60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

TEXTOTRAÇOS DE SUBALTERNIDADES E REFORÇO DE ESTEREÓTIPOS: A IMPORTÂNCIA DAS DISCUSSÕES ACERCA DO ASPECTO EDUCATIVO NO DESENHO INFANTIL.

Clara de Freitas Figueiredo1, 2, 3
Reinaldo Matias Fleuri1, 4, 2, 3

1. Núcleo MOVER de Educação Intercultural e Movimentos Sociais
2. Centro de Ciências da Educação - CED
3. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
4. Departamento de Estudos Especializados em Educação - EED


INTRODUÇÃO:
Na perspectiva da pergunta de LEITE(2006) “A criança desenha ou o desenho criança?”O presente trabalho trata da relevância de discussões sobre o desenho infantil enquanto linguagem que, pode se constituir em mais um espaço construtor de subalternidades e reforço de estereótipos. Aguiar (2004) afirma a necessidade, inerente do ser humano, de estar em comunicação, pessoal ou interpessoal. A comunicação, dá-se por meio da linguagem, verbal ou não verbal. O discurso não verbal, articula-se através de imagens sensórias, visuais, auditivas, cinestésicas, olfativas e gustativas. Segundo Aguiar, o lado direito do cérebro é responsável por nossas capacidade de generalizações e formação de conceitos abstratos, processos primários, atemporais e de associações livres. Assim, “por intermédio do hemisfério direito do cérebro, ’pensamos’ não em forma de conceitos, mas em imagens...” A imagem, primórdio da linguagem verbal, é forma inicial de conexão do homem com o mundo, sendo ela, a priore, produções espaciais, criadoras de um sentido de totalidade. Como ressalta Rosana Becker (2006), "O desenho é uma linguagem, para a criança é uma forma de estabelecer comunicação com o mundo...". O que evidencia a importância, da discussão e reflexão do desenho infantil nos processos educativos.

METODOLOGIA:
A metodologia deu-se inicialmente por meio da pesquisa, leitura, análise, questionamentos e diálogos que subsidiaram o processo de coleta e sistematização dos ícones emergidos dos desenhos. Os desenhos foram feitos, por uma turma de quarta série do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC.

RESULTADOS:
Analisando e refletindo sobre os signos e as cores nos desenhos dos estudantes e visando uma compreensão mais clara dos signos mais frequentes nos desenhos. Produziu-se uma tabela e um gráfico de todos signos e dois gráficos e tabelas contendo uma separação de gênero x signos. Resultando num total de 22 desenhos, onde um menino fez dois, e uma menina não fez. Eles trouxeram: um excesso de signos referentes a times de futebol, totalizando 37%; elas trouxeram: solzinhos, florzinhas, coraçõezinhos, representando os estereótipos então 18% dos ícones; os elementos que derivam da indústria cultural foram 12%. Deve-se ressaltar a inexistência de ícones relativos a elementos típicos da cultura local, ou de crianças negras e indígenas. Nos desenhos identificou-se, de maneira significativa, a questão dos estereótipos de gênero, sendo que nos desenhos das meninas havia uma grande proporção da cor rosa, coraçõezinhos, florzinhas e estrelinhas. Enquanto os meninos que usaram cores mais escuras, como o grafite e o azul, ou não usaram muitas cores, desenharam foguetes, animais em situações de violência, carrinho Hotweels e espadas.

CONCLUSÕES:
Relembrando a afirmação de LEITE, citada no início do texto, após finalizarmos a pesquisa, refletimos sobre a possibilidade do desenho infantil, por um “descuido”, perder seu potencial expressivo, comunicativo e criativo, transformando-se através de seus próprios mecanismos construtores de sentidos totalizantes, ou da sua negação enquanto potencial educativo, em mera correspondência das expectativas sociais. Perpetuando valores estereotipados, além do reforço das subalternidades culturais e coloniais. “Será que, desde pequenos, não vemos bonecas e casinhas nas garatujas das meninas e elementos de virilidade e ação nos rabiscos dos meninos?”. Nesse sentido, conclui-se esse resumo, apresentando alguns aspectos, dentre tantos outros, evidenciados pela pesquisa. Foram eles: a relação dos estereótipos e dos ícones relativos a indústria cultural, encontrados nos desenhos infantis com a presença massiva destes no ambiente escolar; a possibilidade de serem os estereótipos agentes contra o desenvolvimento de criatividade e da necessidade vital de se expressar das crianças; a relação dos desenhos/estereótipos com o processo de criação de sentidos e significados; e a relação dos desenhos/estereótipos com a construção de subalternidades coloniais, estéticas, sociais e culturais.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  desenho infantil, reforço de estereótipos, construções de subalternidades

E-mail para contato: chiarinh@gmail.com