60ª Reunião Anual da SBPC




B. Engenharias - 1. Engenharia - 8. Engenharia Elétrica

ESTUDO E MEDIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO SETOR ENERGÉTICO BRASILEIRO

Felipe Gonçalves F. de Oliveira1
Andre Gustavo de Gouveia e Gouveia1
Ulisses Anastácio de Oliveira1

1. Universidade Federal do Ceará


INTRODUÇÃO:
Em 2000, o Brasil consumiu 306.747 bilhões de kWh de energia elétrica. O setor comercial foi responsável pelo consumo de 15% deste total, ou seja, 42,6 bilhões de kWh. De toda a energia consumida no setor comercial desperdiça–se aproximadamente 14%, o que equivale a 5,8 bilhões de kWh. Isto representa um desperdício de 20% de energia elétrica no Brasil. Existem muitas "vias de desperdício" de energia na economia brasileira: seja por hábitos inadequados de consumo, utilização de aparelhos ineficientes ou falta de conhecimento técnico por parte dos grandes consumidores. Em termos energéticos, o Brasil ocupa hoje no cenário mundial, uma posição bastante significativa. As estatísticas da AIE - Agência Internacional de Energia apontam o país como o 10º produtor mundial de eletricidade e o 4º produtor mundial de hidroeletricidade. Embora possua uma grande diversidade de fontes de energia, o Brasil não tem geração suficiente para atender à demanda interna. A produção, em 1999, foi equivalente a 202,7 milhões de toneladas de petróleo, mas o consumo final totalizou 231 milhões, o que resultou num déficit de 28,3 milhões, suprido por importações. A produção nacional de energia (vide Tabela 1.2) está concentrada nas fontes primárias de energia renovável, como energia hidráulica, lenha e derivados da cana-de-açúcar, que correspondem a 66% do total produzido. As fontes não renováveis – petróleo, gás natural, carvão e urânio – são responsáveis por 34%. Entre 1990 e 1999, houve uma diminuição na produção de energia com fontes renováveis, principalmente a lenha, que caiu de 15% para 8,4%, e um aumento de fontes não renováveis, sobretudo do petróleo e seus derivados, que cresceu sua participação de 30,2% para 33,8% no mesmo período. Uma área da engenharia elétrica ganhou recentemente bastante evidência: a medição de energia. Não a medição do passado. Os medidores digitais hoje, medem, computam, comunicam e analisam todos os fenômenos elétricos. Medidores avançados são precursores de uma vinculação ainda mais exótica, das concessionárias com os seus consumidores.

METODOLOGIA:
Foi descrito e analisado o Sistema de Medição para Faturamento (SMF) em fase de implantação nas fronteiras geração–transmissão e transmissão–distribuição, adequado a supervisão dos intercâmbios de energia no âmbito do MAE e disponibilização ao ONS, de informações de demanda e qualidade de energia, inerentes ao uso do Sistema Interligado Nacional (SIN) pelos diversos agentes de mercado. Apresentou-se um breve histórico e em seguida foi feito um relato de como o mercado se comporta. Entidade de medição foi abordada e também o sistema de medição para o MAE-ONS. Foram considerados documentos, que serviram de referência ao Projeto Medição MAE.

