60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 3. Psicolingüística

A INTERFERÊNCIA DA FALA NA ESCRITA DE ALUNOS DE 8ª SÉRIE: QUANDO ERROS ORTOGRÁFICOS SÃO CAUSADOS POR MOTIVAÇÃO FONOLÓGICA

Cristiano Egger Veçossi2
Giovana Ferreira Gonçalves Bonilha3

1. Universidade Federal de Santa Maria
2. Aluno do Programa de Pós-Graduação em Letras, da UFSM
3. Professora do Departamento de Letras Vernáculas da UFSM. Orientadora


INTRODUÇÃO:
Neste trabalho, realizamos uma análise de textos produzidos por alunos de duas turmas de oitava série, do Ensino Fundamental, de uma escola pública da cidade de Santa Maria-RS, sendo uma delas do ensino diurno regular e a outra do noturno, organizada em módulos. Nosso principal objetivo foi observar quais são os erros mais freqüentes na escrita que têm vínculo com questões fonológicas, estabelecendo relações entre os principais desvios apresentados pelas duas turmas. Além disso, objetivamos, também, refletir sobre a metodologia adotada pelos professores destas turmas ante os erros dos alunos (destaque das palavras escritas erroneamente, seguido da grafia correta, ou da solicitação de que se procurasse o vocábulo no dicionário), a fim de verificar se ela é adequada e eficaz para a superação dos desvios cometidos. Acreditamos que este trabalho se torna relevante, haja vista que, na sociedade em que vivemos, cada vez mais se dá importância à escrita e, considerando a complexidade envolvida no ato de escrever, o qual requer a apreensão de convenções nos níveis fonético, morfológico, sintático e semântico, dentre outros, o nível ortográfico não pode ser desconsiderado, principalmente porque erros a ele relacionados são os mais facilmente perceptíveis no texto dos alunos.

METODOLOGIA:
Inicialmente, formulamos uma planilha de análise com a categorização de erros adotada, partindo da proposta de classificação de Zorzi (1998), a qual foi reformulada de acordo com os objetivos da pesquisa. Em um segundo momento, analisamos os 34 textos, sendo que 18 deles foram coletados numa turma de oitava série de ensino noturno, composta por 10 alunos, organizada no sistema de módulos, e 17 em uma turma composta por 17 alunos do ensino diurno regular, ambos em escola pública estadual. Cabe salientar que todos os textos são fábulas e que na turma da noite foi realizada a reescrita dos textos. Além disso, a produção desses textos não foi realizada especialmente para esta pesquisa. A etapa seguinte consistiu na aplicação do critério de análise já formulado, de modo que os erros apresentados foram descritos e categorizados. Na seqüência, comparamos os principais desvios cometidos pelas turmas. Por fim, refletimos sobre a metodologia adotada no processo de correção dos textos, a fim de verificarmos se esta foi adequada, ou seja, se os alunos foram levados somente a corrigirem os textos, estabelecendo um processo momentâneo de compreensão, ou se realmente conseguiam reconhecer os erros e apreender a maneira correta como deveriam ser escritas as palavras assinaladas.

RESULTADOS:
Nossa planilha de classificação de erros ficou composta por dez categorias: Apoio na oralidade; Representações múltiplas; Generalização de regras; Erros nas sílabas de estruturas complexas; Junção/separação não-convencional de palavras; Confusão entre as terminações am x ão; Erros por ausência de nasalização; Trocas surdas/sonoras; Acentos gráficos; Outros casos. Assim, em termos gerais, percebemos que, na turma organizada em módulos, os 10 alunos apresentaram juntos mais de 80 erros, enquanto que os 17 alunos do ensino diurno apresentaram pouco mais de 50, sendo que 6 destes alunos não tiveram nenhum erro ortográfico. Ambas as turmas apresentaram maior número de erros na categoria Acentos gráficos, seguida por alterações ortográficas decorrentes de Apoio na oralidade e Possibilidade de representações múltiplas. Com relação às categorias: Junção/separação não-convencional de palavras, Trocas surdas/sonoras e Confusão entre as terminações am x ão, a maioria dos erros foram cometidos pelos alunos da turma organizada em módulos. Já em relação a Erros nas sílabas de estruturas complexas, ambas as turmas apresentaram poucos erros. Já quanto aos Erros por ausência de nasalização, há a ocorrência de um erro na turma organizada em módulos.

CONCLUSÕES:
A análise dos dados permite perceber a grande diferença existente no número de erros ortográficos com motivação fonológica entre as turmas regular e em módulos. Mesmo que o número de textos produzidos pelos alunos da turma em módulos represente praticamente a metade do número de produções dos alunos da turma regular, observamos que aqueles apresentam cerca de 35% mais erros que estes. Além disso, observamos uma considerável diferença no número de erros relativos à Junção/separação não-convencional de palavras, Trocas surdas/sonoras e Confusão entre as terminações am x ão, cometidos pelos alunos que estudam no ensino em módulos, ao compararmos com os alunos do ensino regular. Tal diferença faz que comprovemos uma hipótese por nós lançada inicialmente: os textos dos alunos que estudam em ensino diurno apresentam menos erros que os dos alunos que estudam no período noturno. Acreditamos que os desvios ortográficos existentes nos textos correspondam a lacunas que não foram preenchidas durante o processo de alfabetização destes alunos. Além disso, a reincidência, na reescrita, de muitos dos erros cometidos na produção inicial leva-nos a confirmar a ineficácia da metodologia adotada pelos professores de Língua Portuguesa da turma organizada em módulos na correção relativa à ortografia.



Palavras-chave:  escrita, ortografia, fonologia

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