonstrando o quanto seria fácil propiciar um ambiente de maior qualidade de vida no trabalho docente. Com relação à análise dos VRT, é interessante notar que tais profissionais não manifestam a busca por prestígio como um valor essencial em sua carreira, o que pode ser resultado de sua cultura regional ou não, o que demanda novos estudos em outras regiões do país. Os resultados do estudo correlacional indicam a necessidade de novos estudos, com ampliação da amostra e, de grande urgência, a validação de um instrumento nacional para avaliação de QVT baseado no modelo de Walton (1982). Assim, embora os objetivos deste estudo tenham sido atingidos apenas parcialmente, seu valor se constata nos achados e nas perspectivas de novas propostas. O estudo é, ainda, provocador de ações no âmbito da gestão pública da educação que têm, aqui, base para a implementação de ações em prol da QVT destes profissionais.

Palavras-chave: Qualidade de Vida no Trabalho, Valores Relativos ao Trabalho, Professores do Ensino Fundamental

E-mail para contato: maiango@yahoo.com