RESULTADOS:
Dentro do modelo competitivo do setor elétrico brasileiro, a adoção de uma estrutura centralizada para as contabilizações e liquidações do mercado de curto prazo, e a conseqüente necessidade de um sistema de medição de faturamento também centralizado, traz consigo, enormes desafios, dificuldades e necessidade de elevados investimentos para implementação. Em contrapartida, este sistema centralizado está modernizando a medição do suprimento de energia elétrica, com regulamentos, procedimentos, normas, padrão, especificações, novas tecnologias, sistemas de comunicação, softwares - hardwares, equipamentos, instrumentos, etc. Tudo isto, em uma área do setor elétrico, historicamente carente de atualização tecnológica. As vantagens advindas deste sistema ainda em fase de implementação, serão extremamente benéficas aos agentes geradores, distribuidores, consumidores, comercializadores, importador–exportador de energia, pois permitirá aos agentes vinculados ao Mercado Atacadista de Energia Elétrica MAE, e ao ONS, o conhecimento do perfil de produção e consumo em tempo real. Certamente, num segundo momento, esta modernização tecnológica, atingirá às diversas classes de consumo atendidas pelas redes de distribuição, tal como a classe residencial, industrial, comercial, rural etc, permitindo assim, o correto planejamento da expansão do Sistema Interligado Nacional (SIN), em face da identificação do perfil de cada agente e o que representa na carga global do sistema, o que poderá contribuir enormemente no aperfeiçoamento do cálculo das tarifas, principalmente na contribuição das parcelas referentes ao suprimento (geração e transmissão). No modelo competitivo, a informação de medição é uma informação de mercado, portanto, a energia não tem somente valor financeiro, mas também o valor agregado, ou seja, os serviços que se deve fornecer para conseguir vendê-la. Neste sentido, as empresas distribuidoras que implementarem modernos sistemas comerciais de medição de faturamento, que permitam uma relação mais ágil com os seus clientes, como a disponibilização de informações e dados na Internet, por exemplo, terão maior vantagem competitiva, agilidade decisória e condições de manutenção do seu mercado cativo. Observa-se uma tendência de disseminação do uso da Internet, para o trânsito de dados de medição. Esta alternativa tecnológica, já está inclusive sendo utilizada pelos agentes na coleta e transferência de dados ao MAE (gateways e Client SCDE–UCM) e como medição comercial em diversos tipos de consumidores (livres e cativos). A Internet é a maior rodovia de dados do mundo e o protocolo de comunicação utilizado, o TCP–IP, o mais confiável, sendo considerado o estado da arte em termos de protocolo de comunicação. Há de se registrar que dentre as muitas funcionalidades existentes, são funções extremamente importantes presentes no Sistema de Medição para Faturamento (SMF), e implementadas no SCDE, a inspeção lógica (auditoria dos dados coletados dentro do período de contabilização) e a auditoria lógica (auditoria dos dados coletados e parâmetros ajustados fora do período de contabilização) pois ambas permitem conferir ao MAE e aos participantes do seu ambiente, grande credibilidade quanto aos dados de medição utilizados no sistema de contabilização/liquidação (SINERCOM), os quais podem inclusive, serem utilizados para fins fiscais. As tecnologias de medição estão hoje bastante avançadas, tanto na área de aquisição como tratamento dos dados. Pode-se afirmar que a grande dificuldade à disseminação dos sistemas de medição é a comunicação, considerando-se que em alguns locais onde estão instalados estes sistemas, não existe canal de comunicação disponível ou tem-se um custo elevado para implementá-lo. Deve-se registrar entretanto, que a capilaridade cada vez maior dos sistemas de comunicação, com a utilização das tecnologias de satélite, celular e os serviços disponibilizados pelos provedores de telecomunicações, quanto aos aspectos das conexões utilizando o Frame Relay, TCP–IP, TCP–IP VPN Internet, permitirão a implementação de modernos sistemas de telemedição nas diversas classes de consumo. A tecnologia chamada PLC (Power Line Communications), que requer a instalação de equipamentos especializados nas subestações, também viabiliza a implantação desses sistemas de medição.

CONCLUSÕES:
A implementação do SMF é uma tarefa de altíssima complexidade, que se torna ainda mais complicada, devido às freqüentes mudanças na regulamentação. Entendo que uma interação permanente entre o MAE, ONS e ANEEL pode minimizar bastante o efeito dessas mudanças. As reuniões bimensais atualmente realizadas pelo MAE e ONS para acompanhamento da implantação do SMF, são extremamente benéficas à discussão dos problemas e encaminhamento das soluções inerentes a área de medição. No futuro próximo, haverá a necessidade de formalização de um ambiente permanente para discussão das questões da medição, tipo Comitê de Medição (COMED), conforme inicialmente idealizado no projeto RE–SEB. Visando contemplar as mudanças na regulamentação, as modernizações tecnológicas, aperfeiçoamentos e adequações identificadas pelos agentes, faz-se necessária uma revisão dos documentos regulatórios como a Especificação Técnica MAE-ONS, Procedimentos de Rede: – Módulo 12. Para regulamentar as conexões aos sistemas de distribuição, principalmente nos aspectos de medição de energia elétrica, é necessário destacar a importância dos Procedimentos de Distribuição, até o momento não disponível aos agentes do setor em caráter formal. O Sistema de Medição de Faturamento – SMF, o Sistema de Coleta de Dados de Energia – SCDE, o Sistema de Contabilização e Liquidação – SINERCOM, certamente sofrerá ajustamentos ao longo do tempo, considerando-se a necessidade futura de implementações de estágios mais avançados do mercado atacadista ,como por exemplo à redução do período de contabilização e o faturamento da qualidade de energia nas conexões com a rede básica .



Palavras-chave:  Energia elétrica, Setor elétrico, Sistema de medição

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