60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental

EDUCAÇÃO E CULTURA: SABERES TRADICIONAIS EM CÁCERES-MT COMO INSTRUMENTO DE MEDIAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Ronaldo Henrique Santana2, 1
Beleni Salete Grando1, 3

1. Universidade do Estado de Mato Grosso
2. Departemento de Ciências Biológicas
3. Profª. Dr.ª - Departamento de Educação Física - UNEMAT


INTRODUÇÃO:
A pesquisa visa estudar os saberes dos povos tradicionais que se constituem na relação com o ambiente, Pantanal e Cerrado, e como estes podem ser utilizados como instrumento de mediação numa educação ambiental na cidade de Cáceres-MT. O campo desta educação é a escola pública em Cáceres. Cada aluno trás consigo uma bagagem de conhecimentos vivenciados no dia a dia e o papel do educador é sistematizar estes conhecimentos possibilitando que cada um perceba a realidade de forma mais complexa, contribuindo com saberes que possam melhorar suas relações com a sociedade, o ambiente e a cultura local. Os povos tradicionais existentes em Cáceres são representados pelos cururueiros e suas famílias. Os cururueiros são nativos do pantanal, senhores em sua maioria com idade superior a 50 anos, que exercem atividades típicas de pantaneiros e pescadores. Estão intimamente relacionados ao ambiente local, pois conhecem/reconhecem a biodiversidade e a importância da mesma para manutenção da vida do homem. O objetivo do trabalho é verificar se os conhecimentos dos povos tradicionais sobre os ciclos naturais, método de apropriação sobre os recursos e sensibilidade ambiental, podem ser usados como elementos complementares numa prática ambiental direcionada às escolas da região.

METODOLOGIA:
Inicialmente recorremos ao registro etnográfico sobre as plantas e animais utilizados pelos sujeitos da pesquisa. Com entrevistas, observações e registros fono e fotográficos do ambiente onde residem os cururueiros, realizamos um mapeamento por setores em Cáceres-MT. Alguns sujeitos residem na periferia da cidade, junto ao rio Paraguai/Pantanal, outros adentro ao cerrado, assim como aqueles que se encontram atualmente em áreas consideradas urbanizadas. Destes registros, foi organizado um banco de dados sobre as plantas e animais que são utilizados medicinalmente pelos sujeitos para uma análise comparativa das propriedades terapêuticas, relacionando o saber científico e o saber tradicional. Também, foi analisado o método de apropriação e manejo destes recursos, para posterior análise se há divergências significativas nas práticas entre os sujeitos que residem próximos à ambientes de vegetação mais naturais e os de setores urbanos. O banco de dados sobre flora e fauna e as informações que recebemos foram sistematizados e serão aplicadas, numa perspectiva de pesquisa-ação a fim de construir um instrumento para a educação ambiental a ser aplicado numa escola pública da Educação Básica em Cáceres-MT.

RESULTADOS:
Os cururueiros estão distribuídos na cidade de forma desordenada. As práticas culturais e a sensibilidade ambiental são similares entre aqueles que residem em ambientes naturais e aqueles do centro da cidade. Essa sensibilidade ambiental deve-se à identificação com a natureza adquirida na adolescência cuja educação se deu numa paisagem natural. Cerca de 70% dos sujeitos são cacerenses, 17% poconeanos, 13% nasceram na Bolívia ou vieram de outras regiões do estado. Em todas as entrevistas, os senhores afirmam terem uma educação direcionada ao conhecimento do ambiente. Pode-se afirmar que a educação tradicional mediou o processo de educação ambiental e, a proposta desta pesquisa é dialogar com esta na prática pedagógica, a fim de os alunos diferenciem a perspectiva sobre o ambiente no qual também estão inseridos. As plantas e os animais manejados pelos cururueiros, assim como todo resultado do conhecimento local tradicional será recurso didático buscando construir com os alunos construir um modelo de preservação ambiental com a comunidade escolar, visto que as práticas de cuidar começam com o espaço doméstico/território. Com apoio da educação tradicional, pretendemos que a educação ambiental deixe de ser informação e torne-se parte da cultura do individuo.

CONCLUSÕES:
Pretendemos com o trabalho fazer com que os povos tradicionais e seus conhecimentos sobre a natureza sejam reconhecidos como fundamentais para aprimorar a compreensão do Pantanal e do Cerrado mato-grossense. A compreensão da dinâmica dos ciclos naturais faz parte da vida destas pessoas e sugere-se que há um elo de ligação entre a importância do meio ambiente para os cururueiros e as aprendizagem com crianças e adolescentes da rede de ensino local. Acreditamos com esta educação, que o ambiante seja considerado vital pela comunidade e alunos, em seu cotidano. Pretende-se possibilitar o novo a partir das referências já familiares sobre o ambiente. Com isso, buscamos fazer com que as crianças considerem os ensinamentos dados pelos povos tradicionais de Cáceres-MT, e ampliem seus saberes com o saber escolar, buscando novas práticas preventivas que superem as queimadas, desastres ambientais, desmatamentos e outros problemas ambientais que vem ocorrendo gradualmente de maior escala a cada ano. Esta região de fronteira com a Bolívia também se insere nesta problemática e, embora uma das principais atividades rentáveis da cidade esteja relacionada ao turismo, como o Festival Internacional de Pesca, não evidenciamos projetos direcionados a uma educação ambiental que valorize o conhecimento tradicional e a experiência dessa população no bioma pantanal e cerrado.

Instituição de fomento: FAPEMAT - Fundação de Amparo a pesquisa em Mato Grosso

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Educação, Cultura em Mato Grosso, Educação Ambiental

E-mail para contato: ronaldobio@gmail.com