60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária

A PRESENÇA DA NOÇÃO DE ESCRITURA – PROPOSTA POR ROLAND BARTHES E DISCUTIDA POR HORST NITSCHACK – NA OBRA DE CLARICE LISPECTOR

Marília de Alencar Silva1
Marília Librandi Rocha1, 2

1. Departamento de Estudos Lingüísticos e Literários - DELL/UESB
2. Profª. Drª . - Orientadora


INTRODUÇÃO:
Roland Barthes (1915-1980) no capítulo “Da ciência à literatura” de O Rumor da Língua – afirma que a ciência e a literatura possuem características comuns, e uma delas é que tanto ciência quanto literatura são formas de discurso. Contudo, essa característica comum entre ciência e literatura é também a característica que serve para distingui-las, segundo Barthes; pois ciência e literatura possuem discursos diferentes. Conforme Barthes, a linguagem científica é um instrumento e, portanto, deve ser, de preferência, objetiva e neutra; pois sua função é transmitir conteúdos. Já a função da linguagem literária não é transmitir conteúdo, mas ser linguagem literária. Barthes também afirma que a linguagem impõe modelos e, deste modo, obriga-nos a pensar e a nos expressarmos de uma determinada maneira. Para Barthes, o único tipo de linguagem que escapa desse determinismo é a linguagem literária. Ele afirma que a literatura dá liberdade na medida em que nos faz escapar do facismo da língua. Porém, isso só é possível, segundo Barthes, através especificamente da escritura. Escritura é para ele um tipo de linguagem literária que questiona a sua própria linguagem, os problemas da enunciação e nega a idéia utilitária de linguagem como simples instrumento de transmissão de conteúdo.

METODOLOGIA:
Para elaboração deste trabalho primeiramente foi utilizado o texto “Da Ciência à Literatura” – que faz parte da obra O Rumor da Língua – de Roland Barthes; a fim de que elaborássemos um breve comentário sobre a noção de escritura. Posteriormente, para produzirmos uma discussão sobre o posicionamento critico de Horst Nitschack com relação à noção de escritura e a opinião dele de que esta noção é tratada por Clarice Lispector em algumas de suas obras, foi utilizado o ensaio “A Hora da Estrela (Clarice Lispector) e Primera Muerte de María (Jorge Eduardo Eielson): superação de uma estética da mimesis”- que faz parte da obra Leitores e Leituras de Clarice Lispector. E, para finalizar, utilizamos as obras Água Viva, A Hora da Estrela e A Paixão Segundo GH, de Clarice Lispector, a fim de que, através de alguns trechos dessas obras, pudéssemos dar ênfase a tese de Horst Nitschack.

RESULTADOS:
Barthes propõe, através da noção de escritura, que o referente da literatura é a própria literatura, pois mesmo que ela se refira a vários assuntos, ela faz isso através da linguagem. Ou seja, o referencial da literatura não é externo, pois ao transformar o exterior em texto, ele torna-se interior. Transformado em linguagem o conteúdo torna-se a própria linguagem literária e a própria literatura. A literatura, portanto, segundo Barthes, é ao mesmo tempo forma e conteúdo. Horst Nitschack no ensaio “A Hora da Estrela (Clarice Lispector) e Primera Muerte de María (Jorge Eduardo Eielson): superação de uma estética da mimesis” afirma que nessas obras os narradores, num primeiro instante, deixam de lado o enredo e se preocupam em discutir sobre o ato de escrever. Isto é, Nitschack, através dessas colocações, está, assim como Barthes, tratando da noção de escritura. Para Nitschack, Eielson e Clarice Lispector produzem escrituras, pois eles escrevem questionando o ato de escrever e, portanto, eles produzem uma literatura sobre a literatura. Em A Hora da Estrela e Primera Muerte de María, as histórias ficam num plano secundário. Nitschack afirma que o foco principal dessas obras é a ação de escrever; e que seus autores - Lispector e Eielson – escrevem, talvez, pelo desafio de escrever.

CONCLUSÕES:
Segundo Nitschack escrever é um desafio, pois, assim como Eielson e Lispector, ele acredita que as palavras não são suficientes para escrever o seu texto. Lispector, por exemplo, expressa em suas obras a vontade que ela tem de escrever o “instante já”, as essências das coisas, das cores, dos cheiros, das sensações, dos sentimentos, dos sons, ou seja, dos elementos não-verbais. E, consequentemente, a profunda agonia e frustração que ela sente ao perceber que é impossível fazer isso com palavras, pois cada palavra já possui o seu significado. E, portanto, o elemento não-verbal ao ser nomeado passa a ter o significado da palavra que o nomeia. Concluindo, Horst Nitschack discute a noção de escritura proposta por Roland Barthes e afirma que Jorge Eduardo Eielson e Clarice Lispector utilizam essa noção em suas obras. Porém, Nitschack, num determinado momento, contraria Barthes, pois este, como já foi dito, acredita que a linguagem literária é capaz de burlar o pragmatismo da língua, ou seja, dos modelos que a língua impõe. Já Nitschack acredita que nem mesmo a linguagem literária é capaz de fazer isso, pois, todos os tipos de linguagem (escrita) são compostos por palavras, elementos que, segundo ele, são incapazes de traduzir a essência dos elementos não-verbais.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Escritura, Linguagem, Literatura

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