60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia

MEMÓRIA DE UM LUGAR- PARQUE ESTADUAL MATA DOS GODOY

Hugo Leonardo Marandola1
Lúcia Helena B. Gratão1

1. Universidade Estadual de Londrina


INTRODUÇÃO:
Evocar a memória de lugares e paisagens é um exercício de buscar experiências, sentimentos, lembranças... Muitos são os trabalhos que procuram tal enfoque na História e Antropologia. Porém, a memória de lugares e paisagens tem um cunho geográfico marcante, nos referindo aqui, à Geografia Humanista. A busca da memória do Parque Estadual Mata dos Godoy surge da vivência do autor no referido lugar. Sendo monitor de trilhas interpretativas durante um ano (2006-2007), caminhos se abriram para o estudo e pesquisa na área. Uma área remanescente de Floresta Estacional Semidecidual no norte do Paraná, com cerca de 600ha, considerada por estudiosos, como o mais importante remanescente da região pela grande biodiversidade e pela presença de diversas espécies ameaçadas de extinção. A ânsia de conhecer histórias sobre esta Mata que abrigou e abriga tantos moradores (homens e animais) nos leva à busca da memória deste lugar que passa à categoria de Parque. Assim, se define como proposta deste trabalho, “escavar” a “memória do lugar” que se encontra “enterrada” na “paisagem” com o propósito de reconstituir a sua essência de lugar através da memória. Desta maneira, a busca da memória – desse lugar de memória – é o foco desta investigação.

METODOLOGIA:
O desvelamento da memória é empreendido através de conversas com personagens que tiveram envolvimento – topofílico ou topofóbico – com o lugar/paisagem. Destas conversas, a essência do lugar é revelada nas falas das personagens. Assim, é possível apreender as relações sensoriais, afetivas, estéticas e simbólicas, pois, nesta atitude, as expressões faciais, os gestos, o olhar, podem revelar a memória da paisagem e do lugar. Queremos experimentar as satisfações sensoriais, emocionais e espirituais que somente podem ser conseguidas mediante uma interação íntima, ou uma real identificação com os lugares onde vivemos, como Dubos nos sugere. Esta relação íntima com o lugar é obtida por nós através da pouca vivência do autor e, principalmente, das experiências de antigos moradores que tem a Mata como lar. As vivências das personagens são reveladas nas entrevistas. Otávio Cruz Neto coloca que a entrevista em forma de história de vida, é uma entrevista em profundidade que possibilita um diálogo intensamente correspondido entre entrevistador e informante, revelando assim sentimentos, vivências e experiências. Dessa maneira, podemos “escavar” a memória do lugar que se encontra “enterrada” na paisagem para expor e reconstituir a essência do lugar através da memória.

RESULTADOS:
Luiz Otávio Cabral e Maria Dolores Buss destacam que, num estudo de valorização de paisagem sob uma abordagem humanista, espera-se um certo deslocamento da atenção do objeto externo para os fenômenos que ocorrem com os sujeitos que a vivenciam. Assim, procuramos entender o lugar-Parque Estadual Mata dos Godoy na perspectiva apontada por Werther Holzer de que o lugar deve ser definido enquanto uma experiência que se refere essencialmente ao espaço como é vivenciado pelos homens, sendo nele gerados os significados geográficos. Dessa maneira, buscar a essência dos lugares pela memória das personagens é o caminho escolhido porque o lugar se apropria das experiências das pessoas, e também, a paisagem em geral, serve como um vasto sistema mnemônico para a retenção da história e ideais de um grupo.

CONCLUSÕES:
O lugar não só gera significados, como também o Homem se apropria dele numa profunda relação. Yi-Fu Tuan apresenta o sentido de lugar, dizendo que este é uma entidade única, que tem história e significado. Ele se apropria das experiências e aspirações das pessoas. O lugar não é só um fato a ser explicado na ampla estrutura do espaço, ele é a realidade a ser esclarecida e compreendida sob a perspectiva das pessoas que lhe dão significado. Nesta perspectiva, o próprio nome do Parque Estadual Mata dos Godoy está carregado de significado, sentimento, memória. Antes de se tornar Parque, quando este remanescente do grande domínio florestal denominado Floresta Estacional Semidecidual - este “pedaço de chão” - esta Mata não era ainda, um remanescente; quando o seu entorno começou a ser devastado; quando uma família chegou e separou esta área para não ser derrubada; quando a Mata “recebeu” o nome dos Godoy; quando a Mata foi cortada por uma estrada; todo esse processo está enterrado na memória da Mata. Árvores, animais, moradores, ar limpo, enfim, um lugar que tem uma rica memória a ser escavada e revelada.



Palavras-chave:  Paisagem, Memória, Lugar

E-mail para contato: hmarandola@yahoo.com.br