60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

REDISCUTINDO A TRAJETORIA IDENTITÁRIA EM UM GRUPO DE CONSCIÊNCIA NEGRA

Patricia Fonseca de Oliveira1
Nuno Paulino Barroso1
Aparecida Ferreira Alves1
Marcos Vieira Silva1

1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SAO JOAO DEL REI/DPSICLAPIP


INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é decorrente de um projeto de pesquisa e extensão realizado com o Grupo de Inculturação Afro-descendentes Raízes da Terra, pelo LAPIP - Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial da UFSJ. O referido Grupo possui doze anos de existência, sendo considerado um referencial de grupos de consciência negra na cidade de São João del-Rei/MG. Possui como objetivo o resgate de elementos das culturas africanas e a conscientização acerca dos problemas enfrentados pelos afro-brasileiros. Para tal fim, desenvolve atividades como: Semana da Consciência Negra, missas inculturadas e reuniões quinzenais comunitárias abertas aos interessados na discussão acerca da questão racial. As pesquisas realizadas anteriormente com o grupo priorizaram aspectos como a influência da ideologia do embranquecimento como atravessador das atividades do movimento grupal, a reconstrução da identidade do afro-descendente e a inculturação como uma estratégia de inserção social. A atual pesquisa, que teve inicialmente o propósito de investigar o desenvolvimento das reflexões acerca do preconceito racial vivenciado pelo Grupo, foi direcionada para a investigação da dificuldade de aceitação do não afro-descendente como possível resultado do processo de busca de afirmação da identidade grupal.

METODOLOGIA:
Foram coletadas informações sobre o Grupo de Inculturação Afro-descendentes Raízes da Terra e sobre a comunidade a qual pertence. A coleta de dados compreendeu informações obtidas através dos estágios promovidos pelo laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial/LAPIP e das disciplinas Teorias e Técnicas Grupais e Psicologia Comunitária, durante o ano de 2007. Nas referidas ocasiões, as informações foram obtidas por meio de observações das reuniões, análise das atas, dos diários de campo das reuniões, das gravações das festividades promovidas pelos integrantes e dos relatos orais presentes nas visitas comunitárias. Como suporte teórico para as intervenções grupais, foram utilizada as Oficinas de Grupo, bem como, pesquisa-ação, pesquisa-participante, sendo que, a pesquisa foi embasada na metodologia de Análise Institucional e analise dos dados coletados nas intervenções.

RESULTADOS:
As reuniões promovidas pelo Grupo exercem a função de ancoradouro pelo quais os integrantes, além de organizarem-se para a realização das festas temáticas, discutem sobre o preconceito racial, religioso e problemáticas comunitárias, como violência, descaso político, etc. O tema norteador das discussões concentra-se no preconceito racial. Estas reuniões representam, não somente um espaço para expressão de queixas, como também uma oportunidade para elaborarem estratégias coletivas para soluções das mesmas. Como subsídios para tais discussões, os integrantes recorrem às experiências individuais e experiências vivenciadas pelo Grupo. Os relatos pessoais e os discursos proferidos por alguns integrantes revelaram conflitos vivenciados na infância, adolescência e fase adulta. Estes acarretaram uma dificuldade no contato com o não afro-descendentes, ao mesmo tempo em que atuaram como atravessadores, na medida em que impossibilitaram a elaboração dos problemas raciais sofridos, levando-os a um contínuo posicionamento de vítima e defesa em relação ao outro. As posturas tomadas por muitos dos integrantes adultos diante de uma situação de discriminação são colocadas como referenciais de conduta para as crianças e adolescentes comprometendo suas próprias reflexões.

CONCLUSÕES:
Ao buscar o resgate da identidade afro-descendente e concomitantemente a conscientização acerca dos problemas raciais enfrentados pelo afro-descendente brasileiro, o Grupo de Inculturação Raízes da Terra tem demonstrado uma despreocupação e/ou desinteresse em considerar as contribuições de outras culturas na formação da cultura brasileira, bem como tem supervalorizado o afro-descendente. Essa supervalorização pode, de acordo com Ferreira (2002), ser resultante da não elaboração de experiências conflitivas vivenciadas pelos mesmos, culminando dessa maneira numa resistência em relação ao “branco”, o que pode vir a comprometer a tentativa de um resgate dos vínculos entre brancos e negros e simultaneamente uma verdadeira aceitação das diferenças. Contudo, para o autor, tal fato compõe um processo de afirmação de identidade onde o afro-descendente inicialmente pode, a partir de suas vivências conflitivas direcionar sua revolta para o que ele considera como responsável por sua situação, podendo ou não transitar para um processo de aceitação do outro, tendo como ancoradouro as matrizes africanas, o que conduzirá dessa forma a construção de uma nova identidade.

Instituição de fomento: PROEX-UFSJ



Palavras-chave:  Identidade, Resistência, Afro-descendência

E-mail para contato: pattypsiche@hotmail.com