60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 5. Semiótica - 1. Semiótica

AS FUNÇÕES DOS OBJETOS DE COLEÇÃO NA NARRATIVA FILMICA TOY STORY 2

Thainá Castro Costa1, 3
Leila Beatriz Ribeiro2, 1

1. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
2. Prof. Dra.- PPGMS
3. Escola de Museologia


INTRODUÇÃO:
O presente estudo é parte de reflexões originárias do projeto Mais do que posso contar: coleções, imagens e narrativas (RIBEIRO) e propõe a discussão do conceito de coleção; objetos de coleção, suas funções e relação com os indivíduos (BENJAMIN; POMIAN; BAUDRILLARD e MOLES) e os lugares de memória (NORA). No filme Toy Story 2 (1999) problematizamos a relação entre o objeto de coleção (questão simbólica e sua inserção no conjunto) e os indivíduos, assim como refletimos acerca da mudança de estatuto do objeto quando inserido em uma coleção privada e/ou pública. Ao entender o filme como um documento, carregado de significações em sua construção, a narrativa mostra o dilema do cowboy Woody expressa em três momentos distintos. Em primeiro lugar, o boneco é apresentado como sendo um brinquedo infantil com suas funções e significações atreladas ao contexto biográfico do menino Andy, seu dono. Em outro momento, ao se tornar um item de uma coleção privada, mais que um simples brinquedo, Woody passa a representar para o colecionador Al, a peça fundamental e rara na coleção de personagens de um seriado dos anos 50. Por fim, mediante a possibilidade de vir a pertencer a um museu japonês, como item de uma coleção e exposto aos olhares públicos, analisamos o valor de excepcionalidade que Woody poderia adquirir dado por esse lugar de memória.

METODOLOGIA:
As análises são realizadas no Laboratório de Linguagens e Mídias, na UNIRIO. Um dos instrumentos utilizados para efetuar a análise fílmica é o preenchimento de uma ficha descritivo-analítica, desenvolvida no âmbito do projeto institucional. São realizadas sessões com o filme, seguidas de discussão com a orientadora para que as categorias de análise sejam identificadas. Em paralelo, efetua-se uma revisão da literatura de modo que as categorias emergentes da análise fílmica possam ser cotejadas com as temáticas: coleção, memória, imagem e narrativas, que são referenciadas no quadro teórico-conceitual da pesquisa.

RESULTADOS:
Woody é um boneco de um menino americano, Andy. Adorado pelo menino, Woody desempenha sua função de brinquedo, ao entreter Andy. Ao se preparar para ir ao acampamento de férias Andy decide não levar Woody consigo, pois este já está desgastado e com um braço rasgado. Fato que, segundo sua mãe, pode ser explicado da seguinte maneira: “Os brinquedos não duram para sempre”. Posto à venda em um bazar caseiro Woody é cobiçado por Al, um colecionador de brinquedos. Ao adquirir Woody, para sua coleção de brinquedos de um seriado dos anos 50 Al com ele conquista o principal personagem e a peça que faltava para completar sua coleção. Enquanto os brinquedos do quarto de Andy percorrem a cidade para recuperar Woody, o colecionador negocia a venda de sua coleção a um museu japonês. A discussão dos diversos estatutos do objeto, em relação com os sujeitos e instituições, é assim sustentada: para Andy, o boneco o representa como criança e tem função de brinquedo de entretenimento; para Al, Woody é uma importante peça de coleção. Finalmente, para o museu, o boneco é a principal parte de um todo, a coleção de brinquedos e traz aspectos culturais. Este lugar de memória, estágio final do objeto de coleção, atribui o valor de excepcionalidade ao objeto e o expõe ao olhar.

CONCLUSÕES:
Um objeto de coleção, ao perder sua funcionalidade, é retirado de circulação e requer cuidados quanto a sua armazenagem e manuseio. Adquire valor simbólico e representativo atribuído por seu colecionador e/ou instituições de memória e informação. Em Toy Story 2, a maior preocupação de Woody e dos demais brinquedos é a de serem esquecidos e perderem sua função primeira. Os brinquedos da coleção de Al exprimem o desejo de retornarem aos seus donos em vez de ficarem guardados em caixas etiquetadas, à mercê de tratamentos técnicos de controle, conservação e armazenagem e expostos em uma vitrine de museu. O que interliga os personagens possuidores de Woody é a função-memória que o brinquedo carrega. Para Andy, o brinquedo, ainda em sua função utilitária, funciona biograficamente, como uma representação de sua infância; para Al, Woody é sinônimo de completude, remetendo-o ao seriado da década de 50, e para o museu, lugar de memória, o brinquedo exprime um caráter simbólico-cultural.



Palavras-chave:  Coleção, Memória, Objetos de coleção

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